Pesquisa do Movimento Vez & Voz dá a dimensão de quanto falta para a equidade de gênero no setor
Nelson Bortolin
Só 24% das mulheres que atuam no Transporte Rodoviário de Carga (TRC) estão
A pesquisa, feita pela internet em outubro e novembro do ano passado, foi apresentada no 4º Encontro Vez & Voz, realizado dia 27 de março em São Paulo. A Revista Carga Pesada conversou com a idealizadora do movimento, a presidente executiva do Setcesp, Ana Jarrouge, para repercutir os dados.
Segundo ela, o levantamento foi feito com 411 mulheres que atuam em empresas de todo o País. E é uma atualização de uma pesquisa feita em 2020. “A gente fez essa pesquisa porque queria entender o sentimento e a percepção das mulheres que já trabalhavam no nosso segmento. Então, quatro anos depois a gente resolveu fazer uma segunda edição para ver como evoluiu essa percepção”, explica.
O resultado é que elas estão menos otimistas. Em 2020, as mulheres que desejavam alcançar uma posição maior no setor de transporte eram 91%. Já, na atual pesquisa, são 82%. As que confiavam que isso aconteceria eram 77%. E, agora, são 73%. Em 2020, 79% se sentiam preparadas para avançar na carreira. Esse índice caiu para 70%.
A nova pesquisa apontou que a presença feminina na alta direção das empresas ainda é pequena. Somente 24% delas responderam que têm cargo acima de gerente.
Das 411, somente três são presidentes. E somente uma é vice-presidente. “A gente tem um setor ainda muito conservador e tem feito um trabalho sobre isso. Entendemos que nosso movimento não pode se restringir a falar só com mulheres. Eu fico feliz porque, no nosso último encontro, havia dois ou três homens participando. A gente precisa chamá-los para o debate.”
Alta qualificação profissional
Outro dado revelado no levantamento é de que só 6% das mulheres estão na área operacional. “É realmente um número muito pequeno. A gente tem muito o que fazer ainda.”
Jarrouge ressalta que as mulheres são bastante capacitadas: 40% tem curso superior, 23% fez pós-graduação e 20% fez MBA. “Elas querem crescer, apesar do índice de confiança delas ter caído. Talvez, as empresas não tenham dado tanta sinalização de que elas podem efetivamente crescer”, analisa.
O risco para o setor, segundo a presidente, é a perda de talentos. “Se elas não enxergarem possibilidades reais de crescimento, elas vão acabar partindo para outras oportunidades.”
42% não têm filhos
Jarrouge aponta outro dado relevante da pesquisa: 42% das mulheres que atuam no setor não têm filhos. “É uma realidade completamente diferente de 20 anos atrás.” Somente 6% têm três ou mais filhos.
“Acho que é missão do Vez & Voz este ano é lidar diretamente com os proprietários das empresas, com a alta liderança para a gente tratar desse assunto e conscientizá-los de que há mulheres preparadas e que estão esperando uma oportunidade”, declara.