Movimento se divide entre quem deseja manter manifestações e os que preferem “recuo estratégico”
Nelson Bortolin
A pedido do governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou o julgamento da constitucionalidade dos pisos mínimos de fretes marcado para quarta-feira (4). O ministro Luiz Fux atendeu ao apelo da Advocacia Geral das União (AGU). O órgão alega que o governo está buscando uma alternativa ao tabelamento junto aos caminhoneiros. Não há nova data para o julgamento.
Os caminhoneiros que estavam organizando protestos para o período de segunda-feira (2) a quarta-feira (4) se dividiram. “Se eles quiserem (os ministros), eles modem remarcar para qualquer dia. Na nossa região (São José dos Pinhais – PR), todo mundo vai parar”, garante Plínio Dias, presidente do sindicato da categoria local, o Sinditac.
A ideia, segundo ele, é convencer os motoristas a estacionarem nos postos de combustíveis a partir das 8 horas da manhã desta segunda-feira. “Não dá para continuar assim. A lei do piso mínimo de frete está vigente, mas ninguém cumpre”, reclama.
A última tabela, divulgada em junho, foi suspensa após protestos dos caminhoneiros porque trazia valores muito baixos. Voltaram a vigorar os valores determinados em janeiro, que eram melhores para a categoria. Mas, como não há fiscalização, a lei não está sendo cumprida.
“Para você ter ideia, um frete ruim de carga geral em truck daqui a São Paulo é R$ 1.300. Na última tabela, estava a R$ 1.048. Na carreta cinco eixos, um frete ruim (também de São José dos Pinhais a São Paulo) hoje são R$ 2.000. Na tabela, R$ 1.498”, explica. “Por isso, vamos parar até que o governo estabeleça valores que permitam a gente trabalhar.”
Já o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos (Sindicam) de São Paulo, Norival de Almeida Silva, defende a continuação das negociações com o governo. Ele é contra as paralisações. “Provavelmente, se o julgamento do Supremo não tivesse sido adiado, os ministros votariam pela inconstitucionalidade. O que iríamos fazer?”, questiona.
Silva afirma que o governo tem boa vontade para com os caminhoneiros e que está negociando alguns benefícios para a categoria com os embarcadores. “Temos algumas coisas sendo encaminhadas, como um compromisso dos embarcadores de definirem uma cota de contratação direta de autônomos e a implantação do DTE (Documento de Transporte Eletrônico)”, conta.
Carlos Alberto Dahmer, o Litt, presidente do Sindijuí (sindicato da categoria em Ijuí – RS), diz que o movimento perdeu o foco, que era o julgamento. Ele defendeu um “recuo estratégico”, sem paralisações – para os caminhoneiros decidirem os próximos passos.