Lauro Valdivia, da RLV Consultoria, sugere detalhamento maior do tipo de carga, distância e do veículo utilizado
Nelson Bortolin
Tabelamento de preços não costuma ser boa solução. Se fosse, o Plano Sarney teria sido um sucesso. Mas o transporte rodoviário de carga enfrenta tanta deficiência técnica no tocante a custos e formação de preços que o piso mínimo elaborado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) se mostra necessário. A opinião é do engenheiro de transporte e sócio da RLV Consultoria, de São Paulo, Lauro Valdivia. “Mas essa deve ser considerada uma solução provisória e paliativa”, avalia.
Valdivia diz que as atuais tabelas são pouco “realistas” e dá sugestões para melhorá-las. “Resumir a atividade de transporte a cinco grupos de cargas é assumir um desconhecimento total da complexidade do setor. Só para exemplificar, passa em algum momento pelo transporte absolutamente tudo que se produz e se vende neste país. Dá para aceitar que tudo caiba em cinco grupos de carga?”, questiona.
Outra falha, na opinião dele, é ter um valor por km/eixo que valha para todas as categorias de veículos existentes. “São custos completamente distintos. Basta fazer o cálculo para as principais categorias de caminhões – do toquinho ao britrem 7 leitos. Você vai ver que o custo km/eixo do toquinho é o dobro do bitrem”, conta.
O engenheiro critica também o fato da fórmula adotada pela ANTT igualar veículos diferentes pelo número de eixos. Por exemplo, o valor da tabela para uma determinada distância é o mesmo para um caminhão ¾, um toco e um cavalo mecânico 4×2 somente pelo fato de os três possuírem dois eixos. “Mas a média de consumo entre os três varia de 6 a 2,5 litros por km e o salário do motorista apresenta uma diferença de pelo menos 50%”, diz Valdivia.
De acordo com ele, a solução para esse problema dá um pouco mais de trabalho, mas é perfeitamente possível chegar até ela. “Basta a tabela exibir valores para os principais tipos de veículos: ¾, toco, truck 3 eixos, bi-truck 4 eixos, conjunto 5 eixos, conjunto 6 eixos e conjunto 7 eixos ou seguir até o conjunto de 9 eixos – lembrando que hoje a legislação permite composições de até 11 eixos”, relata.
Além disso, o engenheiro considera ser importante que a tabela também contemple os cavalos mecânicos de 2, 3, 3 traçado e 4 eixos, pois, em muitos segmentos contratam-se somente estes veículos para tracionar os semirreboques de propriedade da empresa. “Uma premissa que poderia ser melhor estudada é a questão do tempo de carga e descarga considerado pela tabela: são 5 horas para cada operação”, afirma.
O engenheiro imagina que esse período foi adotado devido à legislação que trata de horas paradas. “Mas este é o prazo máximo concedido para estas etapas. Talvez para a definição de um valor mínimo, este não seja o valor mais adequado até porque desestimula a otimização destas operações”.
Outro detalhe é que, no caso dos cavalos mecânicos, este tempo é medido em minutos, pois a operação só envolve o engate e o desengate do semirreboque.
“O período de utilização do veículo também é um assunto que merece ser discutido, pois, a idade média da frota brasileira de caminhões varia muito em função da categoria do veículo. Vai de 7 anos (caminhão trator especial – empresa) até 23 anos (caminhão simples – autônomo)”, diz o engenheiro. Trata-se de um item importante, de acordo com ele, porque influencia diretamente os custos de depreciação e remuneração de capital.
Valdivia também recomenda um outro simples aperfeiçoamento na tabela, que seria a adoção de 3 ou 4 casas decimais para o valor do km/eixo, evitando assim valores iguais para várias faixas de distância. “É importante também que a primeira faixa de distância seja quebrada em duas, criando-se a faixa de 1 a 50 km em virtude do valor nesta distância ser bem diferente – em torno de 60% maior do indicado para a faixa de 100 km”, considera.
Ele recomenta também seguir com a tabela até 6 mil quilômetros já que ela se propõe a tratar de viagens de ida e volta (retorno vazio). As distâncias entre São Paulo e Recife ou de Belém ou a Manaus são de 3 mil km, portanto, ida e volta dá 6 mil km. “Da forma que está, se utilizarmos o valor de 3 mil multiplicado por dois certamente teremos um resultado errado porque o tempo de carga e descarga será o dobro e consequentemente seu custo também”, diz Valdivia. Isso não é correto já que o veículo retornará vazio, portanto, sem ter havido um carregamento e uma descarga na volta.
“As alterações propostas são importantes porque um valor mínimo fora da realidade e sendo muito alto vai estimular transportadoras a trabalharem cada vez mais com frota própria e até instigar os embarcadores a comprarem caminhões para transportar suas cargas.”
Além dessas considerações, Valdivia acredita que o piso mínimo de frete não deveria ser aplicado para a remuneração de agregados – caminhoneiros que contam com contratos de longo prazo. Com a tabela, esses profissionais estariam perdendo trabalho.
As tabelas de frete estão sendo refeitas pela Esalq/USP, que foi contratada pela ANTT. As novas devem ser divulgadas até julho.