O Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) vive um ciclo de transformação que teve início nos anos 1990 e ainda não terminou. Nos próximos 10 ou 15 anos, entre 30 e 50 das 128 mil transportadoras hoje existentes no Brasil vão dominar o mercado. Neste processo de concentração do setor, muita gente fechará as portas.

As previsões são do geógrafo e jornalista Daniel Monteiro Huertas. Professor da Escola Superior Diplomática (ESD), de São Paulo, ele acaba de concluir na USP a tese de doutorado “Território e Circulação: Transporte Rodoviário de Carga”. No trabalho para o qual ele entrevistou 52 transportadores, entre empresários, caminhoneiros e representantes de entidades, Huertas analisa a circulação de mercadorias no País a partir do processo de globalização da economia iniciado nos anos 1990.

Ele lembra que os embarcadores começaram a ficar mais exigentes com o tempo de entrega, e que foi introduzido o conceito just in time, além do rastreamento das cargas. “O TRC sai daquele cenário romântico do caminhoneiro e da empresa familiar e passa a se profissionalizar”, afirma.

Mais recentemente, em 2007, o professor cita como marco a 11.442, que regulamentou o TRC. “Ela retirou a reserva que havia ao capital nacional neste setor. E o capital internacional começou a entrar no País, comprando empresas de transporte de portes médio e grande”, declara.

Huertas chama atenção para uma mudança na postura do transportador. “Historicamente, no Brasil, as transportadoras tiveram uma postura muito defensiva em relação aos embarcadores, que impõem seus preços. Com a profissionalização, os transportadores começam a falar de igual para igual”, defende.

Ele ressalta que, neste processo recente, a indústria transferiu os estoques para os transportadores e o varejo. “O caminhão virou estoque”, declara. “Percebi durante as entrevistas que o transportador demorou a perceber que assimilou esse custo da indústria”, afirma. Segundo o professor, o transportador está começando a colocar esse custo na planilha e cobrando do cliente.

Huertas ressalta que, embora o ex-presidente JK seja sempre lembrado como o pai do “rodoviarismo nacional”, Getúlio Vargas foi o primeiro a impulsionar o TRC.  “No Estado Novo, a cabotagem e a ferrovia ainda predominavam. Getúlio queria urbanizar e integrar o País e o transporte rodoviário veio nesse sentido”, afirma.

Foi Vargas quem criou o imposto sobre combustível para financiar rodovias e também o antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). E, em 1944, implantou o primeiro plano rodoviário do País.  

Confira entrevista do professor ao programa Fala Doutor, da UnivespTV.

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