A frota mais colorida do Brasil convidou a artista plástica Juliana Fochesato para grafitar o ‘Caminhão de Outro Mundo’; projeto foi exposto na Concessionária Scania em Itajaí (SC)
Leiliani de Castro
A jovem TransPoli está em ascensão no setor e nas redes sociais. Um dos motivos é a sua frota multicor. Dentre os cem caminhões, adquiridos ao longo de cinco anos, não se repete uma cor sequer, sendo algumas delas importadas, inclusive. A sua publicação mais recente caiu no gosto do público: o projeto especial do centésimo caminhão. Concebido pela artista plástica Juliana Fochesato, de Balneário Camboriú (SC), o “Caminhão de Outro Mundo” tem a junção de todas as cores e mais, um trabalho com neon que ganha outras características quando exposto à luz negra.
A “tela” escolhida foi um R 450, o qual foi exposto na sede da concessionária Scania em Itajaí (SC). Dois dias e meio de trabalho contemplaram todos os sprays, ícones e representações agregadas ao projeto. É o caso das imagens de Nossa Senhora Aparecida e do ET. A primeira, embasada na fé de Daniel Polidoro e Sinara Macoppi, gestores da TransPoli, e a segunda, trazida a partir de pesquisas sobre a vida nas estradas: a figura do alienígena é muito recorrente entre caminhoneiros e caminhoneiras. Assim, no cosmos do centésimo caminhão, habitam o respeito e o abraço a todas as crenças.
“Sempre gostei do que é diferente, o padrão nunca me satisfaz”, conta Daniel Polidoro à Revista Carga Pesada. Para abordar as cores de sua frota, ele remonta à infância, quando vivia na empresa do pai, a Polividros, primeira cliente da Transpoli: “Na empresa dos meus pais, convivo desde a minha infância. Me acostumei [a ir]em oficina mecânica, me acostumei em borracharia, me acostumei em cima de caminhão. E lá, a frota é toda branca. Eu não gosto disso. Eu gosto dos veículos coloridos, chamativos, que tenham essa pegada que demonstra um pouco do nosso carinho pelo negócio”. Além de apreciar a vivacidade da frota, o gestor encara esta escolha das cores como um gesto de carinho e cuidado com a sua transportadora.
A primeira mulher a grafitar um caminhão no Brasil
Juliana Fochesato é empresária e artista plástica autodidata. Desenhando desde criança, a arte sempre esteve presente em todos os seus projetos de vida, da maquiagem e micropigmentação à tatuagem e pintura de murais. “Uma coisa levou à outra e só os materiais e as telas mudaram”, conta. Um de seus quadros está na sala de Daniel Polidoro. Foi um presente de Sinara, sua esposa, e o despertar sobre quem seria a pessoa escolhida para tocar o projeto. Bastou um telefonema e Juliana aceitou de prontidão.
Inspirada por grandes murais como os de Kobra, em São Paulo, Fochesato encara a arte enquanto uma manifestação aquém da estética. Para ela, as artes devem fazer pensar e elevar o mero uso decorativo.
Entre outros trabalhos, um dos destaques é o pé da roda gigante de Balneário Camboriú. Assim como no caminhão, foram utilizadas tintas neon, que ganham outro aspecto quando estão sob a luz negra.
Além disso, seus quadros alcançaram outros patamares e pessoas, como o famoso comediante Whindersson Nunes e o camarim de Ana Maria Braga. Sua marca de roupas já vestiu artistas como Sorocaba, Vitor Kley, Gloria Groove, Alok e Caio Castro. Ela também faz um trabalho afetivo, construindo retratos sensíveis de seus clientes. Foi o caso deste quadro levado ao aniversário de Olívia, filha do chef Fogaça, do Masterchef. Acompanhe no vídeo:
Seu marido, também empresário, Filipe Galetto, parceiro em todas as empreitadas, do salão de beleza ao caminhão, é quem faz as fotos e vídeos de todos os projetos. Ele acompanhou e documentou o antes, durante e depois da customização do centésimo veículo da frota TransPoli.
Veja na galeria:
Em tom humorado, Juliana relata o pioneirismo no setor de transportes, outro ambiente tão masculino quanto o das artes: “o meu trabalho também é um universo bem masculino, o grafite, né? Então eu sei como é. Teve uma vez em que eu fiz customização de um restaurante em São Paulo que tem dez metros de altura, e todo o restaurante é do chão até o teto com grafite. Então me lembro que chegaram algumas pessoas e perguntaram quem era o rapaz que tinha feito (risos). Eu, por ter 1,55m de altura, sou muito pequena…Então por ser mulher, ser pequena, as pessoas não dão essa credibilidade, digamos assim”. Ela ainda acrescenta que esta oportunidade no setor a fez feliz, “por inspirar, por outras pessoas me mandarem mensagem, não só caminhoneiras, mas pessoas do mundo da arte também”.
O Caminhão de Outro Mundo é inédito no Brasil e, arriscamos dizer, no mundo. Aos poucos, o setor está equilibrando a presença de profissionais homens e mulheres. A artista também conta sobre as inúmeras caminhoneiras que falaram com ela: “Fiquei muito feliz. Quando postei esse projeto, muitas mulheres entraram em contato comigo. Aí que a gente vê a importância de tudo isso. Muitas mulheres caminhoneiras! Coisa que para mim era muito distante. E elas falando justamente desse universo, né. O quanto elas fazem parte e o quão é difícil mesmo. Falando de várias questões nas estradas, do quanto esse universo é bem masculino.”
Assim, as mulheres que já atuam no setor podem perceber duas coisas: que não estão sozinhas e que estão abrindo caminhos e oportunidades para que outras ocupem cargos não só administrativos, como também ser caminhoneiras, mecânicas, engenheiras, etc.
O grafite, técnica usada no centésimo caminhão da frota Transpoli, rendeu, como era de se esperar, elogios e críticas, estas últimas alinhadas ao gosto pessoal dos internautas e associadas ao pixo, outro tipo de expressão com sprays. O casal de gestores, entretanto, estava preparado para os impactos que este projeto inédito poderia causar. Daniel brinca: “quem não gostou do caminhão grafitado, tem uma infinidade de cores tão grande que alguma ele vai gostar. Vai do preto ao prata, ao branco, ao cinza, variantes do tom rosa, enfim, tem de tudo um pouco aí”, ri.
Assista à entrevista de Juliana para a Revista Carga Pesada e conheça mais trabalhos da artista:
Agradecemos ao canal Curiosidade Automotiva, que cedeu a foto em destaque nessa reportagem, e a Filipe Galetto, autor das demais imagens.
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