Nelson Bortolin

Transportadores de grãos de todo o País estão em compasso de espera para a colheita de mais uma superssafra de soja. A última estimativa divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que serão colhidas 196,7 milhões de toneladas de grãos nesta safra. Isso representa um crescimento de 5,2% em relação à anterior. O maior crescimento será na soja (10,8%), que representa quase metade da produção (90,3 milhões de toneladas), e cuja colheita é concentrada no início do ano.

Diante de números tão expressivos, os transportadores apostam num aumento de 10% no frete no pico da safra (fevereiro e março). É o caso de Santo Nicolau Bissoni, sócio diretor  da Transportadora Botuverá, com sede em Rondonópolis (MT). “Eu acredito nisso. Em fevereiro teremos um frete 10% maior que o do ano passado”, afirma.

Por enquanto, com pouquíssimas toneladas de soja colhidas e todos os caminhões do País disputando os grãos de Mato Grosso, cuja colheita acontece primeiro, os fretes estão bem baixos. Segundo Bissoni, são R$ 180 a tonelada de Rondonópolis a Santos. A estimativa é que chegue a R$ 240, no pico da safra, no mesmo trajeto.

Caminhoneiros esperam para descarregar no terminal da ALL em Alto Araguaia (fevereiro/13)

O empresário só lamenta as condições de infraestrutura do País, principalmente às do Centro-Oeste. “Infelizmente, a infraestrutura não acompanha o desenvolvimento do agronegócio, que se torna cada vez mais produtivo”, declara. Ele diz que as chuvas mal começaram em Mato Grosso e as estradas já estão esburacadas. “Além disso, estão muito mal sinalizadas. Teremos grandes dificuldades”, salienta.

Bissoni não acredita que a estreia do terminal da ALL em Rondonópolis nesta safra irá ajudar no escoamento dos grãos. “Foi só uma transferência de problema de Alto Araguaia para cá. Falta (a ALL) investir em mais vagões, em manutenção dos trilhos. Sem isso, nada muda”, opina. Ele conta que, “com apenas 1% ou 2%” da soja colhidos, Rondonópolis já está cheia de caminhões. E que a cidade vai enfrentar o caos em fevereiro. “Teremos muitos problemas nesse trecho de 25 quilômetros até o terminal”, estima.

No próximo mês, a Botuverá vai experimentar levar soja até o Pará, no porto fluvial de Miritituba, “Depois que a chuva acalmar, vamos experimentar esse trajeto. O problema é que ainda tem um trecho que não está asfaltado (na BR 163)”, aponta. Ele acredita que a saída para o Norte é necessária, mas não vai resolver o problema porque a produção brasileira cresce sempre mais que a infraestrutura.

Além de grãos, a Botuverá transporta plumas e óleo diesel, com uma frota própria de 180 caminhões e 300 agregados.

 Endividamento

O superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Maringá (Setcamar), Geasi Oliveira de Souza, também espera um aumento de 10% no frete no pico da nova safra na comparação com o mesmo período do ano passado. “Isso se tudo ocorrer como o previsto e faltar caminhão no mercado”, ressalva. Mas ele, que também é integrante da Câmara Temática de Agronegócio da NTC&Logística, acredita que o transporte de grãos vive um momento delicado. “As transportadoras estão endividadas como nunca, compraram muitos caminhões com recursos do BNDES. Se a safra não corresponder, o problema será grande”, afirma. Para Souza, as empresas de transporte não devem ficar dependentes apenas de um segmento da economia. “É preciso diversificar”, aconselha.

Em relação aos problemas de infraestrutura, ele conta que o escoamento de grãos por Paranaguá melhorou muito nos últimos anos, com a implantação da Operação Safra, sistema que exige o cadastramento do caminhão no porto antes do início da viagem. “Esse sistema está em processo de ajuste, mas não há mais aquelas filas enormes de caminhões esperando nas rodovias”, conta.