Nelson Bortolin

Revista Carga Pesada

 

Faz seis meses que o caminhoneiro catarinense José Roberto (nome fictício) não usa Arla 32 no caminhão Euro 5 da transportadora para a qual trabalha. “O frete não paga as despesas da firma, que mandou ‘castrar’ o caminhão”, disse ele em entrevista à Carga Pesada, no início de outubro, num posto de Cambé (PR). Castrar, no vocabulário do motorista, é fazer uma adulteração que permite que o caminhão funcione mesmo sem o aditivo.

Uns chamam de emulador, outros de chip paraguaio. O dispositivo utilizado para “enganar” o veículo custa cerca de R$ 1.600 e é vendido pela internet. Mas seu uso é ilegal.

A reportagem conversou com um vendedor de chip paraguaio. Ele entrega instalado, por R$ 1.600. Diz que grandes transportadoras estão entre seus clientes. E que faz a instalação em caminhões zero-quilômetro.

O aumento de usuários do chip pode explicar por que, segundo a assessoria de imprensa da Petrobras, o volume de vendas do Arla 32 vem crescendo menos do que a empresa esperava. “Ao olharmos a renovação da frota e as vendas de diesel, percebemos que há um distanciamento entre o consumo efetivo de Arla 32 e o consumo projetado, considerando o volume de vendas de diesel realizado pela Petrobras”, afirma nota enviada à Carga Pesada.

Gilberto Leal, físico e diretor da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), conta que já testou o chip paraguaio e o chama de “engana-trouxa”. “Ele vai dando instruções no painel e a última é para desligar determinado fusível. Ora, para isso não é preciso emulador, é só retirar o fusível.” De modo algum ele deseja incentivar essa prática. “É um crime ambiental gravíssimo e o Ibama já soltou alerta a respeito”, afirma.

De fato, o Ibama divulgou nota, já no ano passado, dizendo que burlar o Euro 5 é “ilícito ambiental, tanto pra quem executa a instalação quanto para o proprietário do veículo, passível de multa que pode chegar a R$ 50 milhões”.

Em entrevista à Carga Pesada, o coordenador de Controle de Resíduos e Emissões do Ibama, Paulo Macedo, diz que o uso do chip infringe a lei federal 8.723. “Estamos cientes do problema e já estamos fazendo um trabalho para enfrentá-lo, que no momento está na fase de inteligência”, referindo-se à fiscalização.

Gilberto Leal também chama a atenção para possíveis prejuízos ao caminhão. “Examinei um caso em que, com o chip, o hodômetro deixou de registrar a quilometragem correta que o carro roda. Com isso, você atrapalha a manutenção e pode fazer bobagem”, declara. Ele também não descarta que possam ocorrer danos irreversíveis ao catalisador, que custa cerca de 30% do valor do motor. E completa: “Nenhuma montadora irá reconhecer a garantia de quem instalar o chip”.

Gilberto Leal, da AEA: ‘chip paraguaio’ (foto acima) não passa de um engana-trouxa e seu uso é crime ambiental

O físico também chama a atenção para outro tipo de fraude que vem sendo observada no transporte de carga: substituir o Arla 32 por ureia agrícola ou outra substância. “O pessoal pega água normal e mistura com ureia agrícola. Quimicamente, é uma desgraça total. Já vi gente perdendo catalisador com apenas cinco mil quilômetros rodados devido a essa fraude”, alega. A água usada no Arla 32 é desmineralizada. Com água normal, o catalisador “começa a gerar reações secundárias sobre as quais não se tem controle nenhum”.

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