A mineira dona Lia tem conselhos a transmitir a outras mulheres de estradeiros
Luciano Alves Pereira
A mineira Maria Auxiliadora Costa era escriturária da estrada-de-ferro, e nesse trabalho provavelmente ficaria se não tivesse se casado, em 1952, com seu conterrâneo Vicente Costa, um pioneiro do transporte rodoviário de cargas. Aí, Lia veio de corpo e alma para o modal rodoviário…
Vicente se tornou caminhoneiro forçado. Seu pai, dono do veículo, andava doente, e ele, ainda sem idade, “tinha autorização do Exército para dirigir e buscava queijo, entregava querosene e sal nas fazendas”, conta Lia.
Antes de casar, Lia já cuidava de assuntos como emissões de conhecimento, comprovantes de entrega, recebimentos de frete etc. Começava sua vida de mulher de caminhoneiro. “Era um caminhão velho, de manícula (manivela): Vicente, quando não estava viajando, estava debaixo do veículo, consertando-o”, lembra. Mas Vicente prosperou, mudou-se para Belo Horizonte e tornou-se sócio importante da Minas-Goiás, histórica empresa de carga de Minas.
Lia teve sete filhos, sendo três homens. Na ausência do marido, não sentia tristeza porque “os meninos preenchiam minha vida”. Numa declaração de grande carga afetiva, diz que, quando estava grávida, “sentia a forte presença do Vicente em mim, comigo”.
Vicente morreu em maio de 1992, depois de ter sido presidente do Sindicato dos Transportadores de Minas (Setcemg) por três mandatos e fundado a federação do setor. Lia assumiu a presidência da Vic, que hoje é controlada por quatro de seus filhos. Ela, agora, só aparece por lá quando tem vontade, para conversar com os motoristas. “Eu quero ter entrosamento com a turma, Vicente foi um deles e eu acho a profissão muito sofrida”, comenta.
Solidária com a classe, Lia se vê como autêntica mulher do transporte. E passa a seguinte mensagem para as mulheres dos estradeiros: “Àquelas que se privam da presença dos companheiros, muito dias na vida: amem seus maridos. Façam tudo para que eles viajem tranquilos e possam superar os obstáculos da profissão. Saudade haverá… Não chorar, acho impossível. Mas que o reencontro, a volta, seja de grande prazer. O meu caminhoneiro, o meu marido, há muito não está entre nós. Comigo, porém, ficou o consolo de que eu o acompanhei sempre, na alegria e na tristeza”.