O aumento no preço do diesel foi o estopim para uma paralisação geral de caminhoneiros
Nelson Bortolin
O ano começou agitado para o transporte de carga. Teve de tudo nos dois primeiros meses: aumento de diesel, mobilização dos transportadores de grãos em Mato Grosso, greve de caminhoneiros, mudanças no PSI, nova Lei do Descanso (13.103)… Tudo junto e misturado.
No segundo dia de 2015, a Carga Pesada divulgou com exclusividade o balizador de frete, uma sugestão de tabela preparada por sindicatos de empresas e de autônomos e pela Associação dos Transportadores de Cargas do Mato Grosso (ATC), com valores mínimos para as principais rotas dos grãos.
O diretor executivo da ATC, Miguel Mendes, dizia que só o balizador protegeria o setor de uma quebradeira geral. “Muitas empresas não pouparam esforços para ampliar ou renovar frotas nos últimos anos, mas, as boas perspectivas da economia não se confirmaram. Alguns foram obrigados a se desfazer de caminhões e sair do setor.”
Mas o balizador não vingou. Como conta Mendes, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), entidade ligada às tradings, denunciou a ATC no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), alegando que tabelar fretes é crime contra a ordem econômica. No início do ano, segundo a ATC, os fretes estavam 25% abaixo dos de um ano atrás. Não pagavam nem o custo, dizia Mendes.
A insatisfação do setor cresceu demais no dia 19 de janeiro, quando o governo anunciou aumento de impostos dos combustíveis, elevando o preço do diesel em 15 centavos por litro. “Esse foi o estopim para os protestos, com bloqueios de estradas, que foram registrados não só em Mato Grosso, mas em vários outros Estados”, recorda. A greve foi mais forte nos Estados produtores de grãos.
Não se sabe ao certo quem estava por trás das manifestações nas estradas. Nenhuma entidade assumiu participação. Falou em nome dos caminhoneiros uma organização chamada Comando Nacional do Transporte, tendo à frente um homem chamado Ivar Schmidt. Em entrevista à revista Veja, ele afirmou que o movimento abominava “sindicato, associação, federação, confederação”.
O governo federal sentou para negociar com os representantes do setor. As entidades pediram, entre outras coisas, a sanção da nova Lei do Descanso, que prontamente foi atendida. O governo comprometeu-se também a não promover novos aumentos no diesel por seis meses. E a tentar prorrogar o financiamento de caminhões por 12 meses. Também ficou de criar um grupo de trabalho para discutir os fretes.