Marca chinesa começou a produzir e vender no Brasil duas linhas de caminhões anunciados como leves no peso e no preço, mas muito bem equipados 

NELSON BORTOLIN

A Foton Caminhões começou a vender duas novas famílias de caminhões, agora desenvolvidas no Brasil: o Minitruck, de 3,5 toneladas, e o Citytruck, de 10 toneladas. De abril a agosto, segundo a empresa, foram fabricados 72 veículos numa linha alugada da Agrale, em Caxias do Sul (RS). Para o futuro está prevista a construção de fábrica própria, em Guaíba (RS).

Os dois veículos da marca chinesa foram adaptados especialmente para o mercado brasileiro, segundo o gerente de engenharia de produtos da Foton, Eustáquio Sirolli. “Não viemos para ser mais um”, afirma. O Minitruck, informa o gerente, é o único de sua categoria que possui simultaneamente cabine basculante, eixo dianteiro com viga forjada em perfil “I” e quadro do chassi tipo escada. “Essas três características reforçam a denominação de Minitruck. São conceitos de caminhões maiores aplicados aos nossos comerciais leves de 3,5 toneladas”, explica.

Eustáquio Sirolli, gerente de
engenharia: várias características dos
veículos são únicas no segmento

O fato de a cabine bascular é uma vantagem importante, segundo Sirolli. “Na hora da manutenção e do reparo, o acesso aos componentes que estão abaixo da cabine é muito mais fácil, reduzindo o tempo de oficina.” Na boleia, Sirolli enumera várias características do Minitruck que são opcionais nos concorrentes: ar-condicionado, defletor de teto, rádio MP3 com entrada para USB, janelas e travas elétricas, acelerador de motor no lado esquerdo da cabine, câmbio ZF com janela para tomada de força. “Tudo isso vem de série”, informa.

O Citytruck 10-16 tem todas as características de cabine do Minitruck e mais alguma coisa. “É o único da categoria cujo quadro do chassi é totalmente aparafusado”, afirma o representante da Foton. “Na hora da manutenção, não é preciso usar lixadeira para tirar cabeça de rebite. Só a mão de obra para fazer um reparo num chassi que não é aparafusado custa uns R$ 8 mil”, alega. O veículo tem câmbio ZF de seis marchas com overdrive de série enquanto os concorrentes oferecem câmbio de cinco marchas, segundo Sirolli.

Ele ressalta ainda que o freio é inteiramente Knorr-Bremse. “Em outros veículos se vê um cilindro de uma marca, uma válvula de outra. Fazem um Frankenstein. Os componentes do nosso freio são de um fornecedor só.” A área de frenagem, de 2.700 centímetros quadrados, também é maior que a dos outros, diz ele. Sirolli afirma que os veículos têm capacidade técnica de carga superior à dos concorrentes. “O Minitruck 12 DT tem carga legal de 3,5 toneladas, mas a técnica é de 4. Na versão 14 ST, a capacidade legal é de 3,5 e a técnica de 4,2. Na versão 14 DT, são 3,5 toneladas de carga legal e 4,4 de carga técnica. São veículos muito robustos.”

O Citytruck tem Peso Bruto Total de 9.990 kg. “É o maior PBT com a menor tara, 3,5 mil quilos”, declara. Isso significa, de acordo com o gerente, que o veículo pode levar 500 quilos a mais que os concorrentes. “Para se ter uma ideia, são, por exemplo, 2.300 latas de 350 ml de uma bebida a mais.” Apesar desses diferenciais, Sirolli considera os preços dos veículos da Foton muito competitivos – de R$ 106,2 mil a R$ 132,5 mil, dependendo da configuração (veja quadro).

FOCO NO BRASIL – Questionado sobre o desafio de começar a produzir no Brasil num momento tão difícil para a economia, Eustáquio Sirolli afirma que “crise, em chinês, remete a oportunidade. Estamos tendo essa oportunidade de chegar agora a um mercado tão exigente com produtos diferenciados da concorrência.” Segundo ele, o Brasil e a América Latina são o foco da Foton.

Ele acredita que, em cinco anos, os caminhões médios e pesados da marca também estejam por aqui. A fábrica chinesa, conforme o gerente, “vendeu 450 mil caminhões no seu pior ano e 650 mil no melhor. O máximo que o mercado brasileiro chegou a vender foi 170 mil”. A montadora já conta com 23 concessionárias no País. Para Sirolli, a rede é mais que suficiente para atender as necessidades do momento. “Nós já estamos onde teríamos de estar agora. Não tem sentido, por exemplo, irmos já para o Centro-Oeste, porque lá a demanda é por pesados.