Nelson Bortolin

Revista Carga Pesada

 

 

Inspirada nas histórias contadas por primos caminhoneiros e também por colegas de trabalho do G10, maior grupo de transporte graneleiro do País, a jovem Mariana Kateivas decidiu fazer da profissão de caminhoneiro o tema do seu trabalho de conclusão de curso de jornalismo. Ela se formou nesta quinta-feira (4), na Unicesumar, em Maringá. 

Entre os dias 7 e 15 de julho do ano passado, Mariana viajou por rodovias do Paraná, Mato Grosso e Santa Catarina, quando registrou belíssimas imagens para o trabalho “(Vi)vendo na boleia: um fotodocumentário sobre a vida de caminhoneiro” (ver abaixo). A bordo do caminhão dirigido pela motorista Viviane Gonçalves, de 37 anos, ela conheceu a vida na estrada. Num outro caminhão, viajou Márcio Roque, 37 anos, marido de Viviane. “Saímos de Maringá e fomos carregar o caminhão, com milho, em Diamantino (MT). O descarregamento foi no porto de São Francisco do Sul (SC). Carregamos novamente, com adubo, no porto de Paranaguá”, conta a jovem que hoje ocupa o cargo de analista de comunicação do G10.

Os perigos do trânsito, a falta de estrutura para atender os caminhoneiros nas rodovias e a demora para carregamento e descarregamento foram os três aspectos que mais impressionaram Mariana durante a viagem. “Confesso que no trecho de Rondonópolis até Cuiabá fiquei com bastante medo”, conta ela se referindo às imprudências de motoristas, à falta de acostamento na pista e também aos buracos. “Vários caminhoneiros faziam ultrapassagens bastante arriscadas e corriam muito”, ressalta.

Mariana Kateivas

A jovem ficou indignada com as condições dos banheiros das paradas que visitou. “Alguns postos não tinham chuveiros para o motorista tomar banho, outros não tinham água quente e, em um dos banheiros que fomos, o banho frio custava cinco reais para cinco minutos cronometrados e o quente, oito reais para cinco minutos cronometrados”, conta. Em outro posto, ela descobriu que só podia usar o banheiro quem abastecesse pelo menos 200 litros de diesel. “Na hora de dormir também era complicado, pois era preciso achar um lugar seguro para passarmos a noite”, diz a jovem.

Apesar de trabalhar numa transportadora, a jornalista não imaginava que um carregamento ou descarregamento poderia demorar até uma semana. “Na ida, quando fomos carregar em Diamantino, ficamos dois dias em uma fazenda esperando o carregamento. Durante esse tempo não há o que fazer”, relata. Na hora de descarregar no porto, a espera foi de um dia.  “Mas lá foi pior, pois na fazenda você consegue ter uma noção de quando será chamado e no porto o motorista não consegue saber. Não sabe se dará tempo de ir tomar banho, preparar a comida ou tirar um cochilo. Como o porto funciona 24 horas, às vezes, chamam pelo motorista em algumas horas ou depois de um dia”, explica.

Em Paranaguá, a jovem ficou assustada com a presença dos usuários de drogas. “Desde quando chegamos à cidade, a Viviane pediu para que eu guardasse a câmera, pois o risco de assalto na cabine era grande. Ela também pediu para que eu ficasse atenta aos retrovisores, para ver se não vinha alguém que pudesse nos assaltar”, conta. A situação ficou tensa, segundo ela, na saída do porto já com o caminhão carregado. “Os dependentes químicos pediam dinheiro aos motoristas. Se não dessem, eles puxariam a bica debaixo do caminhão, para que a carga caísse”, ressalta.

Além da viagem, a jornalista fez uma pesquisa para seu trabalho. Um dos dados que chamaram sua atenção foi de que, com 17.590 ocorrências em 2013, o transporte rodoviário de carga foi o quinto segmento com mais acidentes de trabalho. Os mortos em acidentes de trânsito naquele ano, 43.452, também foram registrados no trabalho de Mariana.

Entre os dias 19 de fevereiro e 8 de março, a jornalista fará uma exposição das fotos tiradas nas estradas. Será no espaço cultural do Shopping Avenida Center, em Maringá. A entrada é gratuita. Em seu trabalho de conclusão de curso e na exposição, Mariana conta com o apoio do G10, da Secretaria de Turismo de Maringá e da Empresa Fotográfica Excelsior.