Empresa que nasceu para produzir engrenagens, há 99 anos, agora desenvolve equipamentos que permitem manobrar o caminhão estando fora dele
Luciano Alves Pereira
No mês de setembro, a alemã ZF Friedrichshafen AG completou 99 anos. Já na sua longínqua fundação, em 1915, nasceu para produzir engrenagens, além de caixas de câmbio para dirigíveis, ‘carruagens a motor’ e barcos. Atravessou duas guerras. Na última, de 1939/45, o bombardeio aliado deixou mais ferros retorcidos do que paredes em pé em sua fábrica e sede na cidade de Friedrichshafen. A ZF, cuja sigla vem do alemão zahnradfabrik (fábrica de engrenagens), teve o mérito de instalar no Brasil a sua primeira filial fora da Alemanha.
Veio pouco tempo depois da Mercedes-Benz e se instalou em São Caetano do Sul (SP), em 1959, para lhe fornecer vários componentes (coroa e pinhão) e agregados. Entre outros, a transmissão Ecosplit, sincronizada, cuja matriz de mudanças de marchas se fazia com a alavanca em posições de duplo H (caixa alta/baixa). O conjunto teve grande sucesso e equipou diversas marcas de caminhões pesados mundo afora. Calcula-se que tenham sido vendidas perto de dois milhões de unidades.
E sua gama de produtos não parou de crescer. É raro o caminhão ou ônibus que esteja rodando no planeta sem componentes ZF. Há pouco menos de dez anos, seu faturamento anual batia em US$ 13 bilhões, fruto do empenho de 57 mil funcionários, atuando em 125 estabelecimentos, distribuídos em 26 países. Tudo incrivelmente controlado pela Fundação Zeppelin NT, a qual conta com participação administrativa da Prefeitura Municipal de Friedrichshafen.
Recentemente, esta meio que estatal adquiriu o controle da americana TRW Automotive Holdings Corp., baseada em Livonia, estado do Michigan, EUA. Somadas as companhias, formam a maior fornecedora da indústria terminal automobilística do mundo. Suas vendas combinadas e atualizadas encostam em US$ 41 bilhões, através da participação de 138 mil colaboradores.
A TRW é uma importante fornecedora de tecnologias de segurança ativa e passiva, incluindo sistemas avançados de assistência ao condutor. É por esse estreito corredor – dizem os entendidos − que o mundo da automoção (ou mobilidade) deve enveredar como boiada estourada. Há tempos que a ZF navega por aí. Do seu portfólio constam atendimentos às cada vez maiores demandas por segurança e eficiência energética. Além do fascinante horizonte da direção autônoma. Que nada mais é do que a autopilotagem, conhecida também por controle preditivo do trem motor (PPC). Nos domínios da Volvo é a tal da I-See.
De forma muitíssimo resumida, um dispositivo de mapeamento em 3D se conjuga com o GPS. O primeiro define o perfil da via. Conhecidos seus pontos críticos, o gestor de frota programa o caminhão ou ônibus para a viagem. Terá de passar na curva do km tal a x de velocidade. Na segunda (e seguintes) viagem os dados do mapa em 3D, bem como ‘as condições do ir e vir’, estão na memória do computador de bordo, enquanto o GPS ‘sabe’ em que ponto da via lá vai o bruto. Não adianta acelerar, que a máquina não obedece. Haverá um indesejável e tirânico copiloto a bordo. Só lhe restará a autonomia do volante nas mãos.
Zé Leutério, o caminhoneiro do Córrego da Figuinha, em Minas, tomou conhecimento da novidade com certa descrença. No final, resumiu: “Vai ter que ter muito jeito”.
Caixa automatizada TraXon será fabricada no Brasil
Com um investimento de R$ 100 milhões, a ZF vai produzir na fábrica de Sorocaba (SP) a caixa automatizada TraXon, recentemente apresentada na Alemanha. O anúncio foi feito pelo presidente da empresa, Wilson Bricio, durante o IAA – Salão de Veículos Comerciais de Hannover, na Alemanha.
A previsão é de que a nova caixa entre em produção, com mais de 80% de componentes nacionais, no final de 2017. Enquanto isso, já a partir de janeiro de 2015, será nacionalizada a transmissão automatizada AS-Tronic, que a ZF importa da Alemanha e fornece para as montadoras brasileiras Ford, MAN/VW, Iveco e DAF. O presidente da ZF estima que em breve as caixas automatizadas equiparão de 70% a 80% dos veículos comerciais no Brasil.
DUPLA EMBREAGEM – A transmissão TraXon foi uma das atrações do Salão de Hannover por equipar o Innovation Truck da ZF, um assistente de manobras instalado em um protótipo de 25 metros com semirreboque e reboque e que pode ser manobrado remotamente através de um tablet, um sistema que pode evoluir para mais uma alternativa de direção autônoma.
A caixa automatizada TraXon, que estará disponível para os clientes europeus a partir de 2015, tem um conceito modular que apresenta um maior escalonamento das marchas e menor nível de ruído. Cerca de 100 quilos mais leve que uma transmissão convencional, por possuir carcaça em alumínio, ela é fornecida nas versões de 12 e 16 marchas. Dependendo da aplicação, pode não ser acionada apenas por uma embreagem seca, mas também por um módulo híbrido, módulo de dupla embreagem ou conversor de torque. No caso da dupla embreagem, outra novidade que chamou a atenção no Salão, é possível fazer a troca de marchas sem reduzir a força de tração.