Versão com dois eixos traçados apresenta maior durabilidade e afeta menos o pavimento

A volta do cavalo 6×2 para tracionar bitrens de 7 eixos é um retrocesso na visão do consultor em transporte de carga, Álvaro Menoncin (foto). Com experiência de 33 anos como engenheiro na Volvo, empresa na qual se aposentou em 2019, ele afirma que as montadoras e a maior parte dos frotistas estavam satisfeitos com a performance da configuração 6×4.

“(No 6×4) há uma distribuição de carga bem melhor. Na ponta do lápis, o pessoal tinha percebido que valia a pena pagar um custo inicial mais caro pelo veículo”, afirma. A durabilidade do conjunto na versão 6×4 é maior, de acordo com ele.

A permissão para a volta dos cavalos 6×2 nos bitrens, proibida havia cerca de 10 anos, foi dada pela resolução 882 e a deliberação 250, publicadas pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) nos últimos dias de 2021. Também foi autorizada uma nova combinação de veículo de carga (CVC), a carreta de 4 eixos (sendo um deles isolado), puxada por um cavalo 6×2, com peso bruto total combinado (PBTC) de 58,5 toneladas, uma tonelada e meia maior que a do bitrem.

Além de apresentar um custo de manutenção mais alto, na visão do engenheiro, a versão 6×2 leva a um desgaste maior do pavimento. “Com apenas um eixo tracionado para muita carga, o veículo provoca o enrugamento do asfalto.”

De acordo com o consultor, países com infraestrutura rodoviária melhor que a brasileira, como Estados Unidos e Austrália, utilizam o 6×4. “No meu entendimento técnico, a volta do 6×2 é um retrocesso.”
Em relação à segurança no trânsito, Menoncin não vê muita diferença entre as duas configurações. Mas há um detalhe: o 6×2 vazio ou com pouca carga costuma trafegar com um dos eixos do cavalo levantado. Já o 6×4 está sempre com os eixos do cavalo no pavimento, o que confere mais estabilidade ao conjunto.

Quanto à carreta de 4 eixos (foto baixo), Álvaro Menoncin diz se tratar de uma “alternativa que o empresariado brasileiro está buscando” diante das dificuldades econômicas. Mas, apesar da vantagem de carregar mais carga com apenas uma carreta, a novidade tem suas limitações. “As condições operacionais desse veículo com quarto eixos não são tão boas como as do bitrem, que ganha em manobrabilidade e visibilidade. Além disso, (a nova configuração) vai trazer um desgaste maior de pneus.”

Para ele, a carreta de quatro eixos será uma opção para operações que não exigem tanta manobrabilidade em pontos de carga e descarga.

O engenheiro presidente da Associação Brasileira de Logística Pesada (Logipesa), João Batista Dominici, também é crítico das mudanças trazidas pela nova legislação. Clique aqui para ler mais.