Nelson Bortolin

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) realiza nesta quarta-feira (27)  em Brasilia uma audiência pública para tratar de mudanças na resolução 3.658, que estabelece a forma de pagamento dos caminhoneiros autônomos. Será discutida uma minuta apresenta pela agência. Entre as mudanças, a ANTT sugere alterar o artigo 3º da resolução, deixando claro que o equiparado ao autônomo é a Empresa de Transporte Rodoviário de Carga (ETC) ou a Cooperativa de Transporte de Carga (CTC) que tiver três veículos AUTOMOTORES. A inclusão da palavra “automotores” serve para sanar dúvidas levantadas pelos transportadores. Alguns acham que os implementos rodoviários entram nesta conta.

A minuta também deixa claro, no artigo 4º da resolução, que o autônomo pode receber diretamente em sua conta bancária, seja corrente ou poupança.

A ANTT também propõe retirar do artigo 4º, inciso II, a palavra “eletrônico”. No texto atual está escrito que o pagamento do autônomo poderá ser feito por outros meios de pagamento eletrônico habilitados pela ANTT. Com a mudança proposta, fica aberta a possibilidade de a agência instituir uma outra forma de pagamento que não seja pelos cartões. Na resolução está escrito conta de depósito e há dúvidas sobre a legalidade do pagamento em poupança.

A minuta inclui um parágrafo 4º no artigo 6º dizendo que a ANTT poderá, “justificadamente, facultar o preenchimento de alguns dos dados da operação de transporte” no Código Identificador da Operação de Transporte (Ciot). Isso atende ao pedido dos contratantes que afirmam ser impraticável, em caso de múltiplas entregas, preencher todos os dados exigidos pela resolução, como nome, CPF, ou CNPJ do destinatário.

Também deixa claro no artigo 8º, ao dizer que cabe ao contratante escolher o meio de pagamento, mas desde que não haja ônus para o autônomo.

No artigo 24º, a minuta inclui dois novos direitos dos autônomos perante as administradoras de cartão. Diz que não poderá ser cobrado dele a impressão de um extrato mensal da respectiva movimentação. E também não pode ser cobrada a transferências para a conta bancária do autônomo, seja em que banco for, dos valores recebidos por meio do cartão.

AUDIÊNCIA – A audiência pública será nesta quarta-feira, das 14 horas às 17h30, no auditório do Edifício Sede da ANTT, em Brasília. O número de participantes será limitado à capacidade do local (350 pessoas).

Já as contribuições por escrito poderão ser encaminhadas até às 18 horas do dia 11 de abril de 2013 por meio de Formulário de Envio de Contribuições, disponível no site www.antt.gov.br . O formulário deve ser impresso, e enviado por Correio para o endereço: ANTT, Trecho 3, Lote 10. Polo 8 do Projeto Orla, Brasília – DF, CEP: 70.200-003.

Clique aqui para ver a íntegra da resolução 3.658.

E na palavra minuta para conhecer as mudanças propostas.

 

A realidade das estradas                                                                                                                                      

O autônomo Manoel Fonseca de Menezes, 62 anos, de São Joaquim de Bicas troca
carta-frete em posto de Rondonópolis (MT): “disseram que ia acabar, mas não acabou”

 

Embora a carta-frete tenha sido expressamente proibida pela Lei 12.249, de junho de 2010, e o pagamento do autônomo regulamentado pela resolução 3.658 da ANTT, de abril de 2011, nas estradas a realidade é bem outra. No mundo real, a carta-frete continua firme e forte.

A maioria dos caminhoneiros que transportam a safra em Mato Grosso neste ano recebe seus fretes da maneira antiga, como constatou a reportagem em Rondonópolis, dia 21 de fevereiro. “A cara-frete ainda não acabou. Eu ainda recebo. Eles pagam por baixo dos panos. Prefiro o cartão que é mais seguro”, afirmou o caminhoneiro Volnei Menin, de Estação (RS).

Segundo ele, a carta-frete é um problema. “Você fica amarrado no posto. Tem de comprar o que eles querem nos postos. No cartão, eu abasteço em qualquer lugar e pago o preço à vista.  Hoje com a carta-frete eu pago R$ 2,35 o litro do diesel e, no cartão, R$ 2,15, R$ 2,18. No final do mês, a diferença quase tira a prestação do caminhão”, conta.

Fabrício Pedro Roman, autônomo de Nova Londrina (PR), diz que a maioria das transportadoras paga com carta-frete. “Eu desço muito para Cambé, carregando para a transportadora 1.500. É só carta-frete.  Eu acho uma encheção de saco. O posto tem de ter que giro muito grande. Eu estou com uma carta-frete que o adiantamento para trocar é de R$ 8 mil”, afirma.

Em resposta a questionamento da Carga Pesada, a assessoria da ANTT disse que os agentes de fiscalização “têm intensificado as operações com foco no Pagamento Eletrônico de Frete, inclusive dentro das dependências das empresas de transporte rodoviário de carga” em todo o País.

Nas primeiras fiscalizações, de acordo com o órgão, cerca de 90% dos transportadores abordados sofreram autuações. “Este percentual vem caindo, demonstrando o cumprimento cada vez maior da legislação”, diz a nota da assessoria.