Via Dutra congestionada na greve de 1999



As condições de trabalho do caminhoneiro e do transportador de cargas no Brasil têm se deteriorado ao longo dos anos. Mais horas de trabalho, mais riscos no trânsito, menos segurança contra roubos e furtos, fretes cada vez mais achatados.

Esta situação, por si só, é suficiente para justificar uma greve geral dos caminhoneiros. No entanto, a pauta de reivindicações dos que estão convocando o movimento do próximo dia 25 não trata de melhorias para essa situação.

A volta da carta-frete não vai melhorar a vida do caminhoneiro. É um instrumento ultrapassado de pagamento, uma fonte de exploração do trabalho do motorista. O adiamento do controle da jornada vai trazer benefícios para quem? Não para o caminhoneiro, muito pelo contrário.

Quando o caminhoneiro roda 12, 14 ou 18 horas seguidas, está fazendo sozinho o trabalho de dois ou três funcionários (no caso dos motoristas) e de dois ou três caminhões (no caso dos autônomos e das empresas). Com o excesso de peso acontece o mesmo: quanto mais carga leva um caminhão, comprometendo o pavimento e a segurança da coletividade de viajantes, menos caminhões (e caminhoneiros) terão trabalho.

Com o passar do tempo, se o próprio caminhoneiro passar a exigir respeito à lei da balança e à lei do descanso, ele obrigará os outros envolvidos na operação de transporte (embarcadores, principalmente) a respeitá-lo como profissional e ser humano. E obterá um ganho mais justo.

As novas leis, embora já em vigor, devem ser discutidas – mas não revogadas. O caminhoneiro precisa de lugares seguros, nas estradas, para parar e descansar. Isso não está resolvido, é um problema que exige solução urgente. Outro efeito inevitável das mudanças é que os embarcadores devem ser chamados à responsabilidade. O transportador, seja empresa ou caminhoneiro, não pode arcar sozinho com o custo dos avanços que trarão benefícios à sociedade como um todo.

Sim, categorias profissionais sofridas como a dos caminhoneiros sempre terão bons motivos para protestar contra a situação em que vivem e para reivindicar melhorias. Mas é preciso andar para a frente e não pedir “liberdade” para a manutenção de práticas comerciais do tempo do desbravamento rodoviário do interior do Brasil.

De nossa parte, como publicação voltada para o setor, cabe-nos apresentar todas as visões de todos os problemas que chegam ao nosso conhecimento. Mas não podemos deixar de assumir uma posição clara em favor dos avanços necessários e que já chegam tarde. É o que estamos fazendo.