Fonte: Folha de Londrina

(27/07/12) – Uma manifestação realizada pela Associação dos Transportadores de Sertanópolis (ATS) conseguiu reunir cerca de 200 caminhões nos acostamentos da PR-323 na tarde de ontem – terceiro dia da greve nacional dos caminhoneiros. O protesto foi liderado por Eli Zacarias, dono de uma pequena transportadora filiada à ATS.

Os caminhoneiros que não paravam espontaneamente ao final das filas nos dois lados da estrada eram abordados pelos representantes da ATS na altura do trevo de Sertanópolis e encaminhados para o estacionamento de um posto de combustível. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) acompanhou o protesto e não houve relato de violência. Apesar disso, a maioria dos caminhoneiros com quem a FOLHA conversou disse que parou, com medo de levar pedradas.

”As pessoas estão colaborando. A gente pede para parar e eles param”, afirmou Zacarias. Empregando cinco caminhoneiros, ele diz que não terá como manter seu negócio se tiver de cumprir a lei federal 12.619. Sancionada em maio pela presidente Dilma Rousseff, a lei obriga motoristas empregados e autônomos a descansarem meia hora a cada cinco horas ao volante e 11 horas ininterruptas entre dois dias de trabalho.

Para os motoristas empregados, a lei garantiu aquilo que há muito tempo já é direito dos demais trabalhadores: jornada diária de 8 horas (podendo fazer mais duas extras) e jornada semanal de 44 horas.

A greve organizada pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) quer que a lei, que já está em vigor, seja fiscalizada somente daqui a um ano. A alegação é de que não há locais adequados para o descanso dos motoristas nas estradas.

Zacarias, no entanto, não quer saber da lei. ”Não temos como trabalhar com essa carga horária. Precisaria de contratar dois motoristas por caminhão”, disse o empresário. Para ele, o razoável é que os caminhoneiros possam dirigir 13 horas por dia.

”Esta é uma greve para patrão. Eles não querem que a gente descanse todo esse tempo. A lei é ótima. Eu só parei aqui com medo de ser apedrejado”, disse o caminhoneiro empregado Sérgio Andrade, de São José dos Campos (SP). Antes da lei, ele dirigia em média 16 horas por dia.

Outro empregado que não concorda com a greve, mas parou com medo de sofrer represária, é Jorge Nalepa, de Ponta Grossa. ”Fui orientado (pelo empregador) a não tentar seguir viagem se encontrasse um piquete”, contou. Para ele, a lei do descanso é ”muito boa”, mas o governo deveria ter criado os pontos de apoio antes de sancioná-la.

O empregado de Uberaba, Osni Silva, disse que parou no protesto porque se sentiu forçado, mas concorda que a lei é ”impossível” de ser cumprida. ”Eu dirijo de 12 a 15 horas por dia, recebo por comissão. Nós precisamos trabalhar pelo menos 12 horas por dia”, reclamou.

Ontem também foi realizado piquete e manifestação na PR-090, em Bela Vista do Paraíso.