Nelson Bortolin
Contrariando sindicatos, associações e a confederação da categoria, o Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) está convocando uma greve geral para o Dia de São Cristóvão (25 de julho). Liderado por Nélio Botelho, o movimento reivindica, entre outras coisas, a volta da carta-frete e a prorrogação por um ano dos efeitos da lei 12.619, que regulamenta a profissão de motorista.
Botelho diz que não é por vontade própria. “Eu jurei nunca mais me meter nesta história de greve, mas várias empresas, cooperativas e empregados vieram pedir para eu liderar esse movimento”, afirma ele.
Para o coordenador do MUBC, a resolução 3.658 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que determinou o pagamento eletrônico de caminhoneiros autônomos, “comprometeu totalmente” a atividade. “A profissão está condenada. O motorista não pode mais receber em dinheiro. Isso é absurdo”, critica. Segundo Botelho, não há nada para negociar. “Tem que revogar tudo”, declara.
Quanto à lei 12.619, que estabelece tempo de descanso para os motoristas autônomos e empregados, ele diz que seus efeitos precisam ser prorrogados por um ano uma vez que não há estacionamento para os profissionais descansarem nas rodovias.
Claudinei Pelegrini, presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), discorda. “Precisamos fazer algumas alterações na resolução 3.658 e a ANTT está aberta para isso”, afirma. “O cartão-frete é um avanço, a famigerada carta-frete escravizava o caminhoneiro que tinha de pagar ágil para abastecer”, complementa.
Ele afirma que lideranças de várias entidades, incluindo a Abcam, estão em constantes negociações com a agência para aprimorar a legislação. “A lei do vale-pedágio foi revista quatro ou cinco vezes. Não dá para ter a ilusão de que a resolução que acaba com a carta-frete irá resolver de imediato todos os problemas”, considera.
Pelegrini discorda também da prorrogação do prazo das novas regras de descanso para a categoria. “A gente via motorista fazendo 72 horas sem dormir. Essa lei é importante porque protege vidas”, salienta.
O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de São Paulo (Sindicam-SP), Norival Almeida, também é contra a greve do dia 25. “Vamos fazer um panfleto explicando nossa posição. Não queremos a volta da carta-frete. Estamos fazendo uma série de negociações com a ANTT. Precisamos manter o diálogo”, afirma.
Desde a semana passada, a Carga Pesada tenta conversar sobre o assunto com o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, mas ele não retorna as ligações. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, ele também afirmou ser contrário à greve.