Conhecido por falar abertamente o que pensa, ele critica a resolução da ANTT que proibiu a carta-frete e obriga o pagamento de caminhoneiros autônomos apenas por depósito bancário ou via cartões de administradoras autorizadas.
Também dispara contra a lei 12.619 (veja reportagem), que definiu o tempo de descanso obrigatório do motorista. “O motorista quer trabalhar mais para ganhar mais e não pode. Isso é uma inversão de valores. O Estado está interferindo demais na vida do brasileiro.” Confira as opiniões que o empresário expressou em entrevista à Carga Pesada:
OPERAR COM CARTÃO É CARO
Na opinião de Locatelli, “é inviável” vender diesel com cartão no Brasil. “As administradoras cobram taxas de 2,5% a 3% das empresas. Para o consumidor, isso vai representar 6 centavos a mais por litro. É muito.” O único cartão que seus postos aceitam é o Repom, parceiro antigo que cobra só 0,5%.
Ele acha que não perde clientes por causa disso. “Sou o maior vendedor de diesel do Brasil. Dos meus nove postos, cinco ou seis estão entre os 30 maiores do País. Não me preocupo.” Em seus postos, existem carros disponíveis para o cliente ir sacar dinheiro no banco, caso ele só tenha cartão para pagar pelo combustível.
Quanto à carta-frete, agora proibida, o empresário diz que nunca cobrou mais que o preço à vista para trocar carta-frete em sua rede. Admite, no entanto, que existem postos que exploram os motoristas. “Existem postos desonestos, assim como existem caminhoneiros desonestos…” Mas, para Locatelli, a ANTT se apegou “ao detalhe de alguns donos de postos que cobravam mais”, e escolheu o remédio errado.
Locatelli considera injusto o Estado determinar a forma de pagamento de fretes dos motoristas. “Qualquer um pode receber pelo seu trabalho em cheque ou duplicata, mas o motorista não pode”, reclama.
Segundo o empresário, o novo sistema só é bom para bancos e administradoras de cartões. “O governo pegou R$ 70 bilhões (valor estimado dos fretes por ano no País) e deu para os bancos”, ressalta.
O CAMINHONEIRO É UM AMIGO
O empresário, que está há 43 anos no ramo, se considera “um amigo” do caminhoneiro. “Eu falo a linguagem do motorista. Todo dia ganho um vinho ou outro presente de algum cliente”, declara. Ele diz que costuma ir “até a casa” dos clientes. “Eu vou a Garibaldi, no Rio Grande do Sul, vou a Astorga, no Paraná, vou a Santa Catarina. Converso com o caminhoneiro de igual para igual.” Em seus nove postos, na terceira quarta-feira do mês tem churrasco de graça para os clientes nos nove postos.
TER POSTO RENDE POUCO
Aldo Locatelli diz que a revenda de combustíveis deixou de ser o bom negócio de antigamente. “Ganhamos cada vez menos.” A margem de lucro anda entre 7% e 8%, segundo ele. Mas não se queixa do volume de vendas.
O empresário explica que sua opção pela bandeira branca permite vender diesel mais barato. “Só compro da Shell, Petrobrás, Ipiranga, mas se tiver a bandeira deles, vão me cobrar alguns centavos mais caro. Eu economizo esses centavos e repasso para o cliente”, afirma.
Quanto ao novo diesel, o S50, menos poluente, Locatelli o considera “uma revolução”. “O problema é que está muito caro”, acrescenta, embora diga que já vem conseguindo comprar “por um bom preço”. “Já tenho o S50 em Cubatão, Curitiba e Paranaguá. Em Mato Grosso, só tenho em alguns postos. Estou colocando em Rondonópolis”, explica.
LEI DO DESCANSO É EXAGERO
Sobre a lei 12.619, que obriga o motorista a parar meia hora a cada quatro horas ao volante e a descansar 11 horas entre dois dias, ele se mostra radicalmente contra. “O Estado está exagerando ao determinar quanto tempo o caminhoneiro pode trabalhar”, diz.
Locatelli defende “a educação” para prevenir acidentes e fala coisas do tipo: “Só porque alguns matam com facas, deveríamos proibir a fabricação de facas?”; ou “vão ter de proibir a venda de caminhões, pois são os caminhões que matam”.
Para ele, “se o motorista bebe, mas dirige certinho, não há problema algum. Mas se cometer um ilícito, prisão para ele”.
O empresário acha que, com essa lei, os honestos e conscientes, que sabem dosar as energias, são penalizados. “O honesto quer trabalhar mais e ganhar mais, mas não pode. Eu sou motorista, comprei caminhão, paguei certinho e sou obrigado a dirigir no máximo oito horas? Não é justo. Por que não proíbem os automóveis?”
Apesar de ser contrário à regulamentação, ele está preparado para ampliar sua área de estacionamento em Cuiabá, para oferecer descanso. “Tenho o equivalente a seis campos de futebol comprados para colocar caminhão”, afirma. E calcula que, para o negócio ser rentável, terá de cobrar cerca de R$ 50 de pernoite. É mais do que ele diz que ganha, em média, por veículo abastecido: R$ 30.