Alguns rodoveteranos celebram uma das mais importantes datas da história rodoviária brasileira: a inauguração, há 60 anos, da BR-3, atual BR-040. Originalmente entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Mas o trecho pavimentado e festejado ligou Juiz de Fora a BH
LUCIANO ALVES PEREIRA
O asfalto da BR-3 foi inaugurado em 1º de fevereiro de 1957 pelo presidente Juscelino Kubitschek. A placa alusiva foi colocada na pracinha ajardinada com vista para o portentoso Viaduto das Almas, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. Foi um dia de gala: ali mesmo foi servido um almoço à comitiva do presidente. Da pracinha restam hoje apenas escombros. Já o belo Viaduto das Almas logo se revelaria traiçoeiro, um ponto crítico para o trânsito, com o seu traçado em curva. O viaduto foi fazendo vítimas e mais vítimas até que, em 1973, o então ministro dos Transportes, Mário Andreazza, decidiu tomar uma providência: mudou seu nome para Viaduto Vila Rica. É claro que não adiantou! O das Almas continuou matando gente – alguns falam num total de mais de 200 pessoas – até 2010, quando foi desativado, com a inauguração de uma variante, no atual km 593. Mas ele permanece como um dos símbolos históricos do rodoviarismo nacional, o marco inicial da Era JK.
Para asfaltar a BR-3, Juscelino contou com os recursos federais do Fundo Rodoviário Nacional, criado pela Lei Maurício Juppert no final de 1945. O fundo se abastecia do imposto sobre derivados de petróleo, mas foi extinto pelo Congresso Constituinte de 1988. Sem sua verba carimbada, o governo cortou recursos para investimentos em rodovias e criaram-se leis para transferir sua construção e manutenção para a iniciativa privada, mediante pedágio. Um outro tipo de buraco… A aniversariante BR-040, por exemplo, após 60 anos, ainda tem vários trechos originais, do tempo da BR-3: pista simples ou multivias (sem mureta divisória), pontes/viadutos estreitos de sete metros, curvas fechadas, pontos de interseção mortais, saturação nos fluxos.
Desde abril de 2014, a concessionária Via 040 é responsável pelas melhorias da BR-040. Pertence ao grupo Invepar, que tem o compromisso de duplicar 557,2 quilômetros em cinco anos. Está muito longe disso. Só duplicou 73 quilômetros em pedaços de boa topografia e mínimas desapropriações após três anos, mas cobra pedágio em 11 praças. À época da concessão, em 2013, todos sabiam que a prioridade teria de ser o lote entre o trevo de Alphaville e a chegada Sul de Conselheiro Lafaiete. Mas ali a solução ficará cara. Por enquanto ocorreram retoques, como o reforço das placas. Colocaram uma na ponte em curva sobre o rio Maranhão, no km 615: “Em breve, neste local, obras de duplicação da ponte”. Mas nem as placas estão mais lá.
Diante de cobranças, a Via 040 alega que a continuidade das obras depende da emissão de licenças ambientais, e que, conforme previsto no contrato de concessão, a obtenção dessas autorizações é um encargo da Empresa de Planejamento e Logística, órgão federal. Pelo jeito, os atrasos vão longe, e a troca de governo (Dilma por Temer) ajudará a justificar a demora. Enquanto espera, a sessentona BR-3 não rejuvenesce.