No embalo da notícia do lançamento do primeiro caminhão autônomo brasileiro, apresentado em uma usina de cana no Norte do Paraná, cabe perguntar: afinal, como os caminhoneiros veem o futuro da profissão?
Para o motorista Wellington Torre, o Zé Cueca, de Contagem (MG), os caminhões autônomos são uma realidade que não pode ser ignorada. Mas trata-se de um projeto que vai demorar muitos anos para circular pelas estradas brasileiras. “As nossas rodovias não comportam esses caminhões devido a sua criticidade, exceto algumas que poderão receber melhorias para atender a tecnologia”, afirma. Na agricultura, segundo ele, é outra conversa. “Os caminhões vão funcionar bem em locais onde se pode planejar o trajeto e seguir uma rotina definida pelas ferramentas tecnológicas.” Mas, nem por isso, o caminhoneiro deve se acomodar. “Vejo que será muito importante a busca de capacitação para os novos desafios. Motorista com pouco conhecimento e baixa escolaridade certamente não fi cará no mercado.”

O baiano Fernando Pitanga
O baiano Fernando Pitanga, de Salvador, vencedor em 2010 do concurso Melhor Motorista de Caminhão do Brasil, da Scania, concorda. “A curto e médio prazos, a tecnologia não irá afetar significativamente a profissão, por falta de regulamentação para o uso de caminhões autônomos, por exemplo. Além disso, com a precariedade das nossas rodovias, vamos demorar muito para nos prepararmos para essa nova tecnologia.”
Responsável pela frota da Amafil, indústria processadora de mandioca de Cianorte (PR), Lediane Auzenir da Silva diz que o futuro do motorista vai muito além de saber dirigir. “Precisam estar conectados no novo mundo do transporte. Precisam dominar a tecnologia dos veículos modernos. Conhecimento é tudo que o motorista precisa para não ficar de fora do mercado.” Ela sabe muito bem do que está falando, porque costuma entregar mercadoria aos clientes dirigindo bitrens. “Uma boa comunicação interpessoal também é importante para quem quer continuar motorista no futuro.”

O gaúcho Willian Banzer
Já para o autônomo Wilian Banzer, de Lagoa Vermelha (RS), o futuro da profissão já chegou. “Não basta mais a gente olhar os pneus, entrar no caminhão, checar o combustível, regular o banco e acelerar. Temos de correr atrás para dominar a tecnologia do caminhão”, declara. Também tem de acompanhar tudo no celular, usar o computador. “Quem ficar para trás, infelizmente, vai sumir do mercado.” O gaúcho ressalta que o caminhoneiro não tem como alegar falta de tempo para não se atualizar. “Hoje, temos tudo na internet. Podemos participar de cursos on-line, baixar aplicativos de frete, conhecer métodos de carregamento e descarregamento. Se ficar no arroz com feijão, o motorista não vai permanecer na profissão.”

O maranhense Paulo Roberto Monteiro Rodrigues
Para o maranhense Paulo Roberto Monteiro Rodrigues, 41 anos, de São Luís, o futuro também já começou. Ele acaba de ganhar um extrapesado Mercedes-Benz Actros 2546 zero-quilômetro ao vencer o concurso “Caminhoneiro do Ano”, da Caravana Siga Bem Caminhoneiro. Ele deixou o emprego numa transportadora e começa nova vida como agregado no setor de combustível. “Não creio que a profissão vai acabar. Mas teremos de estudar mais, nos qualificar para dominar tanta tecnologia embarcada.”
Este texto faz parte da nova edição da Revista Carga Pesada. Clique aqui para acessar a versão digital.
1 comentário
Concordo plenamente com os companheiros acima, ficando ai uma dica para os colegas e proprietários de transportadoras , que além das tecnologias e procedimentos que estão sendo agregados no dia a dia ,como exame toxicológico, informatização as empresas deveriam criar dentro delas policitas para melhoria constante de aprendizado , realizando talvez semestralmente cursos de reciclagem, incentivo ao aprendizado tecnológico , que na maioria das vezes esta classe esta acostumada apenas com cobranças e esquecendo da valorização as contas as famílias esperam e dependem do rendimento monetário deste trabalhador , que as vezes têem grande vontade de se qualificar , mas se ficar parado um (01) dia ja faz uma grande falta e desfalque em seu rendimento . Por que infelizmente os orgãos fiscalizadores não iram criar medidas para qualificação e sim cobranças . A roda da vida e da estrada não podem parar , falta apenas incentivos e oportunidades que podem ser criadas de uma forma sucinta com oportunidades e não apenas penalidades .
Luciano da Silva Furtado
Diretor Municipal de Transito e Transportes
Município de Mateus Leme – MG