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Mulher, preta, homossexual… e caminhoneira

DAF - Oportunidade 2024
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Lolô lutou contra adversidades e a própria insegurança para realizar o sonho de dirigir caminhão

Nelson Bortolin

Mulher, preta e homossexual, Loudicléia dos Santos Garcia, a Lolô, achava impossível realizar o sonho de tornar-se motorista de caminhão. Mas uma iniciativa da empresa onde ela trabalha, a Coca-Cola Femsa, em Cambé (PR), e o incentivo da companheira com quem é casada há 20 anos, a encorajaram a se candidatar para a função. E ela acabou conquistando a vaga.

“Eu fiquei sabendo do programa da empresa pelos gestores. Eu comentei com minha esposa, mas não achava que tinha potencial. Ela me incentivou, insistiu, até que eu acabei me inscrevendo”, conta a paranaense que há cinco meses pilota um caminhão toco Volkswagen Constelattion, distribuindo refrigerantes no Norte do Paraná.

No começo do ano, ela se candidatou para participar do programa de empresa que financia a obtenção de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para colaboradores que querem trabalhar como motoristas. Antes disso, Lolô já atuava havia três anos na Coca-Cola Femsa na função de auxiliar de entrega.

Para o último processo seletivo realizado em Cambé, além dela, outros 15 funcionários se inscreveram, 13 homens e 2 mulheres. Só 4 foram selecionados, sendo Lolô a única mulher.

Campeã de baliza

Lolô é integrante do Coletivo Black Divas pelo qual foi homenageada dia 31 de agosto (leia abaixo). E, apesar da competência e do reconhecimento que tem na empresa, ela tem suas inseguranças. “A gente que é negro, é difícil ter oportunidade. Sendo também mulher e homossexual então…”, justifica.

Ela conta que sofreu na autoescola, onde treinou num micro-ônibus. A primeira manobra para estacionar o veículo foi muito tensa. “Quando eu olhei para vaga que ia ter de estacionar, eu falei: Ai meu Deus, é impossível. Mas eu consegui colocar na primeira vez.”

Depois de habilitada, o teste com o caminhão da empresa foi ainda mais tenso. “Quando estava chegando a minha vez, eu comecei a tremer.” Foi precisou ir ao banheiro e jogar uma água no rosto. “Eu orei. Disse: ‘Meu Senhor, me ajuda. Coloca seus anjos para dirigir esse caminhão’”. De novo, conseguiu fazer a manobra de primeira. “Deus foi abençoando e o caminhão foi indo e deu tudo certo.”

Hoje, Lolô se sente muito bem acolhida pelos colegas da empresa. Mas, logo que foi contratada, sentiu alguma dificuldade. “Praticamente só tinha homens. As outras mulheres eram bem femininas. Eu era uma novidade para eles”, analisa.

Constrangimentos

Apesar de não fazer rotas longas e voltar todo dia para casa, ela sofre com a infraestrutura inadequada nas paradas de rodovias. “Ir ao banheiro é sempre trágico mesmo”, conta. No caso dela, além da precariedade dos sanitários, há ainda situações que poderiam muito bem ser descritas como homofóbicas, mas que a motorista prefere chamar de constrangimentos. “Acontece de eu ir entrando no banheiro feminino e um cara gritar que estou entrando no banheiro errado”, relata.  

Ela acredita tratar-se de engano da parte dos colegas caminhoneiros. “Eles me veem de costas entrando no banheiro, com meu jeitão e meu cabelo curto. Só quando viro de frente que percebem que sou mulher. Ai, pedem desculpa.”

Para o próximo ano, Lolô planeja mudar a categoria da CNH para também poder dirigir carretas. “Minha mulher quer que eu tire habitação E”, conta.

Empresa já patrocinou 285 CNHs

A gerente de Distribuição e Operações da Coca-Cola Femsa de Cambé, Ana Cláudia Ferreira, garante que a empresa não faz nenhum tipo de discriminação na hora de contratar e que valoriza a diversidade. “Não há nenhum tipo de restrição em relação a gênero, raça, orientação sexual, pessoa com deficiência”, alega. “A empresa está sempre prezando por essa diversidade, equidade, igualdade de gênero”, complementa.

Dos 66 motoristas de caminhão da empresa, 4 são mulheres, o que representa 9% do total, ou seja, uma proporção bem acima da média nacional de 1,2% de caminhoneiras empregadas (Leia mais).

A gerente também garante que não há diferença salarial entre colaboradores homens e mulheres. “O mesmo que se paga para motorista homem se paga para a motorista mulher.”

De acordo com ela, a Coca-Cola Femsa já patrocinou 285 colaboradores em todo o País para obterem CNH C e D.

Lolô recebe Prêmio Tereza de Benguela

Por ser a primeira motorista mulher negra motorista de caminhão da Coca-Cola Femsa na região, Lolô foi uma das homenageadas dia 31 de julho na quarta edição do Prêmio Tereza de Benguela, criado pelo Coletivo Black Divas, de Londrina.

Na foto, a gerente de Distribuição e Operações da Coca-Cola Femsa de Cambé, Ana Cláudia Ferreira,  a analista de RH Thaina Gomes, Lolô, e o coordenador de Distribuição da empresa, Mario Carlos Morais.

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