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Caminhões e cargas de (e para) o Brasil inteiro se encontram e se atropelam na Zona Norte de São Paulo. Um verdadeiro “entroncamento rodoviário” dentro da maior cidade do País

Ralfo Furtado

Entre os muitos nós rodoviários existentes em todo o Brasil, a Zona Norte da cidade de São Paulo é um dos mais importantes, por seu tamanho, pela grande concentração de profissionais do transporte de cargas e por se encontrar numa região densamente povoada.

Aquilo sim é um “entroncamento”. A região vizinha à Marginal do Rio Tietê é um grande entreposto. Caminhões chegam e saem com cargas que podem ir para algum lugar no exterior ou para uma simples entrega local. Até o Palácio dos Transportes, sede das principais entidades do setor, como a NTC & Logistíca está na região.

Fila de caminhões para estacionar no Terminal Fernão Dias e uma ironia: a algumas quadras do Palácio dos Transportes é proibido estacionar caminhões

Os dois principais polos de cargas da Zona Norte são o Terminal Fernão Dias, único terminal geral de cargas da metrópole, e o Ceagesp, grande centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros da capital paulista.

O trânsito em volta é infernal. André Ferreira, diretor da Rápido 900, transportadora instalada à beira da Dutra, traçou uma radiografia da situação para a Carga Pesada.

“A Zona Norte de São Paulo concentra tantas transportadoras porque dá saída, pela Dutra e Fernão Dias, para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Nordeste. Mas é difícil trabalhar aqui: o acesso é precário, as ruas estão esburacadas, há muitos pontos de enchentes. O Terminal Fernão Dias está sobrecarregado e ultrapassado. Sem contar a ação das quadrilhas de roubos de cargas na região”, aponta.

No entender de Ferreira, uma saída para essa confusão será a conclusão do trecho Norte do Rodoanel, cujas obras nem começaram mas têm entrega prevista para 2015.

Norival Silva, presidente do Sindicam-SP, aponta outras necessidades. Segundo ele, as concessionárias da Dutra e da Fernão Dias estão devendo um projeto completo de alças de acesso para aliviar o enguiço daquela região. O Terminal Fernão Dias tornou-se um perigo para os usuários: “Os caminhões com carga perigosa param em boxes sem recuo, sem segurança nenhuma, com grande risco de acidente”.

A convivência entre os caminhões e os moradores da região (Vila Maria, Vila Guilherme, Vila Sabrina, Parque Novo Mundo) é ruim. Os caminhões estacionam pelas ruas. E a situação tende a piorar por culpa da prefeitura, que autorizou a construção de prédios residenciais bem perto do Terminal Fernão Dias. “Chega ao cúmulo de, numa rua do lado do terminal, a Itamonte, terem colocado placa proibindo o tráfego de caminhões. Como os caminhões vão chegar ao Terminal?”, diz o presidente do Sindicam.

Para Norival Silva, São Paulo precisa de pelo menos quatro terminais de cargas, em diferentes regiões. “Todos fora do Rodoanel e com conforto e segurança para o caminhoneiro”, acrescenta.

Outro representante dos autônomos, o presidente da Unicam, José Araújo Silva, o China, diz que a situação na Zona Norte de São Paulo só vai melhorar com a entrega do trecho Norte do Rodoanel, mas, além disso, será necessário transferir o Ceagesp, o Terminal de Cargas Fernão Dias e o Posto Sakamoto para fora do rodoanel, “senão não vai adiantar nada”.

Falando em nome dos moradores, Otacílio Montagner, 76, presidente do Conselho de Segurança Comunitária da Vila Maria, diz que, no passado, o Terminal de Cargas pareceu uma solução bem-vinda, muitas transportadoras do bairro mudaram-se para lá. “Mas os galpões das transportadoras foram ocupados por depósitos e distribuidoras cujos caminhões estacionam por todo lado e não respeitam garagens”, afirma Otacílio, lembrando que o problema aumentou com as restrições a caminhões na Marginal Tietê: “Algumas das nossas ruas se tornaram corredores de caminhões”.

Soluções previstas ainda demoram

Existe uma luz no fim do túnel para a situação caótica da Zona Norte de São Paulo. Aliás, duas: além do trecho Norte do Rodoanel, a ser entregue em 2015, está pronto o projeto de moderno e espaçoso terminal de cargas na região. “Eu vi o projeto, é fabuloso”, diz China, o presidente da Unicam. “Se vai mesmo ser construído, não sei.”

A obra dependerá de uma parceria com a iniciativa privada. A assessora de comunicação da subprefeitura da Vila Maria e Vila Guilherme, Carolina Laurito, diz que o projeto foi entregue à prefeitura pelo Grupo Julio Simões Logística. O investimento estimado é de R$ 867,2 milhões. Prazo da concessão de 35 anos. É algo a ser implantado em três fases, ao longo de 13 anos.

Mapa do Rodoanel: falta terminar o trecho Leste e fazer o Norte

A intenção é construir no cruzamento das rodovias Fernão Dias e Presidente Dutra. Está prevista uma área de armazenagem de até 180 mil metros quadrados, área de lojas e serviços de 2.400 metros quadrados e um truck center com estacionamento e infraestrutura para caminhoneiros.

Já o Rodoanel vem chegando mais depressa. Não muito, mas vem. Os trechos Oeste e Sul já estão em uso, o Leste está em construção e, para fechar o círculo, só falta mesmo o Norte, cuja última previsão, para o início das obras, é neste mês de julho.

O trecho Norte terá 44 km. O Rodoanel, em seu conjunto, é uma rodovia com 177 km que faz um círculo em torno da região metropolitana de São Paulo. O Rodoanel interligará as 10 grandes rodovias que chegam a São Paulo: Bandeirantes, Anhanguera, Castello Branco, Raposo Tavares, Régis Bittencourt, Imigrantes, Anchieta, Ayrton Senna, Presidente Dutra e Fernão Dias.

Espera-se que a existência do Rodoanel alivie o trânsito de veículos na Capital.

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