Nelson Bortolin
Revista Carga Pesada
Sócio da Pedromar Transportes, de Rondonópolis (MT), o empresário Maicol Michelon diz que nunca viveu uma crise tão grave quanto a atual. De uma frota de 100 caminhões de sua empresa, somente 42 estão rodando. Há 90 dias, ele vem aos poucos encostando os veículos no pátio da transportadora por absoluta falta de carga. “Não tenho o que carregar. Já demiti mais da metade dos motoristas. Estou mantendo os mais experientes”, conta ele, que é presidente da Associação dos Transportadores de Carga do Mato Grosso (ATC).
Conforme reportagem publicada pela Carga Pesada, a primeira safra de milho sofreu uma quebra de 12% no País e a segunda, de 25%. Em Mato Grosso, a situação é mais complicada porque a de soja também já havia sofrido uma quebra de 12%. “A quebra é um dos motivos, mas o que está levando a essa situação terrível é mais o excesso de caminhões”, alega o empresário.
Com os incentivos dados pelo governo por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferecia taxas de juros praticamente negativas, o mercado brasileiro de caminhões viveu um boom de 2008 a 2014, com emplacamentos acima de 100 mil unidades por ano. “A nossa crise foi por causa de um erro do governo, ou de um acerto porque na época foi bom. Mas a consequência da ajuda à indústria automobilística está sendo muito ruim agora.”
Michelon estima que, de janeiro a agosto deste ano, cada carga no Brasil era disputada por três caminhões. “Hoje, acho que são dez para cada carga.”
Para o empresário, outro agravante é que, com a crise econômica, transportadores deixaram segmentos industriais e de minério e migraram para o transporte de grãos. “Hoje, você vê motorista perdido nas estradas de Mato Grosso. Estão vindo aqui pela primeira vez”, alega.
Michelon acredita que a falta de carga no Estado vai prosseguir até o fim de janeiro de 2017, quando começa o escoamento da safra de soja. Enquanto isso, ele tenta segurar as pontas na empresa, queimando suas reservas.
Questionado se não pensar em atuar em outro segmento de carga, ele devolve uma pergunta: “Vou sair de um que está ruim para brigar em outro que está péssimo?”
A Pedromar foi aberta pela família de Michelon há 40 anos. Há 22 anos, atua somente no transporte de grãos. “Nunca vi uma situação parecida. Já cheguei a ficar dois ou três dias sem ter o que carregar. Mas nunca precisei encostar a frota desse jeito”, conta.
2 Comentários
A culpa não é só do governo! O povo tem muito de culpa também, muitos compradores de transporte tem à ver só fecham se sair algum para eles. Ex: Estou parando com transportes por não querer pagar propina, já vendi vários caminhões por não participar de corrupção. ( Temos mais de 60 anos de tradição em transportes)
Verdade celso, tambem ja passei muito por isso e desisti e olha que nao sou grande e nem medio apenas uma formiguinha perto de voces pelo que voce falou desisti e vendi 4 caminhoes e fiquei so com um caminhao
e alguns carros pequenos, pois nao da pra trabalhar da maneira que ta, motorista nao pode trabalhar mais, propina …. se nao pagar nao carrega