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Uberlândia quer ser a capital da logística

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Maior centro de distribuição de mercadorias do Brasil ela já é. Mas, com uma frota superior a 10 mil caminhões, a cidade quer mais, muito mais…

Guto Rocha

A localização privilegiada, no centro de uma malha viária que liga os quatros pontos cardeais do País, foi decisiva para que Uberlândia (MG) virasse um importante centro de distribuição de mercadorias. Esta história começou no início do Século 20, com a estrada-de-ferro até São Paulo, e ganhou força na década de 1950, quando surgiu lá aquele que viria a ser, hoje, o maior grupo atacadista do Brasil, o Sistema Integrado Martins. Mas Uberlândia quer ir mais longe e se tornar a capital nacional da logística.

Para isso, a Prefeitura de Uberlândia, com vários parceiros, está realizando, há um ano, o Projeto Plataforma de Valor do Brasil Central, através do qual se pretende fazer melhorias de infra-estrutura e estratégia em tudo o que diz respeito a transporte e distribuição de mercadorias no município.

Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Dílson Dalpiaz, toda a cadeia produtiva relacionada ao setor atacadista será beneficiada. Na qualificação de mão-de-obra, por exemplo. “Hoje o País tem uma demanda muito grande por trabalhadores qualificados. No setor de transporte, já existem dificuldades para encontrar motoristas aptos a dirigir caminhões com tanta tecnologia”, comenta.

Além disso, a economia do Município tem passado por transformações nos últimos anos. “O setor atacadista ainda é muito forte, mas outras empresas de logística e transporte de carga têm conquistado seu espaço em Uberlândia”, afirma Dalpiaz, lembrando que estão lá as cinco maiores empresas do ramo atacadista do País: Martins, Arcom, Peixoto, Aliança e União. Juntas, elas mantêm uma frota de caminhões e carretas de 3 mil equipamentos, representam 9 mil empregos diretos e indiretos e têm mais de 700 mil clientes espalhados pelo Brasil. O setor gera em média R$ 1,2 milhão por mês em impostos para a Prefeitura.

No entanto, Uberlândia também tem mais de 30 centros de distribuição de grandes empresas de outros ramos, como a AmBev, a Natura e Coca-Cola, informa o secretário. No setor de transporte, estão lá 1.100 empresas, com 6 mil empregados, enquanto a logística reúne mais de 1 mil empresas. Com tanta gente transportando, a frota da cidade, completa o secretário, é de 10.500 caminhões, 8.100 reboques e 4.100 semirreboques.

Segundo o professor Eduardo Nunes Guimarães, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o setor atacadista ainda é muito importante para a economia regional. “Há um o grande número de profissionais autônomos que gravitam em torno das vendas, transportes e representações do setor atacadista”, observa.

As vendas no atacado são a principal atividade econômica: 9 mil empregos diretos e indiretos

Guimarães destaca que o setor também impulsiona a economia regional porque grande parcela do capital das empresas pertence a grupos locais. “Os reinvestimentos e a diversificação injetam renda na região”, comenta, fazendo referência ao fato de que, no início desta década, a Arcom investiu mais de R$ 50 milhões na construção de um luxuoso complexo comercial na cidade.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), Carlos Eduardo Severini, o setor atacadista responde pela distribuição de 52% de tudo o que vendido no comércio de produtos de mercearia no Brasil. “Em muitos lugares, a mercadoria só chega porque o distribuidor leva, caso contrário o comerciante não teria como ir buscar”, lembra, observando que Uberlândia “tem uma grande tradição no comércio atacadista”.

E por isso que a Prefeitura quer firmar a “capital da logística”. O secretário de Planejamento observa que a cidade é bem servida em outros modais também. Existe ferrovia para o porto de Vitória (ES) e a 230 km fica o porto do Rio Paranaíba, de onde saem grãos em direção à capital paulista.

Outro ponto importante é a presença do terceiro maior aeroporto de Minas Gerais. “A Infraero tem um projeto para instalar um Terminal de Cargas Áreas (TECA) em Uberlândia”, afirma Dalpiaz.

Também foi inaugurado este ano um Entreposto da Zona Franca de Manaus, no qual os produtos podem ficar armazenados por até seis meses sem ser faturados. “Isso significa uma redução do prazo de entrega dos produtos da Zona Franca de 15 dias para 24 horas”, observa o secretário. O entreposto pode atender 60 caminhões simultaneamente e tem 200 vagas de estacionamento.

Empreendedorismo é o motor do município

Alair Martins do Nascimento, presidente do Grupo Martins: o atacado ainda tem muito a crescer

Não foi só a situação histórica e geográfica que fez de Uberlândia o que ela é hoje. O “espírito empreendedor dos empresários e homens públicos da região” também foi determinante, na opinião do presidente do Sistema Integrado Martins, Alair Martins do Nascimento.

Ele mesmo é um exemplo desse espírito. Ainda adolescente, em 1953, convenceu os pais a deixarem o sítio onde moravam, a 20 km de Uberlândia, para abrir um armazém na cidade.

Já no primeiro ano, o estabelecimento, que começou com 100 metros quadrados, dobrou de tamanho. E não parou mais de crescer.

O armazém se transformou no que é hoje a Martins Comércio e Serviços de Distribuição, principal empresa de um grupo que tem ainda o Tribanco, seu braço financeiro; a Tricard, cartões de crédito; a Tribanco Corretora de Seguros; a Universidade Martins do Varejo (UMV); e a Rede Smart. Tudo junto, temos o Sistema Integrado Martins, com 5.500 funcionários e faturamento de R$ 4,1 bilhões em 2009. A organização possui uma carteira com 350 mil clientes em todo Brasil e é líder do segmento atacadista-distribuidor. “Sem falsa modéstia, foi empreendedor desde pequeno. Sonhava em realizar tarefas grandes e nunca me conformava com a situação em que estava. Adoto até hoje um slogan que virou cultura na empresa: ‘Não existe nada que não possa ser melhorado. É nossa missão fazer o amanhã melhor do que o hoje’”, comenta.

Martins diz acreditar que Uberlândia continuará sua trajetória ascendente. “É um dos grandes municípios da União, maior até que algumas capitais”, diz.

O setor atacadista também tem a crescer. “O País é grande, grandes são suas demandas, e há muito o que fazer. Mas o futuro exige competência, agilidade e capacidade para interpretar os sinais e mudar”, ensina.

Aos 76 anos e firme na direção dos negócios, Martins diz que o setor está sendo afetado pelas vendas da Internet em algumas categorias. “Mas já estamos atentos a isso e temos um site (e-facil.com.br) onde desenvolvemos o e-commerce também com muito sucesso”, afirma, amenizando o tamanho do “problema”: “Só as grandes redes utilizam a internet para vender, enfrentando, depois, a dificuldade de entregar. Nisso, nós é que somos bons”, afirma.

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