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Uma “moda” ilegal e perigosa

DAF - Oportunidade 2024
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Uma “moda” ilegal e perigosa
Dilene Antonucci, Janaina Garcia, Luciano Pereira e Nelson Bortolin

É cada dia mais comum ver caminhões e carretas com a traseira elevada além do normal. Os caminhoneiros gastam R$ 1.200 ou até mais para acrescentar calços ou molas adicionais só para deixar o bruto mais “invocado”.

Alguns acham que a mudança dá mais estabilidade. Estão errados. O engenheiro mecânico Rubem Penteado de Melo diz que é o contrário: “A elevação da traseira transfere mais peso para os eixos dianteiros. Isso afeta a estabilidade. E a durabilidade de muitas peças diminui: como o cardã fica muito inclinado, o diferencial vai ‘roncar’ e danificar o rolamento”. Isso, pra começar. A cabine inteira de um caminhão vai se deteriorar mais rápido. E quem modifica a suspensão de um veículo novo perde a garantia de fábrica.

Rubem de Melo lembra ainda que, com a elevação, o para-choque traseiro perde sua função. Num acidente, quem bater atrás de um caminhão modificado sofrerá consequências muito piores. Um carro pequeno pode entrar direto embaixo da carroceria ou da carreta. A carroceria de um caminhão alterado ficará na altura do pescoço do motorista de uma van.

Mesmo sabendo de tudo isso, algumas concessionárias já entregam implementos novos com a mudança, se o comprador pedir. “Paguei R$ 1.200”, disse um caminhoneiro autônomo do Paraná à Carga Pesada. Com calços, a traseira ficou 12 cm mais alta.

Outro motorista colocou mais molas entre as originais para elevar a traseira em 20 cm. “Fica bonito”, justificou, dizendo que pagou R$ 1 mil pelo serviço num posto de molas de Maringá.

A mudança é ilegal. O artigo 8º da Resolução 292/08 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) proíbe “alteração das características originais das molas do veículo, inclusão, exclusão ou modificação de dispositivos da suspensão”. Mesmo assim, alguns Detrans, como o de Santa Catarina, anotam a mudança no documento do veículo, se uma empresa homologada para inspeção veicular der o aval. Assim, o ilegal vira legal.

Por lá, a moda é forte e a Polícia Rodoviária vem intensificando as blitze. Dá multa de R$ 127 e cinco pontos na carteira de habilitação. Os motoristas só podem seguir viagem se retirarem os calços ou molas em excesso. Mas os veículos com a alteração anotada no documento do Detran são poupados.

Essa distorção foi tema de uma reunião do Conselho Nacional do Trânsito (Contran) no final de agosto, mas o órgão ainda não se pronunciou a respeito.

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