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A tensa inauguração da Fernandão Dias

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Lembrando dos 50 anos da Fernão Dias, encontramos num texto de revista de fevereiro de 1959 uma amostra de como a política esteve envolvida no próprio episódio da inauguração, que se deu quando apenas 34,7% do pavimento estava feito

Luciano Alves Pereira

Uma pesquisa levou a Carga Pesada a desentocar um precioso documento sobre a Rodovia Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo. Através de um colaborador do DNIT, obtivemos um exemplar de fevereiro de 1959 da revista Rodovia, do extinto DNER. Ali se encontra matéria sobre a inauguração da rodovia. O texto não traz só confetes, mas é um contra-ataque a quem debochava da festa, por se tratar de obra inacabada.

A partir da esquerda, Lúcio Meira, ministro da Viação e Obras Públicas; presidente JK; governador Bias Fortes; senador Benedito Valadares; e Edmundo Regis Bittencourt, diretor-geral do DNER: a Fernão Dias não estava pronta

A solenidade ocorreu em 25 de janeiro de 1959, quando “resolveu o DNER – diz a revista – franquear aos usuários o trecho Extrema (Sul de Minas) – Belo Horizonte, numa extensão de 485 km, representando 84,2% do total (mas só 34,7% do asfaltamento) dessa rodovia”. Foi por aí que a oposição pegou JK, que era do PSD. Os ataques vinham da antiga UDN, através de jornais como O Globo, do Rio de Janeiro.

“Houve várias críticas de sisudos e circunspectos cavalheiros e de trêfegos e saltitantes politiqueiros pelo fato de ter sido aberta a BR-55 faltando os 91 km do trecho no Estado de São Paulo e não se encontrar, à data referida, inteiramente pavimentado o trecho no Estado de Minas Gerais”, diz a revista. E prossegue: “Desejavam, tais críticos de meia-tigela, embora havendo quase 500 km de rodovia de excelente traçado, com todas as obras de arte concluídas, 200 km de pavimentação executados e ao restante em andamento, que a BR-55 ficasse fechada até se ultimarem todos os acostamentos, realizar a arborização, construírem os belvederes e outros melhoramentos (…)”.

Adiante, a ironia cresce: “Esperar que toda a estrada ficasse concluída para somente a essa época entregá-la ao tráfego seria a mesma coisa, para usar imagem simples, do que uma pessoa ter 85% do seu capital depositado num banco e nada receber de juros enquanto não completos os 100%. A incoerência é flagrante (…)”.

Placa de entrega ao trânsito, não mais existente na entrada de Betim

Mas o pico da saraivada raivosa vem depois, quando o redator defende o slogan do governo de JK, “50 anos em 5”: “Essa questão tem sido alvo de comentários apressados e as mais das vezes impróprios para um asno; e até mesmo alguns oitavos sábios, encarapitados em posições políticas, não conseguem limpar as remelas da preguiça para poderem ver a realidade – e por isso se desmandam em críticas chocarreiras e pretensamente desmoralizadoras. Não podem, por incapacidade – congênita ou adquirida pela infecção do ódio politiqueiro – avaliar a transformação que se opera nas regiões servidas com estradas pavimentadas…”

Que bordoada! Quanto à Fernão Dias, nasceu propagandeada como rodovia “Classe I”, que devia ter curvas com raio mínimo de 100 m, a rampa máxima de 6% e distância mínima de visibilidade de 130 m.

Mas os números de projeto não se confirmaram na pista. Há rampas máximas superiores a 10%. Itaguara que o diga…

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