DAF - Oportunidade 2024

As opiniões fortes de Emílio Dalçoquio

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Para o empresário Emílio Dalçoquio, “o Brasil está bombando” e não há motivo para um transportador reclamar da falta de oportunidades. Mas é preciso saber trabalhar: “Embarcador que paga bem é aquele que exige”, diz ele nesta entrevista especial para a Carga Pesada, na qual aborda vários assuntos de interesse do transporte

Nelson Bortolin

Não dá para aceitar gente posando de “coitadinho” no TRC. O mercado está aquecido e não faltam boas oportunidades para o transportador. Quem não estiver contente com o frete, deve procurar outro embarcador. São palavras de Emílio Dalçoquio, 46 anos, diretor operacional de uma das maiores transportadoras do País, a Dalçoquio Transporte, com 1.000 veículos e 1.200 motoristas (30% agregados), e criador do site Cowboys do Asfalto.

Sem papas na língua, ele dispara: “É fácil culpar os outros quando não se quer deixar a zona de conforto. O embarcador que paga bem é aquele que exige. Mas o transportador não quer fazer contas. Não quer fazer controle de horário, do diesel, do pneu. A grande maioria dá o caminhão e uma caixa de rebite para o motorista”, declara.

Para Dalçoquio, vale até trocar de segmento. “Se está carregando grãos, é porque escolheu. O frete não está bom? Então vá puxar frutas, verduras, químicos. Tem um monte de opções. O Brasil está bombando, rapaz.”

NOVAS MARCAS DE CAMINHÕES

Os caminhões brasileiros estão no mesmo patamar tecnológico dos europeus, diz Emílio Dalçoquio. Novas marcas estão chegando ao mercado, mas ele desconfia de que nem todas tenham vindo para ficar. “Está se repetindo o que aconteceu na década de 50. No pós-guerra, vieram GMC, White, Mack, Desoto, Ford, International, umas 10 marcas”, afirma. A maioria, no entanto, retirou-se depois. “Não sei se, ao primeiro desaquecimento da economia, as novas marcas não irão embora também.”

Emílio Dalçoquio ao lado do Mack, um de seus hobbies: o transportador deve saber se virar

Sobre os asiáticos, ele acredita que, pelo preço, não deixam a desejar. “Esses caminhões são úteis para um raio de 300 km”, destaca. Para maiores distâncias, no entanto, ele prefere oferecer outras opções ao motorista. “Estamos com escassez de mão de obra. Um bom profissional tem mais de 20 propostas de emprego. E ele vai procurar quem oferece o melhor caminhão, que é o de 500 HP, hidramático, de teto alto.”

SELEÇÃO DE MOTORISTAS

Dalçoquio e um de seus mil caminhões: forte presença no segmento de químicos

Dalçoquio tem grande preocupação na hora de selecionar seus motoristas. Um ponto importante é a família. “O nosso RH vai à casa do motorista, faz uma pesquisa com a família. Tira uma foto, traz a mulher até a empresa”, explica. Por que esse cuidado todo? “As regras do trabalho todo o mundo conhece. Mas o que muda o ser humano na hora de cumpri-las é a sua razão de viver. Se ele sabe que a família está bem assistida, então vai andar a 80 por hora e vê o valor de obedecer todas as normas”, salienta.

Mas não é só conhecendo a família do motorista que a transportadora faz sua seleção. “São 15 fases de admissão, que incluem psicologia e saúde. Quanto à habilidade ao volante, nós vamos prepará-lo. Eu prefiro uma cabeça sadia que vai aprender a dirigir bem a um cara que é muito bom de volante, mas tem cabeça ruim.”

Os caminhoneiros da Dalçoquio só trabalham durante o dia. Fazem transferência. Das 22 horas às 5 da manhã, os veículos são bloqueados. A remuneração é variável. “Um empregado nosso fatura de R$ 3 mil a R$ 5 mil por mês”, informa.

IR PARA ONDE O DINHEIRO ESTÁ

A Dalçoquio trabalha nos segmentos de líquidos, pneus, chocolates e eletrodomésticos. Questionado se a diversificação dos negócios é uma tendência, Emílio responde: “Não é bem assim. O transportador tem de ganhar dinheiro. Se amanhã ou depois for melhor transportar morango que ácido sulfúrico, vamos transportar morango”. Atualmente, 40% das operações de transportes da Dalçoquio são de carga seca e 60% de líquida.

Além da transportadora, o grupo possui um porto privado em sua cidade-sede (Itajaí – SC), cinco centros de distribuição, dois postos de combustíveis, o site Cowboys do Asfalto e ainda a empresa Maxilock – 5ª Roda Inteligente, que é responsável pela comercialização do sistema de segurança conhecido como Maxi Lock (trava máxima). O sistema foi imaginado pelo próprio Emílio Dalçoquio, após o roubo de 22 caminhões, em 1998. “Só permite o desengate da carreta via satélite. Se cortar o fio, aí é que não desengata mesmo.”

Ele afirma que “qualquer ladrão de galinha sabe que o rastreador está no cavalo”. E que, portanto, basta desengatá-lo e roubar a carreta com outro cavalo. “Com a Maxi Lock não existe a possibilidade de separar os dois veículos”, explica.

AS RESTRIÇÕES EM SÃO PAULO

Sobre a recente restrição de caminhões na Marginal Tietê em São Paulo, Emílio Dalçoquio acredita que a medida é inconstitucional, pois fere o direito de ir e vir, e fruto da incompetência dos governantes de se anteciparem aos problemas. Mas não deixa de ver um lado positivo nesta questão. “Essa restrição mostra que o relógio precisa ser usado 24 horas por dia. Ele não para das 23 horas às 5 horas da manhã. Então eu acho que é uma grande oportunidade de aproveitar o horário que não se usava”, declara.

COWBOYS DO ASFALTO

O site Cowboys do Asfalto nasceu, em 1999, fruto de duas grandes paixões de Emílio Dalçoquio: o caminhão e o faroeste. Faroeste italiano, faz questão de frisar; “porque faroeste feito nos Estados Unidos eu nem assisto”. Aos 14 anos, ele começou a estudar trompete, quando diz que aprendeu a diferença entre barulho e música. Seu grande ídolo sempre foi o maestro Enio Morricone, que fez as músicas dos grandes filmes de faroeste da Itália.

Ele lembra que, em 1990, a dupla Chitãozinho e Chororó fez a música Cowboys do Asfalto. E entendeu que esse nome era o “mix perfeito” entre o faroeste e o caminhão. “O estilo de vida Harley Davidson está para a moto como Cowboys do Asfalto está para a picape e o caminhão”, declara.

Para o empresário, a atual geração de motoristas quer conforto e status para dirigir um caminhão. “Caminhoneiros foram seus pais, tios, avós. O de hoje quer ser um Cowboy do Asfalto, ter saúde e andar com caminhão bonito.”

Dalçoquio ressalta que o site mantém uma parceria com o Beto Carrero World, no município de Penha (SC), oferecendo “dias felizes” dentro do parque para caminhoneiros e outros públicos de relacionamento. “Cabeça fria significa profissional calmo e tranquilo, fazendo o que deve ser feito benfeito.”

O site vende diversos produtos, como adesivos, moletons, cintos, camisetas, calças, bonés, bermudas e miniaturas de caminhões.

VOCÊ É O REPÓRTER

Ivan Ferreira (foto), empresário de São Paulo: – Que conselho que você daria para o transportador que esteja começando? Qual o maior desafio que você enfrentou?
O maior desafio do ramo é namorar homem sem ser homossexual… A gente consegue isso “rezando”. Também é preciso cuidar do corpo, fazendo ginástica, e trabalhar muito, para termos condições físicas, mentais e espirituais para lidar com gente. Porque caminhão não é caminhão, é gente. “Mens sana in corpore sano” (mente sã num corpo são), como é o ditado latino.

Helio Resan, autônomo de São Paulo: – Qual é a maior dificuldade enfrentada por um empresário do transporte no Brasil?
O maior problema do segmento é a falta de gente que goste de gente. Muitos empresários não gostam de caminhão, não gostam de gente. Este é o maior problema. Quem pensa dessa forma está no ramo errado, deveria ir jogar tênis, que é um esporte individual.

Antônio Carlos Leal, empresário do Rio de Janeiro: – Como a nova lei da carta-frete está influenciando as atividades da Dalçoquio?
O fim da carta-frete está moralizando o que era imoral, estamos vivendo uma nova época. Vamos passar um ano, um ano e meio de turbulências, mas isso vai trazer uma valorização para a classe dos transportadores. Acredito que no ano que vem o nó do pagamento eletrônico estará desatado e as coisas se normalizarão. O que não pode é manter a carta-frete. O governo perde impostos, o caminhoneiro fica sem direito a crédito, porque não tem como comprovar o que ganha. O fim da carta-frete vai tirar um monte de aventureiros do setor.

Luiz Guilherme Bonfim (foto), autônomo do Rio de Janeiro: – Além de ter caminhão, CNH, RNTRC, quais as outras exigências que devem ser atendidas para a gente se agregar a uma boa transportadora como a Dalçoquio?
Essa pergunta merece dois comentários. Primeiro: se você espera ver o dinheiro rápido, esqueça, tem de ter paciência porque o dinheiro não vem tão rápido. Segundo: as exigências de transportar carga perigosa são muitas. Para quem tem paciência de atender todas as exigências, não há problema nenhum. A grande dificuldade é se sujeitar às regras do mundo da carga perigosa: barba, cabelo, check-list, horário, tacógrafo, Inmetro, pneu, fumaça, enfim…

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