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Caminhoneiros Surdos do Brasil protagonizam debate sobre inclusão no evento “Conexões que movem” 

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Realizado em parceria com o Rota Feminina, evento falou sobre diversidade, políticas públicas e boas práticas de inclusão no setor privado 

Leiliani de Castro

Daniel Momm (na foto em destaque) é empresário e caminhoneiro surdo. Chegou dirigindo seu caminhão no evento Conexões que movem, realizado em Campinas, nesta segunda (19). Este momento foi gravado e exibido no telão do evento, antes de sua participação em um dos painéis. Quando se viu ali, para além de palestrar, Daniel nos contou que “ficou muito emocionado, e se sentiu participante”. Raquel Moreno, fundadora do movimento Caminhoneiros Surdos do Brasil, traduziu todas as entrevistas concedidas em libras para nós da Revista Carga Pesada. 

Momm é um dos integrantes do movimento CSB e complementa: “Me sinto inteligente, normal, não tenho dificuldade nenhuma. Sinto a vibração do caminhão”. Além de caminhoneiro, ele tem uma empresa familiar de cachaça, a cachaçaria Momm. Segundo ele, as pessoas vão lá, compram, provam e escolhem a variedade que mais lhe agradam. “É uma empresa simples”, afirma. Ao final do evento, ele declarou que “se sente feliz, apoia o CSB, essa luta e agradece a Deus e essa parceria toda”. Daniel busca melado em Charqueada (SP) e leva até Santa Catarina, sua morada, e faz esse trajeto há nove anos. 

Seu colega de movimento, o motorista Jefferson Lopes de Oliveira conta que começou em 2014 na categoria D e, após muita luta e paciência, resolveu mudar a carteira para a categoria E. No mês passado ele conseguiu e está muito feliz com a conquista. Para ele, o evento foi maravilhoso. “nós sentimos uma evolução nisso”. Jefferson mantém um canal no Youtube. “Lá eu tenho informação sobre  caminhão, sempre, todo dia eu coloco alguma coisa lá, informando que o surdo é capaz e pode fazer qualquer coisa”. 

União entre movimentos 

Raquel Moreno, idealizadora do CSB, comenta o avanço do protagonismo surdo no evento: “foi total, estou muito feliz com isso”. Relembre aqui o segundo fórum de mulheres no transporte e logística, organizado pelo movimento Rota Feminina, no qual a liderança criticou a baixa representatividade dos surdos e surdas no palco do evento. 

Sobre a luta pelo projeto de lei 2634 de 2021, o projeto que libera surdos para dirigirem caminhão, Raquel comenta que está parado: já escrevi para todos os Senadores. Eu disse todos, independente de partido, ideologia política. O CSB aceita surdos de qualquer ideologia política. Nós queremos dirigir, nós queremos o nosso direito”. 

Perguntamos, portanto, quais estratégias têm sido desenvolvidas pelo CSB para visibilizar a causa. Dentre elas, estão moções de apoio, mais de 90 ofícios de associações de surdos encaminhadas ao Senado: “isso que tá acontecendo aqui, tá acontecendo de modo espontâneo nosso. Então o Senado precisa trabalhar. Essa é a crítica dura que eu faço. De um projeto tão fácil que não gera ônus nenhum. Só estamos pedindo a garantia de direitos, que continua parada. Mas não vou desistir, vou lutar até o final por nós surdos”. 

Opinião médica 

Ana Adelina é médica otorrinolaringologista especialista em otologia, neurotologia e audiologia. A especialista também é deficiente auditiva e encontra identificação e conexão com os seus pacientes, além de apoiar o PL 2634 de 2021, proposto pelo CSB. “Às vezes eu tenho alguns colegas que falam “Ana, peguei uma paciente jovem, com perda de audição, pedi para entrar em contato com você. (…) E aí quando faço o diagnóstico e falo, sirvo como um exemplo”. 

A especialista percebe que “o que a gente vê muito por aí, é que a lei é feita, mas não traz a experiência do deficiente auditivo, do deficiente visual… Existe uma lei em cima do quê? Por isso, sou super a favor da gente repensar tudo o que é colocado. Ter a vivência de quem realmente tem um problema e saber as dificuldades reais e não reais, né, do problema auditivo, para aí sim a gente verificar o que tá na lei.” 

Segundo a médica, “Conexões que movem” foi sua primeira experiência num debate sobre diversidades: “é bom a gente se deparar e escutar as dificuldades de cada um e saber que a gente sempre pode melhorar. A gente tá aqui para aprender e para melhorar”. 

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