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Itabaiana mora “em cima” do caminhão

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SETEMBRO DE 2010

Guto Rocha

A aparência das casas revela que Itabaiana, em Sergipe, tem uma forte ligação com os caminhões: muitas têm garagens com o pé-direito alto, para abrigar um caminhão. “É o verdadeiro morar ‘em cima’ do caminhão, pois as casas são construídas sobre a garagem, como um sobrado”, comenta o secretário municipal de Esporte, Lazer, Eventos e Turismo, Marcos Henrique de Lima.

Localizada no agreste sergipano, a 70 km da capital, Aracaju, Itabaiana tem uma grande fonte de renda no caminhão. Segundo o prefeito Luciano Bispo (PMDB), o transporte rodoviário de cargas é o motor da economia local. “Os caminhões trazem dinheiro para a cidade, geram empregos e têm ajudado a elevar o padrão de vida de toda a população”, comenta.

Itabaiana tem 90 mil habitantes e cerca de cinco mil caminhões emplacados. “Isso nos dá o título de capital nacional do caminhão. É um caminhão para cada 20 pessoas, a maior taxa do Brasil”, diz o prefeito. “Depois da capital, Aracaju, temos a maior arrecadação de IPVA do estado.”

O setor de comércio e serviços para caminhões também é forte em Itabaiana, explica o secretário Lima. “Ao longo da BR-235 (que cruza a cidade) existe grande concentração de lojas de autopeças, oficinas, postos, indústrias e garagens que compram e vendem caminhões usados.” Ele mesmo atua no setor: tem quatro postos de combustíveis, em sociedade com um cunhado.

Além disso, Lima está às voltas com a criação do Sindicato dos Transportadores Autônomos da Carga (Sinditac) de Itabaiana. Será a primeira entidade a reunir os caminhoneiros da cidade e está em fase de registro no Ministério do Trabalho.

Empresas prosperam servindo o setor

O caminhão é uma paixão em Itabaiana e fonte de renda para muitos. José Carlos Alves do Santos seguiu os passos do pai, que tinha uma fábrica de carrocerias no município. “Meu pai deixou o negócio em 1982 e eu assumi no lugar dele”, conta. No ano seguinte, Santos começou a comprar caminhões. Hoje tem 10 carretas.

VISÃO – Com apenas 18 anos e carteira de habilitação recém-tirada, José Ailton Oliveira também se aventurou num caminhão pelas estradas. “Foi por poucos meses. Vi que, abrindo uma empresa, poderia ganhar mais.” Oliveira tem uma loja de caminhões usados, com 13 funcionários. “Vendemos uns 30 caminhões por mês, mais que muitas concessionárias”, afirma. Também é transportador: seus 10 trucks transportam laranja e cimento pelo Nordeste. E tem uma oficina de lanternagem que emprega 25 pessoas. “Nosso movimento é grande”, comenta, satisfeito.

Festa valoriza as crianças

A tradição dos caminhões em Itabaiana também fez surgir uma tradicional festa para os caminhoneiros. Todo mês de junho, nos dias que antecedem o dia de Santo Antônio (13), padroeiro da cidade, a prefeitura promove um grande evento para reunir os caminhoneiros e toda a população. No ano passado, a festa, que é realizada há 44 anos, ganhou também o caráter de feira de negócios, segundo o secretário municipal Marcos Henrique de Lima.

Este ano a feira rendeu: segundo Lima, os negócios totalizaram R$ 15 milhões. “Tivemos a participação de grandes instituições financeiras, com suas linhas de crédito”, comenta.

A festa, propriamente dita, também foi muito alegre. Quase dois mil caminhões participaram de uma procissão. E a prefeitura organiza uma carreata com caminhõezinhos de madeira, alguns construídos pelas próprias crianças, outros distribuídos por expositores. Só a prefeitura doou 1.500 caminhõezinhos para a garotada.

Poli queria todos os filhos na boleia

A família Poli ficou conhecida em Itabaiana por causa da relação que o caminhoneiro Francisco dos Santos, já falecido, tinha com os caminhões. Poli era o apelido de Francisco, que teve 14 filhos – sete homens e sete mulheres. Segundo seu filho Adriano, todos os sete homens se iniciaram no trabalho como caminhoneiros. “Eu tirei carteira com 18 anos e já assumi a boleia de um caminhão”, afirma.

O pai comprava um caminhão para cada filho assim que ele chegava à maioridade. “Mas não era presente, não. A gente tinha que trabalhar pra pagar”, afirma. Adriano ficou na estrada 23 anos, mas hoje tem uma loja de autopeças.

O caçula, Mateus, tem um Mercedes 1318 em sociedade com o irmão Cristiano. Ganharam do pai. Hoje, os dois também têm um depósito de granito na cidade. “Mas só eu continuo dirigindo. Ele cuida da loja e eu vou para a estrada. Faço o que gosto e estou muito feliz como caminhoneiro”, diz Mateus.

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