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MULHERES: O amor levou Sharon para a boleia

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A bióloga e o marido Ricardo estão sempre juntos na estrada, cada um com um bitrenzão de nove eixos da Rodoseni, transportadora na qual trabalham

Nelson Bortolin

Poderia até ser enredo de novela, mas aconteceu na vida real. A pernambucana Sharon Viana Freitas e o gaúcho Ricardo Freitas viveram uma paixão na adolescência, quando estudaram juntos em Bento Gonçalves (RS) da 5ª à 7ª série. Ela mudou-se com a mãe para Esmeralda (RS) e depois foi para Minas Gerais. Ele permaneceu no Rio Grande do Sul.

Nunca mais se viram. Cada um teve seu casamento por cerca de uma década e só foram se reencontrar tête-à-tête 18 anos depois em Recife e de um modo bastante curioso.
No mundo virtual, eles já haviam se achado, ainda no antigo Orkut e, depois, no Facebook. Em 2013, quando já estava de volta à capital pernambucana, Sharon recebeu uma mensagem pelo celular da ex-mulher de Ricardo, que também era amiga dela nas redes sociais

O caminhoneiro gaúcho havia passado mal, com uma forte crise de gastrite. Ele estava em Recife fazendo uma entrega. “Eu já estava separada e a ex-mulher dele me pediu para eu procurar o Ricardo para ajudá-lo”, conta Sharon. Quando conseguiu encontrá-lo, ele já havia recebido atendimento médico e estava melhor. “Meu casamento também não estava bom”, explica ele.

Poucos dias depois, em 18 de outubro de 2013, numa caminhada pela praia de Boa Viagem, a história de amor recomeçou. O casal não quis perder tempo. Sharon subiu na boleia naquele mesmo dia e passou um mês viajando com Ricardo.

A jovem pernambucana havia recém-terminado a faculdade de Biologia. E não teve dúvida em trocar a pesquisa com tartarugas-marinhas pela estrada. “Aos poucos, fui largando o caminhão para ela dirigir. Percebi logo que tinha dom. Ficou um ano viajando comigo e depois assumiu o volante num outro caminhão da Rodoseni, onde fomos trabalhar”, conta Ricardo.

“Eu não sabia nem o que era eixo”, diz Sharon, que não teve tempo de começar a carreira num toco, passar por um truck e depois assumir uma carreta, como é mais comum. Ela já começou num bitrem de sete eixos. “Foi um aperreio medonho.”

Hoje, ambos com 37 anos de idade, só viajam juntos. Eles transportam malte, adubo, soja e milho, entre outros produtos. Os trechos são entre o Rio Grande do Sul e o Centro-Oeste. Cada um vai num bitrenzão de nove eixos e 25,7 metros, puxados por cavalos Scania. “A política da empresa é que os motoristas andem sempre em dois”, conta Ricardo.

“A melhor coisa que tem é o bitrenzão. Tem mais estabilidade na curva. Tem mais segurança de forma geral”, diz ela. “Só complica quando tem de fazer uma rotatória um pouco apertada. É quando a gente olha para o retrovisor e percebe o tamanho do veículo”, complementa.

A rotina do casal é a seguinte: dirigem do nascer ao pôr do sol. Dormem em postos de combustíveis – geralmente de parceiros da transportadora. Assistem à televisão no Scania R440 dirigido por Ricardo. “É nossa sala de estar”, brinca Sharon. E dormem no R480 pilotado por ela. “O quarto é o meu caminhão”, ressalta.
Eles ficam de 35 a 40 dias fora de casa – hoje moram em Alto Feliz (RS). Quando voltam, descansam uma semana antes de retomar a estrada. Sharon não teve filhos. Ricardo tem três, que vivem com a mãe.

CASAMENTO – Depois de cinco anos de relacionamento, Sharon e Ricardo se casaram no último dia 20 de outubro. Foram para a igreja dirigindo os caminhões da Rodoseni que pilotam. “Antes de ir para a cerimônia, fui me vestir na casa do padrinho. O chão era de brita. Estava muito nervosa. Na hora de sair, o caminhão ficou patinando. Precisou chegar um colega e me lembrar de ligar o bloqueio”, conta.
Sharon diz que o casal está feliz no relacionamento e na profissão. “A gente passou muitos altos e baixos. Houve momentos bem difíceis para a gente. Mas, de três anos para cá, a vida melhorou. Batemos nossas metas e alcançamos nossos objetivos e sonhos.”

Banheiro: o velho inimigo das caminhoneiras

Quando questionada sobre a maior dificuldade da vida na estrada, Sharon responde: faltam banheiros femininos nos locais de carga e descarga. “Se meu colega de trabalho não fosse meu marido, eu teria de incomodar alguém para cuidar da porta para eu tomar banho”, ressalta.

Ela calcula que somente 30% das sedes dos embarcadores dispõem de banheiro feminino. “Chego num local com 40, 50 caminhões. Entro para tomar banho e o Ricardo fica na porta. Tenho de me lavar bem rápido porque fico preocupada. E se alguém está apertado e precisa do banheiro?”, pergunta.

A Ambev – uma das maiores companhias do Brasil – não oferece banheiro feminino. E, em alguns locais, nem masculino. “Em Agudos (SP), só tem sanitários. Seja homem ou mulher, tem de atravessar a rodovia e pagar para banho num posto de combustível”, conta.

Na sede da empresa em Ponta Grossa (PR), segundo Sharon, não há chuveiro nenhum. Só o cano de onde sai a água fria. A reportagem procurou a Ambev para tratar do assunto. Mas a assessoria disse que empresa não vai se manifestar.

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