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Na safra o frete sobe mas não resolve

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Grande procura por transporte de grãos na boca da safra eleva o preço do frete, mas alta não cobre custos das transportadoras. Especialista diz que falta de profissionalismo no setor compromete ganhos

Guto Rocha

Quando chega a época da safra de verão, o frete do transporte de produtos agrícolas sobe. É a lei da oferta e da procura, que este ano parece estar funcionando ainda melhor a favor do transportador: a safra é recorde, e produtores, cooperativas e tradings querem escoar a produção rapidamente.

No entanto, esta elevação de valor do frete não significa nada que mereça grande comemoração, segundo o diretor de Logística da Câmara Técnica do Agronegócio da NTC&Logística, Sebastião Maurício Galvão. “Vamos trabalhar bem entre 50 e 60 dias. Depois, no decorrer do ano, as tradings (empresas que exportam soja) vão pisar em nossas gargantas e baixar os fretes”, afirma Galvão. Com isso, segundo ele, as transportadoras que se dedicam ao segmento não conseguem cobrir os custos. “Tanto que ninguém aumenta a frota, no máximo renova. Ficou um negócio inviável. Comprar caminhão para transportar grãos é o pior negócio do mundo”, diz o dirigente.

O diretor-executivo da ATC, de Rondonópolis, Miguel Mendes, concorda. Para ele, o setor está muito desorganizado. “É um mercado cruel, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo. As tradings é que decidem quanto vão pagar no frete, elas não ouvem as transportadoras quando vão definir o frete.”

O coordenador do grupo Eslaq/Log da Universidade de São Paulo (USP), José Vicente Caixeta, diz que na formação do valor do frete dos produtos agrícolas se dá importância aos custos variáveis (combustível, lubrificantes, peças, pneus), mas não se contabiliza bem o custo fixo (como a depreciação do caminhão). “É isso que deixa o frete defasado”, diz o professor.

Essa matemática malfeita envenena o setor. Segundo Caixeta, como o transportador não consegue remuneração suficiente para cobrir seus custos fixos, acaba tendo que deixar o negócio. E isso contribui para que o frete continue defasado. “Temos uma dinâmica muito clara de entrada e saída de transportadores no mercado. Aquele que deixa de operar é substituído rapidamente por outro que conseguiu financiamento para comprar um caminhão e vai puxar frete, se sujeitando a um ganho muitas vezes aviltante”, comenta.

Para o consultor em logística Tarcísio Marcelo Menezes, da LTI Consultoria, o mercado de transporte de grãos sofre com os aventureiros. “Muitos entram no setor, mas não são transportadores de fato”, afirma.

O diretor de Logística da Câmara Técnica do Agronegócio da NTC&Logística também diz que o mercado de transporte de grãos no geral é “muito informal”. Segundo ele, isso tem dificultado a permanência das empresas mais organizadas. “Talvez a causa seja a nossa própria incompetência, o fato de o segmento não saber a força que tem. Estamos muito desunidos. E com isso a concorrência é desigual entre empresas que sonegam impostos e aquelas que trabalham direito. Os custos de uma e de outra são muito diferentes”, argumenta.

Outro entrave na negociação de preços de frete mais compensadores, de acordo com o consultor Menezes, é a falta de qualificação de muitos transportadores. “Muitos não sabem nem calcular o custo do quilômetro rodado.” Para ele, esta falta de profissionalização no setor criou uma situação em que os “empresários” que não têm origem no transporte acabam concorrendo com quem realmente é do ramo. “Existe uma cultura

Marco Aurélio Siton: “Tem que sobrar 35% a 40% do valor do frete líquido”

segundo a qual é preciso se sujeitar ao valor oferecido, porque o transportador raciocina da seguinte maneira: se eu não levar (a carga) o outro leva. E, com isso, o setor fica refém do embarcador”, afirma.

Autônomos dizem que estão satisfeitos
Para alguns caminhoneiros autônomos, o valor do frete nesta safra está compensando. Enquanto aguardava na fila para descarregar as 37 toneladas de soja que trouxe de Diamantina (MT) para uma indústria de óleo em Cambé (PR), Marco Aurélio Siton fazia cálculos simples e garantia à reportagem que tinha feito um bom negócio. “Eu somo a ida e a volta e calculo o consumo de óleo diesel. Se sobrar entre 35% e 40% do valor do frete líquido, a viagem compensou. E isso eu consegui”, afirma.

Marcelo Ferraresi: “Se der R$ 3,00 por quilômetro, já compensou”

Siton diz que transportou a soja por R$ 150 a tonelada. “No ano passado, nesta mesma época (final de fevereiro), fiz o mesmo trajeto por R$ 135 a tonelada”, compara.

Marcelo Ferraresi também acha que os ganhos estão bons nesta safra. Ele trouxe grãos de Nova Mutum (MT) para Cambé por R$ 160 a tonelada. Para saber se valeu a pena, Marcelo divide o valor do frete pela distância, depois de descontar a despesa com óleo diesel. “Se der R$ 3,00 por quilômetro, já compensou. Nesta safra, as transportadoras estão implorando por um caminhão, e eu consegui fazer a média de R$ 3,92 o quilômetro rodado. Isso é muito bom, até compensa subir (voltar para o Mato Grosso) vazio”, diz.

 

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