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Sul: Estradas ultrapassadas pelo tempo

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Transportadores apontam as rodovias como um grande ponto fraco da região Sul. A qualidade das estradas da região está muito aquém do que ela representa para a economia do Brasil

Nelson Bortolin

Maior produtora nacional de grãos, detentora de três dos principais portos do País, geradora de 16% da riqueza nacional em 2006 (segundo maior PIB), a região Sul deixa a desejar quando o assunto é a malha rodoviária. Esse é o principal aspecto levantado por lideranças de transportadores do Sul, solicitados pela reportagem da Carga Pesada a apontar os temas mais relevantes para o setor na região. Falam, também, das dificuldades trazidas pela crise financeira internacional, que tiveram particular impacto no Sul devido à brusca queda nos negócios com os vizinhos do Mercosul.

No que diz respeito à malha rodoviária, enquanto São Paulo tem 25% de suas rodovias estaduais e federais duplicadas, em nenhum dos três estados do Sul esse índice chega a 5% (veja as distâncias na tabela). Ou seja, as rodovias não acompanharam o desenvolvimento da região. Mas os pedágios são altíssimos. Enquanto nas três praças da Econorte, no Norte do Paraná (BR-369), uma carreta com seis eixos paga R$ 55,80 em pista simples, na Castelo Branco, estrada de pista dupla infinitamente melhor, a mesma distância custa de R$ 36,60 a R$ 49,80, dependendo das praças.

“Nossas rodovias têm 40, 50 anos, e seu traçado não atende às necessidades dos veículos de hoje, que são mais velozes e mais compridos”, diz o gaúcho José Carlos Silvano, presidente do Setcergs. Isso se traduz em risco para o transportador rodoviário, prossegue: “Em pleno século 21, não se admitem rodovias importantes de pista simples onde os caminhões passam a 30 ou 40 cm uns dos outros, sendo frequentes os choques frontais e laterais”.

PODRE – A principal ligação do Meio-Oeste catarinense com o resto do Brasil é a BR-153 – e encontra-se em péssimas condições. “De Curitiba a Uruguaiana, a estrada precisa de uma reestruturação completa. Está podre”, afirma o presidente da Coopercarga, Dagnor Schneider. “Limitam-se às operações tapa-buracos. O asfalto está totalmente deteriorado. Quando o caminhão passa, é um balanço só.”

Estradas ruins com pedágio caro – esse, em resumo, é o cenário no Paraná e no Rio Grande do Sul. Uma situação inaceitável, conforme várias fontes. Os gaúchos passam por mais de 30 praças. “De Porto Alegre a Rio Grande, num trecho de 330 km, temos nove pedágios (cinco para ir e quatro para voltar) e três concessionárias (Concepa, Metrovias e Ecosul). É um absurdo”, diz o presidente do Setcergs. Por isso, diz ele, o porto de Rio Grande está perdendo parte da exportação gaúcha para Itajaí.

Aldo Fernando Klein Nunes, presidente do paranaense Setcepar, faz coro com Silvano. “Nossa dificuldade é o pedágio. No Paraná, é caro demais, atrapalha a economia do Estado.”

POLITICAGEM – O Paraná e o Rio Grande do Sul foram os primeiros Estados a implantar pedágio, na década passada, a um preço muito alto, definido num ambiente cheio de interesses políticos. No Paraná, em 1998, o ex-governador Jaime Lerner chegou a fazer um acordo com as concessionárias e a cortar pela metade as tarifas que ele mesmo havia estabelecido, porque ia perder a reeleição, tamanha a impopularidade do pedágio. Mas, depois de reeleito, recompôs o valor original e ainda somou o descontado.

Régis Bitencourt: mesmo consertada, é uma estrada lenta e perigosa

No Rio Grande do Sul, também em 1998, Olívio Dutra venceu o então candidato à reeleição Antonio Britto com o slogan “Britto é o pedágio, Olívio é o caminho”. Britto havia implantado o pedágio gaúcho.

As lideranças ouvidas pela Carga Pesada estão mais otimistas em relação às novas concessões federais na região Sul, recentemente implantadas, nos trechos São Paulo-Curitiba (Régis Bitencourt), Curitiba-Palhoça (BRs-376 e 101) e Curitiba à divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul pelo interior (BR-116). O pedágio, aí, é bem mais barato, e as estradas, se não são ideais, pelo menos não estão deterioradas.

A estrada é consertada, mas o traçado não muda

Não existe um plano de efetiva modernização de rodovias nos três Estados do Sul. O máximo que se vê é duplicação de rodovia antiga e supersaturada, que ganha mais uma pista mas mantém o velho traçado obsoleto e perigoso. É o que está ocorrendo em Santa Catarina, onde o governo federal aplica R$ 1,4 bilhão na duplicação do trecho Sul da BR-101, entre Palhoça e a divisa com o Rio Grande do Sul. O trecho Norte, até o Paraná, foi recentemente duplicado.

Ainda em Santa Catarina, o DNIT informa que está em fase final a licitação para a recuperação do pavimento da BR-153, obra que vai custar R$ 28,9 milhões.

No Rio Grande do Sul, segundo o diretor do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), Vicente Britto Pereira, o governo estadual está investindo este ano R$ 350 milhões em 60 trechos rodoviários não pedagiados. “Temos um programa de restauração de quase dois mil quilômetros que estão em péssimas condições”, informa Pereira.

O Paraná também desenvolve programas de manutenção e pequenas ampliações da malha rodoviária existente. E só.

 

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