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Uma freada nos negócios

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Transporte de carga sofre com as conseqüências da crise financeira que afeta importantes setores econômicos, como o agronegócio e as exportações

Nelson Bortolin

A crise financeira, que se agravou a partir de setembro nos Estados Unidos e se alastrou pelo mundo, já apresenta importantes sintomas no Brasil e é sentida no setor de transportes. A parte mais atingida é a do transporte ligado ao agronegócio, afetado pela queda da cotação internacional de alguns produtos, as chamadas commodities. Com a queda geral de oferta de crédito para as empresas, certos tipos de fretes baixaram de preço. Mesmo assim, algumas lideranças mantêm o otimismo e não vêem o perigo de uma recessão em larga escala, que assusta muita gente.

O empresário paulista Urubatan Helou, presidente da Braspress, por exemplo, acredita que, apesar da atual restrição de crédito, causadora de grandes dificuldades, “a partir de fevereiro ou março estaremos restabelecendo a verdade econômica do Brasil, que é positiva”.

O presidente da NTC, Flávio Benatti, cita a forte retração do transporte rodoviário internacional, em torno de 40%, como um indicador da crise, mas pondera que, sendo o setor de transporte muito segmentado, “o impacto não é igual para todos”. Por isso também prefere aguardar 2009 para ter uma noção mais clara do que pode ocorrer.

ENXURRADA – O que já está ocorrendo, no momento em que estas linhas estão sendo escritas (primeiros dias de dezembro), é uma enxurrada de notícias negativas sobre o desempenho da economia. Os problemas de falta de crédito não são apenas no Brasil, mas nos países ricos também. Todos os governos anunciam, a cada dia, novas medidas de socorro a bancos e empresas em dificuldades.

A situação é tão inusitada que, há menos de seis meses, todos tremiam, espantados, diante da elevação desenfreada do preço do petróleo (foi muito além dos 100 dólares o barril) – era uma ameaça à produção de bens. Hoje, todos tremem, espantados, com a fulminante queda de preços do petróleo (já em torno dos 50 dólares), causada pela sensação geral de que não será necessário tanto petróleo assim para produzir bens, pois ninguém vai querer comprar. Por incrível que pareça, é melhor torcer para que o petróleo suba de preço do que o contrário.

Caminhões na aduana: segundo Flávio Benatti, da NTC, o transporte internacional de mercadorias caiu 40%

No Brasil, as indicações da presença da crise são do tipo: demissões na mineradora Vale, porque a produção caiu (e o minério de ferro é matéria-prima essencial em inúmeros setores da economia); férias coletivas e demissões na indústria automobilística; elevação dos índices de desemprego; e a já citada criação de obstáculos para que as empresas alcancem o crédito de que precisam para continuar funcionando. Na indústria automotora, ocorreu uma abrupta queda nos números da produção. Para se ver como o problema já chegou ao transporte, a produção de caminhões caiu 16,2% de outubro para novembro e a espera pela entrega de um Volvo novo, por exemplo, que antes chegava a quatro meses, caiu para apenas 20 dias. Embora este ano, no geral, vá fechar com números espetaculares de produção tanto de caminhões como de outros veículos, para o ano que vem os observadores já têm como certa uma queda, que pode chegar a 20%, na opinião dos mais céticos.

SEM ACREDITAR – Quem está fugindo do ceticismo é Gilson Mansur, diretor de vendas de veículos comerciais da Mercedes-Benz, que não vê motivos para temer a crise: “Não tem crise. Não faltou dinheiro para o Finame. Para o segmento de ônibus e vans, por exemplo, não tem crise. As programações de compras continuam. Para o segmento de carga, é normal uma desaceleração agora, pois quem comprou, comprou em outubro. Quanto mais longe dos grandes centros, mais normal está a situação. Quem decide esperar é porque pode. Para quem planta, não dá para esperar. O [presidente]Lula está certo. ‘A crise não veio’ é o que temos que repetir. Se você acreditar na crise e deixar de comprar, a crise vem e você acaba perdendo o emprego”.

Outro que fez a opção de não acreditar na crise é Adalberto Panzan Jr., presidente da Associação Brasileira de Logística (Aslog). “Eu, na verdade, optei por não participar da crise”, diz ele, referindo-se ao fato de que, como empresário, não compra financiado e, portanto, a falta de crédito não o afeta diretamente. “É lógico que o aperto de crédito pode ser constatado por quem depende dele”, ressalva.

Para Panzan, os reflexos da situação atual são diferentes em cada setor da economia. No dele, dá até para conquistar novos negócios: “Uma empresa desativou uma seção inteira de call center e precisou de um lugar para guardar móveis e computadores. Eu estou armazenando”. Ele dá outro exemplo: o Wal-Mart divulgou uma semana depois da quebra do Lehman Brothers (banco americano) que estava vendendo 30% a mais de cofres… Panzan é dos que acreditam que o trabalho é a resposta para as dificuldades: “Passei a visitar mais clientes, apresento mais propostas. Compartilho da opinião daqueles que dizem que crise é uma oportunidade de crescimento. A crise faz a gente ficar mais ligado”.

No transporte de grãos, grande preocupação

Para o transporte de grãos, a situação econômico-financeira já é grave. “Uma catástrofe”, nas palavras do diretor-executivo da Associação dos Transportes de Carga (ATC), Miguel Mendes, de Rondonópolis (MT). No campo, falta dinheiro para fertilizantes e defensivos, o que reduzirá a produtividade da safra recém-plantada. Sem contar que a queda do preço dos produtos, principalmente do milho, já derrubou o faturamento das transportadoras. “A expansão da frota está suspensa na maioria das empresas e, se a situação perdurar, cada uma terá que tentar renegociar dívidas”, completa.

Maurício Galvão, proprietário da Bom Jesus Transporte, de Rondonópolis (MT), diz que o frete de grãos caiu 20% desde outubro. Com a perspectiva de uma safra menor em 2009, “a situação é de tirar o sono”. “Nunca vi os bancos tomarem tantas máquinas dos produtores como agora”, completa.

No transporte de álcool, porém, o panorama é outro. Oswaldo Vieira Caixeta, da Transac, de Paulínia (SP), conta que houve uma pequena redução no volume transportado em outubro. Mas o valor do frete para operações sem contrato caiu mais de 10% em novembro. “Diminuiu a exportação do álcool e começou a sobrar caminhão.”

Caixeta prevê que os fretes ficarão baixos até fevereiro, mas voltarão a subir. “Não acho que o mercado de álcool em 2009 será menor que em 2008, porque muitas usinas foram implantadas este ano.” Se o barril de petróleo se mantiver pelo menos a 50 dólares, ele acredita que a exportação do álcool continuará viável.

Já para o presidente do Sindicam de São Paulo, Norival de Almeida Silva, a prova de que a crise já atingiu o Brasil é a própria restrição ao crédito. “Os juros subiram e, além disso, agora os bancos já me exigem mais garantias, mais ponto e vírgula no cadastro, porque sabem que a dificuldade do pagamento é muito maior.”

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