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VIDA NA BOLEIA: Empresas investem no conforto das cabines

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Camas macias, ar-condicionado e câmbio automatizado são alguns dos “agrados” para estimular a profissão de caminhoneiro

Com dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, as empresas de transporte estão investindo cada vez mais no conforto das cabines de caminhões para atrair motoristas. Camas macias, ar-condicionado, climatizadores, bancos ergômetros, maleiros e geladeiras são itens cada vez mais presentes nas boleias. Isso sem contar câmbio automatizado e piloto automático que fazem toda diferença.

Paulo Roberto Schlichting, de Curitiba, lida com caminhão desde 1979. É filho de caminhoneiro e diz que a profissão está “no sangue”. Já teve empresa de transporte, mas o negócio não foi bem. E passou a trabalhar como motorista empregado em 2014.

Paulo Roberto Schlichting

Atualmente, ele está pilotando um Scania 380, ano 2010, mas começou num antigo Jacaré. Para ele, o conforto na cabine melhorou muito. “Nem se compara”, afirma. Acostumado a trabalhar pelos lados de Cuiabá, com calor de 32 graus à noite, o curitibano diz que ar-condicionado é fundamental.

O ar do caminhão que Schlichting está dirigindo só funciona com o motor ligado. À noite, ele liga o climatizador que já quebra bem o galho. “Sem climatizador seria impossível dormir no verão em determinados lugares”, alega.

Dirceu Copobianco, motorista empregado de Gastão Vidigal (SP), pilota um veículo quase zero quilômetro, um Volvo 460, ano 2021. Mesmo tendo apenas cerca de 10 anos de estrada, ele já percebeu uma evolução bem grande na boleia neste período. “Melhorou 100%”, declara.

Copobianco ressalta a altura da cabine do veículo, onde ele consegue ficar em pé tranquilamente. Mostra os guarda-roupas, maleiros e um compartimento ao lado do banco onde guarda alimentos e até um vinho “para tomar à noite, depois do trabalho”.

O motorista gosta muito do banco a ar, que reduz o impacto das “pancadas” das estradas ruins. Melhor seria se o caminhão tivesse ar para usar com o motor desligado. Mas o climatizador já ameniza o calor à noite. “Sem ele seria dureza dormir principalmente quando a gente vai para os lados do Mato Grosso.”

O câmbio automatizado é “uma beleza”. “Pensar que antes a gente tinha que ficar trocando marcha, imagina”. O piloto automático também é uma mão na roda. “Não precisa nem acelerar”, ressalta.

Questionado como seria se tivesse que dirigir um caminhão sem esses recursos, ele nem quer pensar a respeito. “A gente tem que ir para frente”, afirma, lembrando que há caminhões com sensor de distância em que o motorista não precisar frear. “Pra trás não dá par ir.”

Outro que destaca a melhora na qualidade de vida da cabine é Reinaldo Batista Frutuoso, caminhoneiro empregado de São José do Rio Pardo (SP). Com 32 anos de estrada, hoje ele pilota um Scania 440 seminovo, com muitos itens de conforto. E lembra do antigo Ford Cargo que pilotou. A cabine era apertada. Na hora de dormir, tinha de baixar a cama basculante que ocupava todo o espaço até o painel do caminhão. “Não tem nem comparação”, alega.

Mesmo com todo o conforto de hoje, ele não seria caminhoneiro se pudesse mudar de vida. “Não somos bem-vindos em lugar nenhum. O povo parece que tem raiva do motorista de caminhão.”

O preconceito com os profissionais somado a salários não muito atraentes, segundo ele, diminui o interesse pela estrada. “Rapaz novo não quer ir atrás de caminhão. Já está faltando motorista.”

NOITE JUDIADA

Se, por um lado é comum encontrar motoristas empregados com caminhões confortáveis e modernos, por outro, a falta de recursos na boleia continua castigando a maioria dos autônomos. Aos 70 anos de idade, Antônio Gomes Pereira, de Avaré (SP), tem um Volkswagen 17310, de 1994.

O veículo nem cama tem. “A gente dorme atravessado no banco. É uma noite meio judiada”, declara. Ar-condicionado é um luxo com o qual o paulista sonha. Na hora de dormir, o recurso que ele tem é abrir as janelas e também o “refresca chifre”, nome que ele dá a escotilha do teto da cabine.

Tendo sustentado mulher e cinco filhos como caminhoneiro, profissão que exerce desde 1972, Pereira diz que vai ficar na estrada “até quando Deus quiser”. E continua sonhando com uma boleia mais confortável.

TOP DE LINHA

O motorista paranaense de Cambé (PR), Luís Dante, é uma exceção das estradas. Tendo sido bem sucedido numa empresa de transporte que já vendeu, ele segue dirigindo porque ama a vida na boleia. E pode se dar ao luxo de pilotar um caminhão top de linha. O Scania S 500, que ele comprou há pouco mais de um ano, tem de tudo. “Conforto é essencial para o motorista”, conta Dante, que escolheu um veículo da linha Streamline, com piso totalmente plano e teto alto. “Tenho 1,80 de altura e ainda sobra uns 20 centímetros para cima de mim quando fico de pé na boleia.”

O caminhão tem duas camas (beliche) de ótima qualidade, cada uma com 85 centímetros de largura. E o ar-condicionado é digital, com modo noturno, que funciona até 6 horas ininterruptas com o motor desligado. “Dá para passar uma noite bem tranquila”. Uma geladeira que chega a uma temperatura de 15 graus negativos está posicionada ao lado do banco do motorista.

Dante tem 47 anos, 22 deles dedicados ao transporte de carga. “Quando comecei lá atrás, não tinha vidro elétrico, não tinha cama, a cabine era baixa”, recorda.

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