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Terminais ferroviários da ALL castigam caminhoneiros

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Em Alto Taquari e Alto Araguaia, pode-se ficar dias na fila e ainda quebrar o caminhão nos buracos do pátio, que não é asfaltado

Nelson Bortolin

Não é de hoje que os transportadores reclamam das condições como os caminhões são recebidos nos terminais ferroviários da ALL (América Latina Logística) em Alto Taquari e Alto Araguaia (MT). Sempre que aumenta o trabalho, os problemas se agravam.

Os pátios são de chão batido, com muita poeira ou lama, há poucos banheiros, a estrutura para refeições é precária, o mau cheiro (provocado pelo apodrecimento de grãos que se perdem na descarga) é intenso – essas são as principais reclamações.

Miguel Mendes, da ATC: buscando ajuda do Ministério Público contra a ALL

O pior aborrecimento, nos picos da safra, é o tempo de espera fora dos terminais, às margens da estrada (as velhas filas da descida da serra para o Porto de Paranaguá só mudaram de endereço…). “Lá fora não tem banheiro. E tem motorista que fica lá cinco dias”, contou o diretor-executivo da ATC (Associação dos Transportadores de Carga) de Rondonópolis (MT), Miguel Mendes, dias antes do carnaval. “E no pátio é uma buraqueira só. Estes dias estive lá e eu mesmo vi um caminhão que caiu num buraco e quebrou ao sair da classificação”, completa.

Mendes diz que a ordem de chegada dos caminhões não é obedecida e a descarga é desorganizada. “Os caminhoneiros não conseguem nem cochilar no pátio (a descarga é feita 24 horas por dia). Eles têm de deixar a janela do caminhão aberta para ouvir a chamada no alto-falante. Estão sendo comidos por pernilongos.”

Em 2006, o Ministério Público do Trabalho (MPT) foi procurado pelos transportadores e exigiu adequações da ALL, mas, segundo Mendes, a empresa não fez o que prometeu. “Estamos buscando novamente o Ministério Público”, informou.

Só que agora o procurador do MPT em Rondonópolis, Paulo Douglas Almeida de Moraes, já não está tão disposto a intervir no caso dos terminais da ALL em favor dos transportadores, a não ser que eles ofereçam algo em troca: um limite razoável para a jornada de trabalho dos motoristas, segundo ele próprio informou à Carga Pesada.

“Lá dentro é difícil, fora é pior”

“Lá dentro, quando chove, é barro até na canela. E o banheiro é uma sujeira”, conta o motorista Isonel Alípio David, 59 anos, da Transportadora Imperador, de Rondonópolis, sobre o terminal de Alto Taquari. Para ele, outro problema nos terminais da ALL em Mato Grosso está na falta de funcionários: são três em cada moega ou tombador. “Tinha que ter meia dúzia para agilizar”, acredita. Ele afirma que já chegou a ficar 75 horas no interior do pátio esperando a descarga. Fora, seu recorde foi esperar 40 horas, numa fila de seis quilômetros na rodovia. “Lá dentro as condições são difíceis, mas fora é pior. Não tem banheiro. Para comer, só marmitex que algumas pessoas passam por ali vendendo.” O terminal de Alto Taquari fica a 20 km da cidade.

Pátio com o tempo seco: poeira. O banheiro: pequeno e “uma sujeira”

Meri José Schmidt, dono da Imperador, diz que as condições de trabalho dos caminhoneiros nos terminais “são desumanas”. “A ALL tem uma estrutura precária e não faz manutenção. É uma situação de calamidade, que pesa no nosso bolso. Os caminhões, quando não há lugar no pátio, ficam na rodovia, vem a Polícia Rodoviária e multa. Lá dentro, naquela buraqueira, o caminhão quebra, um pneu fura…”

Meri diz que é difícil negociar uma melhoria com a ALL. “Os funcionários alegam que quem manda é Curitiba (a matriz) e não podem fazer nada. Dizem que a culpa é das empresas, que mandam caminhões demais ao mesmo tempo para lá.”

Mas a responsabilidade é da ALL, acrescenta o transportador, porque há problemas de todo o tipo: “As balanças são antigas e sempre têm problemas. Tem uma tulha lá no Alto Araguaia que não está funcionando. É uma estrutura muito precária.”

RESPOSTA DA ALL– Procurada pela reportagem, a ALL não negou nenhum dos problemas apontados pelos transportadores, exceto a falta de funcionários. O superintendente dos terminais, Henrique Peterlongo, disse que a empresa estava colocando cascalho nos dois pátios. Já o asfaltamento, que seria uma solução definitiva, não está previsto, e Peterlongo aponta a dificuldade de ser preciso interditar os terminais para asfaltar.

Ele garante que não haverá mais filas fora do pátio depois que a empresa instalar, até o começo de maio, mais um tombador em cada terminal. “Vamos aumentar nossa capacidade em torno de seis mil toneladas/dia, cerca de 160 caminhões a mais por dia.”

Também está sendo iniciada a construção de 20 novas duchas e 20 sanitários em cada terminal, além da reforma dos refeitórios. Devem ficar prontas em maio.

Segundo Peterlongo, não faltam funcionários. “Os três que operam em cada tombador são o número certo; colocar mais não vai agilizar o trabalho.” Sobre as balanças, afirma que a ALL está comprando novas para os dois terminais.

Em relação à chamada para descarga, o superintendente diz que a ordem de chegada dos caminhões é seguida rigorosamente. Só no caso do farelo, de responsabilidade de um único embarcador, é que não é assim. As moegas foram feitas especificamente para esse cliente, que tem prioridade.

Quanto à reclamação de falta de diálogo com a ALL, ele diz que a empresa está sempre de “portas abertas”. “Estamos aqui no terminal o tempo todo. Eu converso com os motoristas todos os dias no pátio.”

 

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