Joana Andrade Soares e Iara Andrade Schimmelpfeng são irmãs e ocupam altos cargos na administração da Transbahia, que pertence à família. Têm grande vocação para os negócios
Dilene Antonucci e
Nelson Bortolin
Assumir um posto de liderança numa atividade masculina como a distribuição e o transporte de combustíveis não é para qualquer mulher. É preciso estar bem preparada para vencer o preconceito mostrando conhecimento e inteligência. As irmãs e empresárias baianas Joana Andrade Soares e Iara Andrade Schimmelpfeng chegaram lá. Integrantes de um grupo de cinco herdeiros formado por três mulheres e dois homens, somente as duas atuam na alta administração da Transbahia, empresa de um conglomerado que inclui uma rede de postos, uma distribuidora de combustíveis, a Petrobahia, uma construtora e uma trading.
“A área de transporte de combustíveis é machista e muito agressiva. Já fui ameaçada de morte. Passei 30 dias trancada em casa para me proteger de motorista trambiqueiro”, afirma Joana, formada em Administração, com especializações em Gestão no Canadá e na Fundação Dom Cabral (FDC), e em Logística pela Faculdade Rui Barbosa.
Joana não se rendeu às dificuldades. “Eu nunca me senti diferente dos homens que atuam neste mercado. Mas já sofri alguns preconceitos. Graças a Deus, soube lidar muito bem com eles”, declara. O apoio do pai, Ruy Argeu do Amaral Andrade, foi muito importante. “Uma vez estávamos num lançamento de caminhão e os homens começaram a falar palavrões. Um deles olhou pra mim e pediu desculpas, mas falou que ali não era lugar de mulher”, conta. O pai interveio na conversa: “Ele disse que estava ali de convidado, porque quem mandava nos negócios era eu”.
Questionada se é alvo de assédio e como lida com isso, ela responde: “De maneira natural: fecho a cara e me imponho com firmeza na voz, com postura de mulher que realiza seu trabalho tão bem quanto os homens”, afirma.
Segundo a empresária, machismo no setor de transporte não é exclusividade brasileira. Recentemente, ela e a irmã estiveram no evento Queen of the Road, realizado pela Scania América Latina. Conversando com colegas estrangeiras, observaram que elas enfrentam as mesmas barreiras em seus países.
As mulheres se queixaram, por exemplo, de serem preteridas na sucessão das empresas. “Os pais esperam que quem assuma os negócios seja um homem.” Por sorte, sua história está sendo diferente. Seu pai e o tio Luiz Gonzaga do Amaral Andrade, também fundador do grupo, sempre a apoiaram. Mas na época do avô não era bem assim, conta a irmã Iara: “Quando ele via a gente brincando na empresa dentro dos caminhões, já falava: ‘não adianta tomarem gosto porque quem vai cuidar dos negócios será seu irmão’”. Mas o irmão tornou-se advogado e não participa da gestão das empresas da família.
Iara, administradora com pós-graduação em gestão de projetos e de negócios pela FGV e FDC, acredita que, aos poucos, as mulheres irão consolidar seu espaço no TRC. Não sem muito esforço. “Temos de nos preparar muito mais, tecnicamente. Conversa de homem é mais fácil de ser aceita. Nós precisamos entender a fundo dos assuntos para sermos respeitadas.”
A empresária diz que as mulheres fazem a diferença porque têm um jeito novo de olhar para o negócio. “Não dá para explicar cartesianamente. Mas quando a gente está numa reunião, normalmente os homens vêm sempre com o mesmo pensamento. A gente propõe uma nova visão e muda o contexto. Trazemos sempre um pouco do novo.”
Uma história
de 41 anos
Os irmãos Luiz Gonzaga e Ruy Andrade construíram seu grupo de empresas a partir de uma lojinha de material de construção, a Gameleira, fundada há 41 anos na Ilha de Itaparica, no litoral baiano. O segundo negócio da dupla foi um posto de combustível que levou o mesmo nome. Aos poucos, foram montando outros postos.
Joana Andrade Soares conta que “uma coisa foi levando a outra”. O pai e o tio sentiram a necessidade de montar uma transportadora para abastecer a Rede Gameleira. Daí, nasceu a Transbahia, em 1988, que hoje também opera para a Petrobras.
Em 1996, foi a hora de criarem a Petrobahia, uma distribuidora de combustível, que hoje conta com seis postos próprios e 90 postos fidelizados.
O grupo ainda atua na área da construção e conta com uma trading. “A Transbahia é especializada no transporte de produtos petroquímicos. Temos diversas certificações, 96% de nota do ranking Petrobras e cerca de 115 veículos tratores”, conta a empresária.
Ela diz que os fundadores incutiram nela e na irmã o senso de gerir o negócio com responsabilidade. “O grupo gera cerca de 800 empregos. Apesar da crise, não fizemos demissões.”
Os fretes é que não andam lá grande coisa. “Existe caminhão demais no mercado”, é a explicação de Iara Andrade Schimmelpfeng.