Força é semelhante à do modelo a diesel e custo do km é 15% menor
Roberto Queiroz
Dois projetos diferentes, porém similares, servem de base a mais um desenvolvimento Scania, que vai mostrar na Fenatran também sua nova oferta de motores e caminhões a gás. De um lado, a Morada Logística, em seu atendimento ao cliente Citrosuco, comprovou que, em relação a um modelo diesel, houve uma diminuição de 15% no custo do km rodado. A outra opção nasce agora em operação em uma das usinas da São Martinho, que realizará demonstrações utilizando o biometano da ZEG em um caminhão Scania.
Em ambos os casos, o motor adotado é o mesmo, um 13 litros com 410 cv. A Morada vem rodando com um R410 rodoviário, enquanto a ZEG, na São Martinho, utilizará um fora de estrada G410 XT 6×4. A proposta da montadora é mostrar sua solução em dois mercados diferenciados.
Scania e Citrosuco têm sido parceiras em desenvolvimentos diversos desde os anos 1990. Em outubro de 2018, anunciaram a primeira demonstração com um caminhão que pode ser abastecido com GNV (gás natural veicular) ou biometano, no Brasil. Quase um ano depois, os resultados são animadores. Na demonstração, o R410 vem tendo um desempenho consistente e força semelhante à do caminhão a diesel, além de ser 20% mais silencioso. A redução de CO2 pode chegar a até 15% na comparação com o diesel.
O veículo, da nova geração, rodou 110 mil km até agora, apenas com gás natural, na rota escolhida entre Matão (sede da Citrosuco) até o Porto de Santos (SP), levando suco de laranja para exportação. A Morada Logística, prestadora de serviços da Citrosuco, cuida de toda a operação logística.
No segundo exemplo, a Scania e a ZEG, empresa do Grupo Capitale Energia, dedicada exclusivamente à geração de energia renovável, estão juntas no projeto que coloca o primeiro caminhão 100% movido a biometano em operação no País. “De um lado oferecemos a tecnologia e, do outro, a ZEG viabilizará a produção do combustível e o abastecimento”, diz Christopher Podgorski, presidente e CEO da Scania Latin America.
CENÁRIO – Silvio Munhoz, diretor Comercial da Scania no Brasil, também destaca que o motor é um Ciclo-Otto 100% a gás e biometano, ou mistura de ambos. “Não é conversão. Ele tem garantia de fábrica e tecnologia confiável. A solução é comprovadamente mais sustentável do que o diesel e o custo é viável economicamente, considerando a realidade atual de preços do combustível e dos altos impostos”, afirma, consciente que a viabilidade econômica é crucial para o projeto.
André Leopoldo e Silva, diretor-geral da Morada Logística, também aprova a demonstração. “A parceria está sendo de muito sucesso. A Citrosuco foi enfática em afirmar que procura alternativas de combustíveis. Quando surgiu a oportunidade deste projeto, topamos na hora.”
A garantia de oferta de gás é a grande alavanca para a participação da ZEG no projeto automotivo. Segundo Daniel Rossi, CEO da ZEG e sócio-fundador da Capitale Energia, a ZEG desenvolveu uma tecnologia de produção do combustível em estruturas de médio porte, com escala replicável. A ideia é instalar plantas de produção no interior do Brasil, onde atualmente a oferta de gás natural é inexistente, em parceria com empresas de agronegócio ou indústrias.
“Utilizando resíduos orgânicos conseguimos produzir um combustível de excelente qualidade, com performance equivalente ao gás natural e com muitas vantagens ambientais, com redução de até 90% da emissão de gases do efeito estufa”, explica Rossi.
COMBUSTÍVEL – O GasBio – nome dado ao combustível da ZEG, está sendo produzido no distrito de Sapopemba, em São Mateus (SP), a partir do biogás do Centro de Tratamento de Resíduos Leste. Mas a tecnologia permite a produção de combustível a partir de resíduos da cultura de cana-de-açúcar e de outros tipos de resíduos agrícolas e industriais.
Por isso, o próximo passo é disponibilizar o GasBio aos consumidores da “Rota do Agronegócio”, que contempla as rodovias que ligam o Centro-Oeste ao Porto de Santos, como a BR-163, a BR-364 e a BR-504. A empresa, inclusive, já desenvolveu parcerias com fornecedores de equipamentos de abastecimento para postos que poderão operar com segurança nesse abastecimento. Essa projeção é extremamente bem-vinda na Scania, especializada na oferta de veículos para atender o agronegócio.
O potencial de produção de biometano no setor sucroalcooleiro e no agronegócio é de cerca de 70 milhões de m³/dia, segundo a ABiogás, motivo pelo qual o setor vem se referindo a esse potencial como o “Pré-sal caipira”. O consumo de gás natural no Brasil em 2018 foi de cerca de 63 milhões de m³/dia.
A aposta da Scania para a América Latina está nos veículos movidos com gás natural e/ou biometano e, para tanto, investiu R$ 21 milhões para a industrialização dos novos veículos, que passam a ser produzidos a partir do primeiro trimestre de 2020.