Nelson Bortolin
Revista Carga Pesada
Desde criança, o mineiro Jean Carlos de Andrade tem mania de escrever. Aos 18, quando tornou-se caminhoneiro a exemplo do pai, ele criou seu diário de bordo, onde anotava tudo o que ocorria nas viagens. Durante 15 anos, o jovem nascido em Bom Repouso reuniu histórias e aventuras que foram contadas no livro “Vida de Caminhoneiro”, que publicou em 2010.
De lá para cá, escreveu outros sete livros. E, hoje, aos 38 anos, tornou-se o primeiro caminhoneiro do País a ingressar numa academia de letras, a Academia de Letras de Goiás, para a qual foi eleito em agosto. “Para mim, foi uma alegria enorme. Ser indicado para a academia de letras é muito significativo. Dá mais ânimo para eu continuar escrevendo. Significa que meu trabalho foi bem aceito”, afirma Andrade.
O mineiro conta que o pai sempre teve caminhão. “Aprendi a dirigir com ele em nosso Mercedes-Benz 1516. Em 1995, comecei a trabalhar em um Mercedes 1313 como empregado no transporte de batata”, recorda. Na boleia, entre uma parada e outra, o jovem escreveu muitas histórias e também poesias. Por ter feito ponta como ator no antigo seriado Carga Pesada, ele participou recentemente do programa Encontro com Fátima Bernardes, na Rede Globo, junto com o ator Antônio Fagundes, e a dupla Chitãozinho e Xororó.
A necessidade de dedicar-se à literatura e o desejo de fazer faculdade de letras fizeram o jovem dar um tempo da boleia. “Parei de viajar constantemente no final de 2013. De vez em quando ainda faço algumas viagens no caminhão de meu pai (um Volkswagen 16 220, ano 2003)”, declara. Para sobreviver, Andrade mantém uma loja de presentes na cidade de Estiva (MG). “Assim eu consigo conciliar a minha vida de escritor e a faculdade”, afirma.
Tendo exercido a profissão por quase 20 anos, ele lamenta a falta de respeito para com o caminhoneiro, que “transporta o alimento” e garante o “progresso” da Nação. “O caminhoneiro ainda é mal recebido em vários locais, ainda é maltratado por onde passa. O frete é muito baixo, as contas não fecham. As leis pegam demais no pé do estradeiro: sempre há algo novo para dificultar a vida destes guerreiros da estrada”, declara.
Segundo o escritor, o “autônomo não está mais conseguindo se manter”. Ele o pai tinham dois caminhões. Hoje, têm apenas um. “A Lei do Descanso seria uma boa coisa, mas é inadequada para os padrões brasileiros, pois aqui não há pontos de parada que sejam seguros e confortáveis”, reclama. Andrade ressalta que a segurança é um “caso sério” na vida do profissional da estrada. “Falta empenho das autoridades governamentais. O caminhoneiro não quer regalias, quer apenas respeito e consideração pela importância do trabalho que exerce”, defende.
Jean Carlos de Andrade deseja a todos os caminhoneiros do País um excelente 2015, com muita paz, saúde e amor. Esses também são os votos da Revista Carga Pesada. Feliz Ano Novo!