Os fretes estão defasados em 14,11%. Essa foi a conclusão de uma pesquisa feita pelo Departamento de Custos Operacionais, Estudos Técnicos e Econômicos da NTC&Logística (Decope) com mais de 250 transportadoras. O resultado foi divulgado nesta quinta-feira (26) na reunião do Conselho Nacional de Estudos em Transporte, Custos, Tarifas e Mercado – CONET –, em Salvador (BA).
“Embora parte do mercado tenha se mostrado sensível às necessidades da recomposição dos fretes, isso não tem efetividade na prática. Prova disso são as dificuldades que as empresas de transporte estão enfrentando para vislumbrar a recuperação de suas margens”, salienta Neuto Gonçalves dos Reis, coordenador do DECOPE.
O setor vem registrando diversas pressões sobre os custos nos últimos anos, entre as principais pode-se citar: aumento das restrições à circulação de veículos nos centros urbanos – barreiras fiscais, ineficiência de terminais de embarcadores, questões trabalhistas e o aumento significativo de exigências operacionais, comerciais e financeiras por parte dos clientes. Somam-se a isso as precárias condições da infraestrutura enfrentadas pelas empresas e a escassez de mão-de-obra qualificada, que registra atualmente uma falta de 106 mil motoristas no mercado.
Outros custos
Verifica-se, também, que o transportador não tem remunerados adequadamente muitos custos e serviços adicionais, não contemplados diretamente nas tarifas, tais como: o elevado tempo de espera para realizar carga e descarga (TDE), os custos adicionais causados pelas restrições à circulação de caminhões (TRT), os serviços de paletização, guarda/permanência de mercadorias, uso de escoltas e planos de gerenciamento de risco customizados, emprego de veículos dedicados, dentre outros.
“É importante observar que, muitas vezes, os custos com esses serviços são superiores ao próprio frete arrecadado. Portanto, trata-se de situação injusta e inaceitável, que precisa ser equacionada pelas partes”, explica José Hélio Fernandes, presidente da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística).
Não há como deixar de citar também os aumentos das tarifas públicas e impostos, alguns dos quais já são sentidos, como é o caso dos combustíveis cujos preços se elevaram em torno de 13,49%. Parece inevitável, aliás, que o aumento de combustíveis cause um efeito cascata, elevando, em futuro próximo, muitos outros insumos.
Roubo de Cargas
Outro problema que vem se agravando nos últimos anos é o roubo de carga. Esse evento vem se proliferando por todo o Brasil, e tem exigido das empresas de transporte grandes investimentos em segurança patrimonial. Destaque-se que há muitas operações que já exigem a utilização de escolta armada e cargas que inclusive requerem, em algumas situações, carretas blindadas e até escolta aérea. Este é um assunto que vem se tornando tão grave que para algumas regiões do Brasil já não há quem ofereça seguro para o transporte das cargas.
Ressalte-se que o estudo que apontou a defasagem nos fretes não contempla essa expectativa futura que tende a se tornar ainda pior se considerarmos que grande parte das convenções coletivas dos trabalhadores do setor está prevista já para o próximo mês de maio.
“No regime de livre concorrência de mercado em que vivemos, tais fatos indicam a necessidade que os transportadores exponham e discutam, clara e francamente, essa questão crítica da defasagem do frete praticado com seus embarcadores, buscando manter os seus contratos sempre alinhados à realidade expressa pelos números dos custos do transporte, de modo a manter a saúde das empresas, sem colocar em risco a tão almejada e necessária qualidade na prestação dos serviços”, finaliza Fernandes.
Índice Nacional do Custo do Transporte de Carga – Fracionada e Lotação
O número de defasagem do frete tem como base o estudo realizado pelo DECOPE sobre a variação média do INCT-F e INCT-L (Índice Nacional do Custo do Transporte de Carga – Fracionada e Lotação) no acumulado dos meses. A pesquisa, também divulgada hoje no evento, avalia, dentre outros temas, o impacto dos dois últimos aumentos de combustível nas operações de transportes.
O litro do óleo diesel sofreu dois reajustes em menos de quatro meses, o primeiro em novembro de 2014 e o segundo em 1º de fevereiro de 2015, e embora o Governo tenha anunciado um aumento em R$ 0,22 por litro para a gasolina e de R$ 0,15 para o diesel nas refinarias, outros fatores apontam um impacto ainda maior. Ao se acrescentar os demais impostos incidentes, como o ICMS e margem do posto, esse aumento pode chegar a R$ 0,35 para a gasolina e R$ 0,22 para o diesel.
Em estudos realizados pelo DECOPE/NTC, com retorno da CIDE e do PIS/COFINS, estima-se um aumento de 8,08% nos preços de bomba.