Se para distribuir carga de alto valor agregado num grande centro, como São Paulo, o transportador perde quase 10 horas em fila, imagine quanto sofrem os que transportam grãos. Estes dificilmente conseguem descarregar em menos de 24 horas. E ainda enfrentam um problema mais sério: “Pior que o tempo de espera é o problema de troca de notas, que se agrava a cada dia”, afirma o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de Mato Grosso (Sindicam-MT), Roberto Costa.
Antes de chegar ao destino, os motoristas são obrigados pelas tradings a fazer trocas de nota. “Um caminhoneiro que sai de Sorriso e vai até o terminal da ALL em Rondonópolis (pouco mais de 600 quilômetros) chega a ter de trocar quatro vezes”, diz Costa. O troca-troca de notas é corriqueiro pelas bandas de Mato Grosso. No ano passado, a Carga Pesada tratou desse assunto e tentou entrevistar as tradings sobre o porquê deste mecanismo. Ninguém fala a respeito. “Eu suspeito que se trata de uma manobra para driblar o Fisco”, declara o presidente do Sindicam-MT.
Costa reconhece que o tempo de espera para descarga nos terminais da ALL diminuiu nos últimos anos. Depois de intimada pelo Ministério Público, a concessionária da ferrovia tomou providências para se organizar. Desde a safra 2013/14 não se veem mais filas quilométricas de caminhões nas estradas de Mato Grosso. Por outro lado, o sindicalista alega que aumentou o tempo para descarga de fertilizantes, que os transportadores levam para o Estado como frete de retorno dos portos. “Em Rondonópolis, chegam a ficar quatro dias esperando a descarga.”
De acordo com ele, em geral os caminhoneiros não cobram das empresas as diárias a que têm direito após a quinta hora de espera. “Os contratantes, inclusive transportadoras, fazem lista negra. Quem exige diária não carrega nunca mais naquela empresa”, denuncia.
Certas empresas no Oeste da Bahia, para ser mais exato em Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, deixam os motoristas com fome e esperando em filas enormes na frente do setor de carga e descarga. Alguns encarregados ainda dizem: “Quem não quiser esperar que dê meia-volta”. Muita falta de respeito com quem faz o País crescer transportando a riqueza brasileira.
Hérculles Ribeiro de Souza, Xique-Xique (BA)
Infelizmente, 90% dos embarcadores tratam motorista pior do que cachorro. Muitos pegam a nota fiscal e avisam: “Não temos lugar para esta mercadoria. Quando arrumar, a gente chama”. E a gente fica dias pagando “pedágio” para bandidos para não ter as cargas saqueadas. Quando a gente vai reivindicar a diária, eles respondem: “Não pagamos”. Se exigir, nunca mais a gente carrega para a empresa. Somos tratados igual escravo.
João Gomes Pinheiro, Belo Horizonte (MG)
O Porto de Santos, o maior da América Latina, é uma verdadeira desorganização. A Codesp divulga que o agendamento das cargas funciona muito bem. Realmente funciona bem, mas somente até a chegada dos veículos nos terminais. Depois que o caminhoneiro chega, só Deus sabe a que horas vai descarregar. Ainda tem o agravante de que, se o caminhoneiro perder esse horário, precisa agendar de novo. Mas os terminais não sofrem nenhuma punição pela demora. Existem cargas que passam de 12 horas para ser retiradas ou entregues aos caminhoneiros.
Sonia Regina Branco, São Vicente (SP)