Na segunda reportagem sobre o que os jornalistas brasileiros viram na China, em viagem promovida pela Shacman, surge o maior problema chinês: o combate à poluição do ar
Dilene Antonucci
Um verdadeiro canteiro de obras movimentado por um mar de guindastes e caminhões que fazem a demolição de bairros antigos inteiros para dar lugar a grandes prédios. Assim é a cidade de Xi’an, na região central da China, com oito milhões de habitantes e sede da fabricante de caminhões Shacman, que está instalando uma fábrica também no Brasil, em Tatuí (SP).
Na economia que mais cresce no mundo, um dos problemas mais graves é a poluição nas grandes cidades. Não é para menos: a China fabricou 17 milhões de veículos em 2013; este ano, só de caminhões de todos os portes, vai fabricar quatro milhões; e, para completar, a principal origem da energia elétrica produzida no país está em usinas térmicas cujo combustível é o carvão.
A Shacman diz que está fazendo sua parte no combate à poluição, investindo na fabricação de caminhões movidos a gás natural. Dos 40 mil caminhões a gás produzidos no país no ano passado, pelo menos metade saiu da planta de Xi’an. É pouco, ante os milhões de veículos movidos a diesel, mas demonstra que o tema vem ganhando espaço no país onde é comum ver pelas ruas pessoas usando máscaras para respirar melhor.
Por ter uma autonomia de apenas 400 quilômetros, o uso do caminhão a gás esbarra na limitada rede de abastecimento, que é rara nas rodovias.
Mesmo assim, empresas como a Sinotrans, uma das gigantes do transporte na China, sobretudo marítimo e fluvial, já estão adquirindo este tipo de veículo para usar na distribuição de cosméticos de outra gigante, a P&G. Com 500 caminhões na frota e mais cinco mil de terceiros, a operadora logística integra a comissão de transportes do governo chinês.
O gerente geral da empresa, Li Zhao Ji, disse que o governo central, por intermédio da comissão de transportes, tem mantido contato constante com fabricantes de veículos, visando investimentos e pesquisas em combustíveis alternativos. Ele informou que pelo menos 50% do transporte na China é feito por via rodoviária, o único modal porta a porta, e também porque “é difícil conseguir espaço nos trens”, modal administrado pelo governo.
Li Zhao Ji disse ainda que, depois do combustível, o maior custo para quem faz transporte rodoviário no país é o pedágio, seguido da mão de obra. As rodovias chinesas que tivemos oportunidade de conhecer são de ótima qualidade. Fazendo viagens que podem variar de dois mil a quatro mil quilômetros no país com tamanho de continente, um caminhoneiro ganha o equivalente a 1.300 dólares por mês, perto de R$ 3 mil.
Embora a idade média da frota nacional de caminhões seja relativamente baixa – de 3,5 a cinco anos –, esses veículos têm um aspecto envelhecido. Isso se deve ao duro regime de trabalho: os caminhões costumam rodar 24 horas, nas mãos de três motoristas que se revezam em turnos de oito horas, parando a cada quatro para meia hora de descanso.
Nas praças de pedágio existem sistemas eletrônicos de controle de jornada e as multas são pesadas, segundo Li Zhao Ji. O mesmo rigor, diz ele, é observado no controle de peso nas balanças. Mas, como acontece por aqui, vimos nas rodovias ao redor de Xi’an vários caminhões nitidamente com excesso de peso.
A Sinotrans é cliente da Shacman, segundo o executivo, porque seus caminhões são econômicos. A empresa segue a recomendação do fabricante e faz revisões preventivas nos veículos a cada oito mil quilômetros.
Apesar da poluição, os caminhões fabricados no país ainda seguem a norma Euro 3. A introdução dos motores Euro 4, menos poluentes, deve acontecer este ano.
Em outra cliente da Shacman, encontramos um panorama diferente. A concreteira Shaanxi Xiang Yang Concrete opera 24 horas para abastecer as inúmeras obras em andamento na cidade. Lá os motoristas rodam 12 horas, ou seja, são dois profissionais por caminhão, e o salário médio é equivalente a mil dólares.
Segundo ele, a maior parte das 25 betoneiras e oito basculantes é da Shacman porque neste ramo eles precisam de um caminhão robusto para suportar a operação.
Na China existem nada menos que 100 marcas de caminhões, mas apenas sete respondem por 85% do mercado, sendo as maiores a Foton, que também está instalando fábrica no Brasil, Faw, Sinotruk, Shacman, Dong Feng, Iveco e Bei-Ben.
CORREÇÕES: Na reportagem sobre a visita à China publicada na edição 173, dissemos que a Shacman produziu, em suas fábricas do Irã, Sudão, Etiópia, África do Sul, Cazaquistão e Malásia, 95 mil caminhões em 2013. Na verdade, essa foi a produção total da empresa no ano passado, incluindo a China.
Em outro trecho, publicamos que a Sinotruk tem, no Brasil, uma frota circulante de 2.122 caminhões do seu modelo A7. Esse número, porém, se refere a todos os modelos da marca já vendidos no Brasil, e não apenas ao A7.