É só esperar a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. E uma atividade que já dá bom dinheiro – a logística reversa – crescerá ainda mais
Quando o produto apresenta problemas técnicos e precisa retornar do consumidor ao fabricante para reparos ou simples devolução, entra em cena a logística reversa.
A criação de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos deve aquecer esta atividade, com uma legislação ambiental que cobrará maiores responsabilidades das empresas em relação ao ciclo de vida útil de seus produtos, a chamada destinação pós-consumo ou logística verde. Uma lei com esse fim já foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas ainda tem que ser submetida ao Senado para, então, chegar ao presidente da República.
Os números são enormes: o Brasil produz por ano 12 milhões de computadores, 80 milhões de telefones celulares e 20 bilhões – isso mesmo, 20 bilhões – de garrafas pet. “É preciso criar uma cadeia de logística reversa que envolva não apenas a coleta e o transporte, mas também empresas especializadas na reciclagem e, quando possível, no reaproveitamento destes produtos, além de investir na educação do usuário final”, diz o professor Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil e autor do livro “Logística Reversa, meio ambiente e competitividade” editado pela Pearson Education do Brasil (mais detalhes no site www.clrb.com.br).
Para ele, uma avenida de negócios se abre com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que impõe obrigações aos empresários, aos governos e aos cidadãos no gerenciamento no processo de recolhimento, desmontagem, reciclagem e destinação ambientalmente correta destes resíduos na fase pós-consumo.
Além disso, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes terão de colocar no mercado artigos recicláveis e que gerem a menor quantidade possível de resíduos sólidos.
A legislação, que tramita há 19 anos, faz referência especial aos agrotóxicos e óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; lâmpadas fluorescentes; produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
O problema é que, no retorno, o valor destes produtos despenca: “Um celular novo custa em média R$ 200, mas um quilo de celulares velhos não deve valer mais que R$ 1”, informa Ricardo Fógus, chefe do Departamento Comercial de Encomendas dos Correios, empresa líder da movimentação de logística reversa no Brasil, com 2,3 milhões de encomendas coletadas em 2009.
A saída, segundo ele, será prever, já no processo de fabricação, o uso de produtos facilmente recicláveis, estimular a criação de recicladoras por todo o país e embutir no preço de venda o custo do reaproveitamento: “No final, será o consumidor quem vai pagar a conta”.
A indústria de pneus já desenvolve um trabalho de logística verde por intermédio do Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis, que possui mais de 440 pontos de coleta pelo país e recolheu mais de 240 milhões de pneus desde 2007, quando foi lançada a Reciclanip, pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP). Após a coleta, o pneu é triturado e pode ser reaproveitado na forma de combustível alternativo para as indústrias de cimento, caldeiras ou ainda na fabricação de “asfalto ecológico”.
Comércio eletrônico cresce 40% ao ano
Enquanto a logística verde espera para virar lei, a demanda de compras a distância ou pela internet cresce 40% ao ano e aquece as operações de logística reversa. Nesses casos, como o cliente não vê o produto que está comprando, se ficar insatisfeito ele tem o direito de fazer a devolução em até uma semana.
O Correio, com mais de seis mil agências, possui um pré-requisito essencial para esse negócio: a capilaridade. Mesmo assim, enfrenta desafios. Um dos maiores problemas da logística reversa é a baixa eficiência da coleta domiciliária convencional: em 25% dos casos, o beneficiário não é encontrado no domicílio.
Os Correios elevaram esta taxa de eficiência estruturando essa coleta nas agências. “O consumidor recebe um código, um e-ticket, e se dirige a qualquer agência dos correios, na hora que for melhor para ele, para entregar a mercadoria a ser reparada ou devolvida”, explica Ricardo Fógos.
Outro operador logístico de destaque nesse segmento é a JadLog, que deve chegar até o final do ano com 500 filiais e franquias espalhadas pelo país. “A logística reversa está em crescimento não só por causa das compras a distância. Quando você faz a logística direta para um cliente, a reversa surge como consequência natural do atendimento”, explica o diretor da JadLog, Ronan Hudson.
Ele já trabalhou nos Correios e reclama da concorrência com a gigante estatal. “Além de não recolher alguns tributos e por isso cobrar tarifas impensáveis para uma empresa privada, eles não são parados nos postos de fiscalização.” Mesmo assim, a JadLog cresceu mais de 85% no ano passado e 65% apenas no primeiro trimestre deste ano.
Ricardo Fógos reconhece que o Correio é isento do ISS. “Em compensação, como empresa pública, temos obrigações que as empresas privadas não têm, como a carta social, pela qual o cidadão paga apenas R$ 0,01, e temos que ter agências em algumas regiões do país que não cobrem nem 20% dos custos operacionais.”