LUCIANO ALVES PEREIRA
O clamor geral se virou não contra o caminhão e seu condutor, mas contra “as autoridades que não conseguem estancar a carnificina”, termo usado pelo prefeito, que é novo e correu para as TVs e jornais prometendo assumir a operação da maldita travessia rodoviária da capital e “tentar resolver” a sequência de acidentes assombrosos. São 27,5 quilômetros, sob a jurisdição do DNIT federal, inaugurados em 1963 com objetivo de ligar as hoje BRs-040/381/262. A duplicação ocorreu em 1982 mas o traçado continuou o mesmo.
Os técnicos sabem que a solução do anel rodoviário de Belo Horizonte é cara e demorada. No final dos anos 1970, São Paulo padecia do mesmo mal. A Via Anhanguera vivia entupida com seus 40 mil veículos diários. A saída foi a construção da Rodovia dos Bandeirantes.
Por que os paulistas preferiram construir uma estrada nova e não ampliar a Anhanguera? Sim, havia dinheiro, mas o critério não se aplicaria a Belo Horizonte? Qualquer leigo percebe que a rampa da Betânia é muito inclinada. E recebe 100 mil veículos por dia. Aquilo é um precipício. Já a Rodovia dos Bandeirantes foi feita com rampa máxima de 4,5% e distância de frenagem de 145 metros.
Na rampa da Betânia o problema é grande. Sua faixa de domínio tem uns 10 mil ocupantes que precisariam ser reassentados para mudar a topografia.
Ali o que não falta é dispositivo de controle de velocidade e sinalização, mas isso não está diminuindo o ímpeto dos motoristas irresponsáveis. O tenente Barreiros, da Polícia Militar Rodoviária, presente no último grande acidente, reclamou às TVs que ninguém liga para os radares, quanto mais para as placas. José Natan, líder classista dos caminhoneiros, propõe encher o trecho de quebra-molas.
Confirmando a queixa do tenente, o inspetor (PRF) Émerson João Soares chega a se espantar com a disparada alucinada das carretas numa outra ‘via da desobediência’, a Fernão Dias, perto de Pouso Alegre (MG). Chega a haver cinco tombamentos diários naquela rodovia. E é duplicada! O caminhoneiro veterano Ericson Meireles, que anda por ali há 45 anos, resume que “a turma perdeu o respeito pela estrada”.
O engenheiro e consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto pega num ponto conhecido: falta mesmo é fiscalização “ostensiva”, permanente. Mas para isso é preciso gente. É nesse vazio que o azar prospera. Já José Aparecido Ribeiro, integrante da Comissão Técnica de Transporte da Sociedade Mineira dos Engenheiros, prescreve outro remédio: as malconhecidas rampas de escape, que permitem ao desembestado fugir da pista principal e jogar o caminhão/carreta numa caixa com pedra britada. O saudoso líder rodoclassista José Carneiro insistiu muito nessa tese. Em vão.