Venda de caminhões melhora, mas a aprovação de crédito é um grande dificultador de negócios
NELSON BORTOLIN
A 21ª Fenatran – Salão Internacional de Transporte Rodoviário de Cargas –, realizada de 16 a 20 de outubro em São Paulo, foi um sucesso. Nem tanto pelos negócios realizados lá, mas pelo simbolismo de marcar uma retomada mais forte da atividade econômica e a volta da confiança do transportador. As grandes montadoras voltaram à feira; em 2015, em plena crise, só Volvo e DAF compareceram.
Entre os balanços divulgados pelos expositores, alguns apresentaram números robustos. A Volvo diz ter feito vendas de R$ 600 milhões na feira, bem mais do que era esperado. E foram feitos contratos de serviços de longo prazo no montante de R$ 300 milhões.
A Ford não revelou o faturamento, mas disse que vendeu 800 caminhões, principalmente modelos para aplicações específicas. A Anfir, entidade dos fabricantes de implementos, anunciou vendas de 150 unidades leves e dois mil reboques e semirreboques. A associação esperava o fechamento das vendas de mais 1.200 produtos no pós-feira.
A melhora da economia e do volume de cargas, entretanto, não resolve o problema do crédito para quem quer comprar caminhões. Todos acham que o Finame ficará cada dia menos atrativo. Com a mudança da atual taxa TJLP para a TLP em 2018, não haverá mais subsídios do BNDES.
Neste 2017, os juros do Finame e os do CDC de bancos de varejo já se aproximaram bastante. Segundo o Banco Mercedes-Benz, a linha do BNDES tem taxas entre 0,90 e 1,1% ao mês, dependendo do perfil do cliente, e o CDC vai de 1% a 1,2% de juros.
O diretor comercial do banco, Diego Marin, disse que o Finame costumava financiar 80% das aquisições de caminhões, mas este ano não passou de 65%. “Claramente, o CDC e o leasing vêm ganhando força”, afirmou.
No fechamento desta edição, Marin aguardava uma circular do BNDES com as regras do Finame de 2018. “Sabemos que não será algo melhor. Mas precisamos desta definição para ver o que vamos fazer.”
De toda forma, Marin assegura que a indústria e as concessionárias estão preparadas para trabalhar com as linhas de crédito privadas na venda de caminhões. “Se o Finame não se viabilizar, teremos alternativas.”
Já para a DAF, o Finame tende a desaparecer. “Hoje, o Finame pode chegar a 13,7% de juros ao ano, mas você consegue CDC no mercado a 11%”, afirma o diretor comercial Luiz Gambim. Atualmente, 80% dos caminhões DAF são financiados por CDC.
CONCESSIONÁRIOS – Thiago Mar- çal, supervisor de Vendas da Ingá Veículos, concessionária Mercedes- -Benz em Londrina, diz que o mercado de caminhões vem se reaquecendo. “Noto que isso se deve ao fim do pagamento de financiamentos que os frotistas fizeram antes da crise. Hoje já faltam alguns modelos para entrega imediata”, conta.
Mas existem frotistas que não conseguem aprovação de crédito, mesmo estando adimplentes. “Se a empresa tem um financiamento para capital de giro, por exemplo, ela já vai ter dificuldade de ter seu crédito aprovado. Se usou cheque especial, nem se fala”, afirma Marçal. Segundo ele, 40% das propostas encaminhadas aos agentes financeiros são rejeitadas.
Fernando Xavier Mourão, gerente comercial da Treviso, concessionária Ford em Maringá, diz que o CDC está crescendo. Menos de 20% das vendas feitas na loja são por meio do Finame. “É uma tranquilidade não depender do Finame. Essa é a parte boa de 2017”, desabafa, lembrando que as concessionárias costumavam passar os finais de ano na ansiedade pela circular do BNDES para o ano seguinte.
Mourão considera que as empresas com as contas no azul começam a lançar mão dos consórcios para fazer a renovação de frota. “O consórcio é mais flexível na aprovação do crédito. Às vezes você tem uma restrição, mas, se tiver um contrato de carga, consegue ser aprovado”, explica. “O consórcio aceita caminhão antigo como garantia e também um avalista com mais facilidade”, complementa.
O BNDES ignorou os pedidos de entrevista feitos pela Carga Pesada. Até o fechamento desta edição, as regras do Finame para 2018 não tinham sido publicadas.
CONSÓRCIOS – O fim do crédito subsidiado pelo BNDES é má notí- cia para muita gente, mas não para os consórcios. Estima-se que essa modalidade, que movimentou R$ 1 bilhão em 2017, crescerá bastante em 2018.
O Consórcio Scania vive um momento excelente, apesar do ritmo lento de recuperação econômica. Na Fenatran, a empresa vendeu mais de R$ 50 milhões – negócios “100% Fenatran mostra reaq uecimento do mercado concretizados”, segundo o diretor comercial, Rodrigo Clemente.
O diretor considera que a crise deu “uma peneirada” no setor de transporte. “As empresas que não sucumbiram tornaram-se mais estruturadas e podem fazer planejamento de médio e longo prazo.”
Clemente diz que não há opção melhor que o consórcio para quem não tem pressa de usar o caminhão. “Ao diluir a taxa de administração em 100 meses, você vai ver que o valor é irrisório se comparado a qualquer taxa de juros no Brasil.