Não ter medo de se impor, mostrar sua competência e denunciar o machismo se for preciso. É com essa visão que o gênero feminino está ocupando seu lugar no transporte rodoviário de carga, seja na boleia ou nos escritórios. As mulheres estão aí para provar que, no dia a dia da profissão, não existe mais espaço para assédio, brincadeiras sem graça e misoginia. É o que pensam as empresárias Bárbara Calderani e Cristiane Rohloff.
“A nossa capacidade é infinita. Nós, mulheres, conseguimos fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Se alguém nos assedia, devemos mandar essa pessoa se colocar no lugar dela”, diz Bárbara, que é responsável pela área de Negócios e Recursos Humanos da Rodomaxlog Armazenagem e Logística.
Ela está indignada com o comportamento machista de torcedores brasileiros na Copa da Rússia. As cenas de jovens ensinando uma mulher russa a repetir palavras de baixo calão em português revoltaram a empresária. “Toda vez que acontece um absurdo desses a gente tem de divulgar. Eu compartilhei esse vídeo muitas vezes. A gente pensa que são pessoas esclarecidas, mas não são, estão fazendo uma idiotice tremenda”, comenta.
Apesar de ter começado a se envolver com o meio de transporte muito cedo – aos 14 anos já trabalhava como telefonista na empresa da família durante as férias escolares –, ela não se lembra de ter vivido situações de preconceito ou assédio em sua carreira como empresária. Mas diz que já sentiu preconceito no meio sindical. Bárbara é diretora do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo (Setcesp). “Nesse meio, os homens são mais velhos e às vezes a gente tem de lidar com o fato de eles duvidarem da nossa capacidade”, conta.
Bárbara diz que sempre contou com o apoio e a proteção do pai, o fundador da empresa, Ângelo Calderani Filho, que começou a vida entregando produtos da Bardahl em uma Kombi. “Meu pai trocou a Kombi por uma caminhonete e depois comprou o caminhão. Durante muito tempo, transportou a revista Veja, da Abril, de São Paulo para todo o País”, afirma. A Rodomaxlog, com sede em São Paulo, tem 40 anos e transporta carga fracionada e gás envasado.
A três meses de dar à luz o Mateus, seu primeiro filho, Bárbara já tem tudo planejado, inclusive uma sala na empresa já preparada para receber o bebê. Mas, no início, pretende dedicar-se integralmente à criança. “Depois do parto, devo ficar três meses afastada, mas vou acompanhar de casa, por e-mail, Skype, WhatsApp”, explica.
PAIXÃO – “Lugar de mulher é onde ela quiser”, diz a administradora da Transportes Rohloff, Cristiane Rohloff. Única mulher entre três filhos, todos trabalhando na empresa, ela garante que sempre recebeu o respeito da família e das demais pessoas com quem tem de lidar profissionalmente. Mas lamenta que o setor ainda seja muito masculino. “Tanto é que, até hoje, não conseguimos realizar o sonho de ter uma mulher como motorista de caminhão”, afirma. Casada há poucos meses, ela planeja ter filhos. Mas não pensa em parar de trabalhar. “Não me imagino longe da empresa por mais de um mês.”
Cristiane acredita que a empresa, que transporta grãos e tem sede em Santa Cruz do Sul (RS), um dia será administrada pelos filhos dela e dos irmãos. Para continuar crescendo, ela aposta no consórcio. “É um investimento para o futuro e sabemos que vamos colher os frutos lá na frente.”
O consórcio Scania é um parceiro constante desde o início da transportadora, há 20 anos. Foi por meio dele que o fundador, Hugo Rohloff, comprou seu primeiro veículo, um 113, que mantém até hoje. Desde 2015, a família vem recebendo motivação extra para apostar nesta modalidade. Naquele ano, seu Hugo ganhou um R 440 zero-quilômetro num sorteio do Consórcio Scania. Pé-quente, em outubro do ano passado, em novo sorteio, ganhou outro zero-quilômetro da marca, também R 440.
Com esse segundo veículo, o empresário levou a filha para se casar na igreja menos de um mês depois, em 11 de novembro. Os caminhões Scania serviram de inspiração para a festa. O sapato da noiva ganhou pintura especial na cor do primeiro 113 da família. As alianças foram levadas para o altar dentro de uma miniatura do veículo. O bolo também foi personalizado com a imagem do 113, assim como os canecos de chope, que ganharam caricatura dos noivos com o Scania. “Quando meu pai comprou o primeiro caminhão, eu tinha 6 anos de idade. Cresci viajando e aprendendo com ele que a gente tem de ter amor pelo que faz”, explica Cristiane.