Quem quiser reforçar a necessidade de sinal de celular nas estradas deve participar do processo
Nelson Bortolin
A sociedade brasileira tem até o dia 2 de abril para apresentar sugestões na consulta pública aberta pelo governo para o leilão da tecnologia de quinta geração (5G) no Brasil. Uma das contrapartidas que deverão ser exigidas as vencedoras da licitação será levar telefonia celular para as rodovias federais.
“A cada 10 km que o caminhoneiro roda nas áreas rurais e remotas do Brasil, ele tem cobertura de sinal de celular em apenas um quilômetro”, afirma Gregory Riordan, diretor de Tecnologias Digitais da CNH Industrial para a América do Sul.
“Deve haver uma mobilização para a consulta pública de modo que a contrapartida (de quem ganhar o leilão) venha em forma de uma rede celular nos lugares remotos”, complementa Renato Coutinho, especialista em Conectividade da mesma empresa.
Indicar com precisão onde se encontram os veículos é apenas uma das possibilidades que as tecnologias embarcadas oferecem. “Um dos nossos maiores desafios é fazer com que a tecnologia represente melhora na eficiência para os clientes”, afirma Riordan.
Com a falta de sinal de celular, a montadora, que detém a marca de caminhões Iveco – é obrigada a desenvolver alternativas. “Criamos mecanismos dentro das cabines. São dispositivos, como alarmes, que passam informações para os condutores sem que os equipamentos estejam conectados”, conta.
Em vez de mandar informações pela internet, os próprios equipamentos as interpretam. “O condutor consegue tomar decisões mesmo sem o celular. Mas é claro que, com o veículo conectado, a gente potencializa em muito o uso de informações a distância”, diz Riordan.
Coutinho ressalta que, sem sinal de celular, fica comprometido, por exemplo, o envio de códigos de falhas dos equipamentos para as centrais de monitoramento. Outros mecanismos como pilotos automáticos perdem sua função. “Temos máquinas que atuam em rotas pré-estabelecidas, mas que precisam de correções que são enviadas por GPS.” Sem sinal, essas correções não são feitas.
Questionado se a tecnologia celular pode ser substituída pela satelital, os representantes da CNH explicam que “nem sempre”. Além de ser mais cara, a transmissão por satélite não permite o envio de informações mais pesadas. “Não dá para fazer serviços de manutenção a distância (conectado por satélite) porque a capacidade de banda é mais restrita. Satélites são soluções importantes para quando a gente não precisa tanto de banda”, explica Riordan
Ele ressalta que a tecnologia ideal para os locais remotos é a de 700 MHz, que vem sendo utilizada num projeto do qual a CNH é parceira, o ConectarAgro.
META AMBICIOSA
Lançado na Agrishow do ano passado, o ConectarAgro já levou conectividade banda larga 4G da TIM para 5,1 milhões de hectares de áreas rurais em 2019, o que acaba gerando sinal também para as rodovias no entorno dessas áreas.
Segundo Niumar Aurélio, supervisor de marketing de tecnologia da AGCO América do Sul, outra integrante do projeto, a meta é chegar a 60 milhões de hectares. “O campo e as estradas se utilizam da sobra que vem da cidade. Precisamos mudar isso”, afirma.
O supervisor explica que o ConectarAgro é financiado nos moldes da eletrificação da zona rural há décadas atrás. “Há um modelo de coparticipação já que, no meio rural, há menos usuários o que faz o serviço de telecomunicações ter um retorno mais demorado”, explica.
Quem comercializa o serviço é a TIM. “Nós, os demais parceiros, garantimos que a nossa tecnologia seja compatível com o 4G de 700 megharts”, explica.
Quem quiser conhecer e participar da consulta pública deve baixá-la clicando aqui.
Brasil se prepara para 5G, mas estradas sequer têm tecnologia antiga