Luciano Alves Pereira
No Brasil de 1977, o governo baixou normas para multar os caminhões diesel que estivessem soltando fumaça mais densa e fora do cinza da retícula gráfica do padrão 2 do conhecido Cartão-Índice da Escala Ringelmann (Decreto 79.134, de 17 de janeiro).
Os motores do sr. Rudolf consumiam combustível S-1.800 ou com mais enxofre e a concepção da queima e descarga dos gases poderia ser apelidada de Euro zero. Embora a norma ainda não existisse, os fabricantes reforçavam que fumaça preta “era desconfortável, mas não poluía”. Malignos eram os motores do ciclo Otto a gasolina, pelos seus escapamentos venenosos. Eles chegavam a ser lembrados pelo seu uso cruel nas câmaras de gás dos nazistas, durante a 2ª. Guerra Mundial (década de 1940).
O alvo do decreto do governo era o desperdício de combustível, já na fase pós-primeiro choque do petróleo. Visava o combate à ‘mexeção na bomba injetora mecânica’ e concomitante rompimento do lacre de fábrica ou da Bosch, quando o componente passasse por manutenção pós-garantia.
Como a dieselização tomou conta do país a partir da década 1960, muita gente garantia que os populares motores OM-352 da Mercedes, melhoravam os seus 130 cv com o aumento do débito na injetora. O certo é que com ou sem lacre, narizes cheiraram fumaça espessa, inclusive multidões de passageiros de ônibus, único transporte coletivo no Brasil continental. Sem deixar de destacar os funcionários de retíficas, oficinas mecânicas, frentistas de postos de abastecimento, etc.
Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) fala em nocividade gasosa, o que seria desses milhões de expostos às emissões da combustão diesel? No correr dos últimos 60 anos, já teriam surgido estatísticas clínicas locais a suspeitar da existência de relação de causa e efeito entre a fumaça do motor e o câncer nos pulmões. O boca-a-boca da estrada nunca deixaria passar em branco.
Mas bem acima do eventual zum-zum estradeiro, situa-se a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer, braço da OMS, esta relacionada com as Nações Unidas. Apesar de seu envolvimento político, a instituição soltou um alerta ao mundo, afirmando que há evidências entre os gases provenientes da combustão diesel e a ocorrência de câncer nos pulmões de pessoas expostas aos respectivos escapamentos.
Institutos americanos, ligados à saúde, promoveram um ensaio clínico de um grupo de mineiros submetidos à aspiração de fumaça preta, no ambiente fechado de minas. O resultado foi publicado em março e solto assim, pega a pose de verdade científica, embora não se lhe conheçam detalhes. Por exemplo, que motores produziram os gases? Qual a especificação do combustível diesel?
Para confrontar os ‘achados’ do OMS, o Fórum de Tecnologia Diesel (FTD) americano destacou que “os motores diesel nos EUA estão sujeitos a severas restrições quanto a emissões” e apresentou outro ensaio em que foram avaliados os efeitos dos gases de motores diesel sobre ratos. O propulsor ‘emissor’ foi montado conforme a norma americana EPA-2007, similar à Euro 3.
O trabalho concluiu que “foram mínimos os efeitos genético-mutacionais diante da exposição às respectivas emissões”. O estudo foi patrocinado pela Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos EUA (EPA), Conselho de Recursos do Ar da Califórnia e fabricantes de motores, entre outros. Para Allen Schaeffer, diretor executivo do FTD, “isso não surpreende porque a comunidade relacionada com conjuntos diesel, fabricantes de veículo e refinadores de petróleo vêm investindo bilhões de dólares em pesquisa e desprendido continuados esforços para reduzir as emissões”.
Para ele, “a tecnologia resultante vale-se da sinergia de propulsores avançados, tocados a combustível de ultra-baixa presença de enxofre, de forma que tais máquinas liberam quase zero de gases com presença de óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e material particulado”. Como acrescentou, “levantamento mais recente da EPA mostra que menos de 6% de todas as partículas em suspensão no ar têm origem na queima do diesel e atualmente, a maior parte da fuligem encontrada no ar do sul da Califórnia provém do desgaste dos pneus e do material de frição dos freios.