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‘É melhor ser empregado’, dizem motoristas

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Caminhoneiros estão desanimados com preço do diesel, frota envelhecida e falta de apoio à categoria

Nelson Bortolin e Leiliani Peschiera

Os caminhoneiros autônomos nunca estiveram tão desanimados e com vontade de virar empregado ou mudar de profissão. É o que apurou a reportagem da Revista Carga Pesada em conversa com os profissionais, em meados de abril, no Posto Portelão, em Cambé (PR).

“Quando eu trabalhava de empregado, tirava um pouco menos, mas não me preocupava com diesel, nem pneu. Simplesmente pensava em trabalhar”, afirma o curitibano Everson Pires Claro, 41 anos, 18 deles na estrada. Com seu Ford Carga, 2007, ele transporta “de tudo” pelo aplicativo de fretes Fretebras.

Antônio Pereira de Souza Júnior

Claro se sente pessimista em relação ao futuro. E alega que não está “vendo nada do que o presidente Jair Bolsonaro prometeu” à categoria na eleição de 2018. Mas mantém o apoio ao mandatário. “Ele tirou os impostos do diesel. Os governadores não baixam o ICMS.”

Quem não quer mais saber do presidente é Antônio Pereira de Souza Júnior, 39 anos, de Cambé. “Meu apoio Bolsonaro não tem mais. Estamos trabalhando para comer e manter o veículo rodando. Quem consegue rodar com o caminhão com o diesel a R$ 6,49?”, questiona ele, que é dono de um Mercedes-Benz 1313, ano 1979, e transporta produtos alimentícios e embalagens. “O diesel era para estar no máximo R$ 4. Estamos abandonados pelo governo. Só os grandes transportadores ganham dinheiro. Nós estamos enxugando gelo.”

Souza Júnior trocaria a vida de autônomo por um emprego de motorista. “Quem trabalha num truck, como é meu caso, ganha R$ 3,5 mil e não precisa se preocupar com mais nada. Hoje está valendo mais a pena ser empregado.”

No dia que conversou com a Revista Carga Pesada, ele havia feito um trabalho como chapa. O paranaense calcula que ganha uns R$ 4,5 mil “líquidos”. Deste valor, precisa tirar a manutenção do veículo. “Comprei dois pneus esses dias. Gastei R$ 1,8 mil”, conta.

Já Dirceu da Silva Pinto, 58 anos, autônomo de Campo Largo (PR), quer achar outra profissão. “Mexer com caminhão não está dando mais. Tinha um plano de comprar um mais novo.” Ele tem um Scania, ano 1977, com o qual transporta “de tudo”, inclusive grãos. “Acontece que a gente não consegue fazer financiamento. A gente não tem a papeleira que eles pedem. Se eu conseguisse uma ferramenta de trabalho melhor, eu dava um jeito de continuar. Mas do jeito que está preciso mudar de ramo.” O motorista ainda não sabe o que vai fazer da vida.

Dirceu da Silva Pinto

Aos 68 anos, Jair Adão, de Curitiba, está parando de trabalhar. Ele transporta leite e farinha no seu Ford Cargo, ano 1997. “A gente vê o manifesto do frete. Está lá R$ 5 mil. Passam R$ 2 mil, R$ 2,5 mil para a gente. Ganham metade do frete no escritório.”

Adão está aposentado e trabalha para complementar a renda. “É difícil viver com R$ 1,8 mil (do INSS). Faço dois fretes por semana para melhorar o padrão de vida.”

O curitibano acredita que toda a categoria está desacorçoada. “Na minha opinião, vai piorar mais. Onde já se viu o litro do óleo a 6,5 contos?”

Jair Adão

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