Sandra Casagrande Polo viajou com o marido até que o filho teve que ir para a escola. Mas não se afastou do transporte de cargas
Rosilene Pozza
Foram nove anos na estrada, acompanhando o marido. Com o que aprendeu, ela passou a gerenciar a transportadora da família. Sandra Casagrande Polo, de São Marcos, na Serra Gaúcha, começou a viajar com Fernando aos 22 anos, e pegava o volante quando ele precisava descansar. Começaram sem caminhão próprio. A prioridade era construir uma casa. Fizeram. E, em 1998, compraram um 111 Scania.
A gravidez não afastou Sandra da estrada. Quando Daniel fez seis meses (hoje tem 19 anos), também passou a acompanhar Fernando no caminhão pelo país. Daniel tem uma irmã, Rafaela, de 12 anos.
“Criei o menino dentro do caminhão, até ele ir para a escola, aos sete anos”, conta Sandra, destacando que o filho já é carreteiro.
Desde 2002, ela é gerente da Polomar Transportes e lembra com saudade do tempo que passou viajando e conhecendo o Brasil. “A estrada não é fácil, mas eu ia com meu marido e meu filho, a família unida, conhecia lugares diferentes. Não havia o conforto de agora, não tinha ar-condicionado, só um ventiladorzinho. Fazia comida na gaveta do caminhão.”
Dos locais que conheceu, ressalta Goiânia (GO) como uma das cidades que mais gostou. Sandra lembra que a preocupação com a segurança nas estradas era menor e que hoje há outras razões para a esposa não acompanhar o marido caminhoneiro. “O frete está muito barato, as mulheres procuram outro trabalho para a família ter mais uma renda”, explica.
Agora, enquanto Fernando conduz um Scania R 400, viajando principalmente para o Norte do país, Sandra administra os negócios da família em São Marcos. “Compro, vendo, acerto as cargas. É tudo comigo.”
A empresa tem três caminhões e dois funcionários. Ela calcula que o filho Daniel poderá ocupar seu lugar em breve, porque tem outros planos. Mesmo dizendo que gosta do que faz, Sandra voltou a estudar e quer fazer o curso técnico de enfermagem – uma área em que deseja trabalhar.
A gaúcha aponta como problema no setor de transporte rodoviário de cargas a falta de bons profissionais, de motoristas que valorizem esse trabalho. Também admite existir preconceito com a mulher ao volante, mas lembra que as mulheres têm se destacado muito em todas as funções que ocupam.
“Se a mulher decide realizar algo, ela vai de corpo e alma. É guerreira! Consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo. É diferente do homem”, completa.