No embalo da notícia do lançamento do primeiro caminhão autônomo brasileiro, apresentado em uma usina de cana no Norte do Paraná, cabe perguntar: afinal, como os empresários e caminhoneiros veem o futuro da atividade?
O Consórcio Scania procurou dar uma contribuição ao debate sobre o futuro do transporte de cargas criando o projeto #NXTGEN, voltado para as próximas gerações de empresários do transporte. Um grupo de 30 sucessores participou, no primeiro semestre, de palestras, visitas e viagens internacionais para ter contato com tendências do setor em modelos de gestão, tecnologias, conectividade e sustentabilidade. “Todo o legado dos 35 anos do Consórcio Scania foi construído em torno do relacionamento, sempre buscando contribuir com o negócio dos nossos clientes”, explica a diretora geral do Consórcio Scania, Suzana Soncin.
“O projeto #NXTGEN é mais um passo nesse sentido pois queremos estar ao lado dos nossos clientes nos próximos 35 anos. Entendemos que é muito importante despertar nos sucessores e nas futuras gerações o interesse e o foco no negócio dos transportes, um setor muito rico e cheio de oportunidades a serem exploradas ainda. Num momento de desafios como o que estamos vivendo, o Consórcio Scania quer contribuir com a perenidade e o do negócio dos nossos clientes.”
Um dos parceiros do projeto #NXTGEN é a escola sueca Hyper Island, que está mudando os conceitos de educação executiva, difundindo ideias como empoderamento, rede mundial de executivos, aceleração digital e estudos de casos reais. Outro parceiro na área de educação executiva, que também propõe uma nova forma de ensinar e aprender para enfrentar um ambiente em constante transformação, é o Enlight, cujo foco de trabalho é atualizar os acionistas e conselheiros com as ferramentas, os fundamentos e a mentalidade necessários para entender e promover a sucessão, a governança e a transformação digital.
Gente nova num setor tradicional
Ramon Zuqui Paganini, herdeiro da empresa capixaba Jolivan Transportes, voltou empolgado do #NXTGEN. Ele contou que praticamente todos os participantes eram de empresas familiares e que, no Brasil, há uma carência de conhecimento quanto à sucessão familiar. “Está vindo uma turma nova num setor muito tradicional. Nossas empresas foram fundadas por ex-caminhoneiros”, ressalta. Por causa disso e devido a uma revolução que está por acontecer, ele argumenta que as gerações precisam se preparar para evitar conflitos.
Formado em Administração e com apenas 30 anos, Paganini divide a gestão da empresa com o pai, de 60 anos. “Apesar de ter um pensamento jovem e estar aberto a novas tendências, meu pai tem o dobro da minha idade, então é natural que existam visões diferentes”, conta. Essas diferenças são sanadas com muito diálogo. “Nossa relação é bem saudável”, ressalta.
Sobre a experiência proposta pelo Consórcio Scania, ele reflete: “O futuro do caminhão pode nem ser o caminhão. Será uma coisa que obviamente vai levar carga, mas não no formato que conhecemos”. Entre os protótipos que viu nas viagens pela Suécia e Holanda, como parte da programação de visitas, ele viu veículos sem cabine, com motor embaixo e caçamba em cima.
William Zucolote de Oliveira, sócio da Ebmac Transporte e Logística, de Cambé (PR), diz que foram dias de muito aprendizado. “O trabalho foi focado em alguns tópicos, principalmente na sucessão na empresa familiar e nas tendências tecnológicas”, conta. Ele ressalta o quanto o transporte na Europa está à nossa frente. “O avanço deles na questão da conectividade, do uso da internet, é impressionante”, afirma.
Empolgado com os conhecimentos adquiridos, Oliveira já está tentando implantar algumas novas ideias em sua empresa. Em parceria com uma startup, está desenvolvendo geradores de vórtices aerodinâmicos para serem acoplados na carreta. “Eles podem reduzir o arraste e economizar combustível”, conta. Na Europa, ouviu falar em até 5% de queda de consumo. “Vamos ver se isso acontece.” Autointitulando-se “puxa-saco” da Scania, ele elogia a montadora pela preocupação com as empresas de seus clientes. “Estão sempre procurando desenvolver produtos e ações que nos ajudem a melhorar nossos negócios.”
Sérgio Cordiolli, diretor operacional da Cordiolli Transportes, de Maringá (PR), ressalta que a Scania tem insisti do no tema da conectividade. “Aprendemos que temos de criar nas nossas empresas comitês de transformação digital. E reunir esse comitê toda semana.” Na parte de sucessão, Cordiolli diz que os palestrantes ressaltaram muito a importância da sucessão ser baseada no mérito do sucedido participar de todo o processo. “O sucedido tem a experiência de anos e anos de trabalho, tem uma forma diferente
de olhar os problemas, mas é possível conciliar as duas visões.” Ele acredita que sua empresa esteja trabalhando a sucessão da forma correta, uma vez que o fundador, Laurindo Cordiolli, aos 80 anos, ainda participa do dia a dia da empresa.